31 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CDVIII: A doce nostalgia de Bafatá (BCAÇ 2856, 1968/70)

Caro Luís Graça,

Tomei conhecimento do seu site sobre a Guiné, o que me deu uma certa nostalgia do tempo que por lá passei.

Sou o ex-Furriel Miliciano Tavares, Radiomontador, do Batalhão de Caçadores 2856 que esteve em Bafatá, de 1968 a 1970.

Junto em anexo algumas fotos dessa altura e que, caso tenham interesse para juntar ao site, está por mim autorizado a fazê-lo. Tenho mais exemplares caso esteja interessado, mas são fotos de grupo, em lazer.

A referência das fotos vai embebida nas propriedades das mesmas.

Com os melhores cumprimentos e os votos de Boas Festas,

Jorge Tavares


1. Comentário de L.G.:

Tenho um especial afecto pela doce Bafatá que eu conheci ao longo da minha comissão, na CCAÇ 12 (1969/71). Bafatá era a única escapadela que nós tínhamos, nos escassos intervalos da nossa intensa actividade operacional no Sector L1 (Bambadinca). Muitas vezes à civil e sem armas, lá arrancávamos nós, de Bambadinca, de manhã cedo, a caminho do "bife com batatas fritas" da Transmontana e das nossas amigas de Bafatá (Quem não se lembra da alegre e doce Helena, amante de inúmeros batalhões que passaram pela zona leste, que eu um dia destes vou pôr na galeria dos meus heróis da guerra colonial ?!... ).

Pois fico muito sensibilizado com a vinda de mais um tertuliano, ainda por cima da zona leste, da minha zona, do chão fula, da terra dos meus nharros... É muito provável que eu e o Jorge nos tenhamos cruzado em Bafatá. De qualquer modo, estou-te muito obrigado pelas fotos que nos enviaste e que vão, seguramente, enriquececer a memória desse lugar que ainda temos no coração e que era a Bafatá, de pitorescas casas colonais, de ruas direitas e limpinhas, de gente afável e tranquila, que nós ainda tivémos o privilégio de conhecer...

Jorge: está intimado a voltar a comparecer aqui, depois do Ano Novo!... E, como já, percebeste, nesta tertúlia todos os camaradas e amigos se tratam por tu... É um das poucas regras que temos e que respeitamos.


Guiné > Bafatá > 1968> A rua principal (alcatroada, como todas as demais) da doce e tranquila Bafatá, com as suas casas de arquitectura tipicamente colonial. Ao fundo era o mercado e cortava-se à direita, para a piscina. Na primeira à direita, ficava o Restaurante A Transmontana. Do lado esquerdo, no início da foto, ficava a casa do Administrador e os CTT. A meio, a rua era cortada pela estrada que ligava a Geba (Reconstituição do Humberto Reis).


A bordo do navio (Niassa ou Uíge), a caminho da Guiné > 1968 > Furriéis milicianos da CCS do BCAC 2856 (Bafatá, 1968/70). O Jorge Tavares é o segundo, a contar da direita. E o Manuel Cruz é o primeiro, do lado esquerdo.


Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Pessoal do BCAÇ 2856, à chegada ... O Jorge Tavares é o que está com a mão à cintura, expondo o relógio e o anel de casado, a seguir ao porta-estandarte... (Reconstituição do Humberto Reis).


Guiné >Bissau > 1968 > Desfile, à chegada, do BCAÇ 2856, colocado em Bafatá, Zona Leste

Guiné > Bafatá > Messe de sargentos >A Jantar de Natal de 1968 > Pessoal da CCS do BCaç 2856 em confraternização. "Da esqerda para a direita: fur mil Sousa e Silva, fur mil Abrantes, fur mil Cabrita, fur mil Abrantes, fur mil Cruz (Shemeiks), fur mil Ramalho, cabo corneteiro (?), fur mil Pinto, fur mil pelotão de morteiros (?), fur mil pelotão de morteiros Subtil, fur mil Pereira, fur mil Saúde, fur mil Cruz, fur mil Guilherme (Rodinhas), eu (fur mil Tavares) e fur mil Carneiro. Os nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda" (Jorge Tavares).

Guiné > Bafatá > O furriel miliciano de transmissões Tavares, da CCS do BCAÇ 2856 (1968/70), à civil, no Jardim de Bafatá... Com o Rio Geba ao fundo.

2. Comentário de Humberto Reis:

Jorge Tavares

Sê BEM VINDO a esta Tertúlia. Tu se calhar tu não te lembras de mim mas eu recordo-me de ti. Moravas ali para a zona do Rego (em Lisboa, para os que não conhecem) e foste meu contemporâneo na Escola Industrial Afonso Domingues , no fim da década de 50 princípio da de 60. Apanhavas o comboio no Rego até Marvila para ires para a escola e eu já vinha no comboio desde Campolide.

É daí, de Campolide, do tempo da Escola Primária nº 13, na Rua das Amoreiras, que conheço o Manuel Evaristo Trindade Cruz, que casou com uma das libanesas, filha da D. Rosa, e era o furriel miliciano sapador da CCS do teu Batalhão.

Como vês isto é uma Aldeia Grande e ao fim de 45 anos voltamos a contactar. Nas fotos não consta nenhuma legenda identificativa dos elementos que lá aparecem, mas tu és o 2º a contar da direita.

Um Grande Abraço de Boas Vindas
Humberto Reis

3. Respoosta do Jorge Tavares:


Caro Humberto,

Fiquei surpreendido pela tua memória. De facto sou quem tu dizes, ou seja morava no Rêgo e andei na Afonso Domingues de 57 a 60. Peço desculpa por a minha memória não ser tão boa como a tua, mas não me recordo de ti dessa época. Eu era muito novo e acompanhava o meu irmão e os seus colegas. Ele era mais velho e andava um ano à minha frente. Penso que és capaz de te recordares dele porque era conhecido pelo “capicua”. Infelizmente faleceu em Agosto de morte súbita.

Volto a enviar a foto do jantar de Natal de 1968 na messe de sargentos com a respectiva leghenda (...)., a qual passo a legendar: nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda. Nas outras fotos, caso estejas interessado, também é possível identificar alguns camaradas.

Créditos fotográficos: Jorge Tavares (2005)

Guiné 63/74 - CDVIII: A doce nostalgia de Bafatá (BCAÇ 2856, 1968/70)

Caro Luís Graça,

Tomei conhecimento do seu site sobre a Guiné, o que me deu uma certa nostalgia do tempo que por lá passei.

Sou o ex-Furriel Miliciano Tavares, Radiomontador, do Batalhão de Caçadores 2856 que esteve em Bafatá, de 1968 a 1970.

Junto em anexo algumas fotos dessa altura e que, caso tenham interesse para juntar ao site, está por mim autorizado a fazê-lo. Tenho mais exemplares caso esteja interessado, mas são fotos de grupo, em lazer.

A referência das fotos vai embebida nas propriedades das mesmas.

Com os melhores cumprimentos e os votos de Boas Festas,

Jorge Tavares


1. Comentário de L.G.:

Tenho um especial afecto pela doce Bafatá que eu conheci ao longo da minha comissão, na CCAÇ 12 (1969/71). Bafatá era a única escapadela que nós tínhamos, nos escassos intervalos da nossa intensa actividade operacional no Sector L1 (Bambadinca). Muitas vezes à civil e sem armas, lá arrancávamos nós, de Bambadinca, de manhã cedo, a caminho do "bife com batatas fritas" da Transmontana e das nossas amigas de Bafatá (Quem não se lembra da alegre e doce Helena, amante de inúmeros batalhões que passaram pela zona leste, que eu um dia destes vou pôr na galeria dos meus heróis da guerra colonial ?!... ).

Pois fico muito sensibilizado com a vinda de mais um tertuliano, ainda por cima da zona leste, da minha zona, do chão fula, da terra dos meus nharros... É muito provável que eu e o Jorge nos tenhamos cruzado em Bafatá. De qualquer modo, estou-te muito obrigado pelas fotos que nos enviaste e que vão, seguramente, enriquececer a memória desse lugar que ainda temos no coração e que era a Bafatá, de pitorescas casas colonais, de ruas direitas e limpinhas, de gente afável e tranquila, que nós ainda tivémos o privilégio de conhecer...

Jorge: está intimado a voltar a comparecer aqui, depois do Ano Novo!... E, como já, percebeste, nesta tertúlia todos os camaradas e amigos se tratam por tu... É um das poucas regras que temos e que respeitamos.


Guiné > Bafatá > 1968> A rua principal (alcatroada, como todas as demais) da doce e tranquila Bafatá, com as suas casas de arquitectura tipicamente colonial. Ao fundo era o mercado e cortava-se à direita, para a piscina. Na primeira à direita, ficava o Restaurante A Transmontana. Do lado esquerdo, no início da foto, ficava a casa do Administrador e os CTT. A meio, a rua era cortada pela estrada que ligava a Geba (Reconstituição do Humberto Reis).


A bordo do navio (Niassa ou Uíge), a caminho da Guiné > 1968 > Furriéis milicianos da CCS do BCAC 2856 (Bafatá, 1968/70). O Jorge Tavares é o segundo, a contar da direita. E o Manuel Cruz é o primeiro, do lado esquerdo.


Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Pessoal do BCAÇ 2856, à chegada ... O Jorge Tavares é o que está com a mão à cintura, expondo o relógio e o anel de casado, a seguir ao porta-estandarte... (Reconstituição do Humberto Reis).


Guiné >Bissau > 1968 > Desfile, à chegada, do BCAÇ 2856, colocado em Bafatá, Zona Leste

Guiné > Bafatá > Messe de sargentos >A Jantar de Natal de 1968 > Pessoal da CCS do BCaç 2856 em confraternização. "Da esqerda para a direita: fur mil Sousa e Silva, fur mil Abrantes, fur mil Cabrita, fur mil Abrantes, fur mil Cruz (Shemeiks), fur mil Ramalho, cabo corneteiro (?), fur mil Pinto, fur mil pelotão de morteiros (?), fur mil pelotão de morteiros Subtil, fur mil Pereira, fur mil Saúde, fur mil Cruz, fur mil Guilherme (Rodinhas), eu (fur mil Tavares) e fur mil Carneiro. Os nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda" (Jorge Tavares).

Guiné > Bafatá > O furriel miliciano de transmissões Tavares, da CCS do BCAÇ 2856 (1968/70), à civil, no Jardim de Bafatá... Com o Rio Geba ao fundo.

2. Comentário de Humberto Reis:

Jorge Tavares

Sê BEM VINDO a esta Tertúlia. Tu se calhar tu não te lembras de mim mas eu recordo-me de ti. Moravas ali para a zona do Rego (em Lisboa, para os que não conhecem) e foste meu contemporâneo na Escola Industrial Afonso Domingues , no fim da década de 50 princípio da de 60. Apanhavas o comboio no Rego até Marvila para ires para a escola e eu já vinha no comboio desde Campolide.

É daí, de Campolide, do tempo da Escola Primária nº 13, na Rua das Amoreiras, que conheço o Manuel Evaristo Trindade Cruz, que casou com uma das libanesas, filha da D. Rosa, e era o furriel miliciano sapador da CCS do teu Batalhão.

Como vês isto é uma Aldeia Grande e ao fim de 45 anos voltamos a contactar. Nas fotos não consta nenhuma legenda identificativa dos elementos que lá aparecem, mas tu és o 2º a contar da direita.

Um Grande Abraço de Boas Vindas
Humberto Reis

3. Respoosta do Jorge Tavares:


Caro Humberto,

Fiquei surpreendido pela tua memória. De facto sou quem tu dizes, ou seja morava no Rêgo e andei na Afonso Domingues de 57 a 60. Peço desculpa por a minha memória não ser tão boa como a tua, mas não me recordo de ti dessa época. Eu era muito novo e acompanhava o meu irmão e os seus colegas. Ele era mais velho e andava um ano à minha frente. Penso que és capaz de te recordares dele porque era conhecido pelo “capicua”. Infelizmente faleceu em Agosto de morte súbita.

Volto a enviar a foto do jantar de Natal de 1968 na messe de sargentos com a respectiva leghenda (...)., a qual passo a legendar: nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda. Nas outras fotos, caso estejas interessado, também é possível identificar alguns camaradas.

Créditos fotográficos: Jorge Tavares (2005)

Guiné 63/74 - CDVII: Em perigos e guerras esforçados...


Guiné > Barro > 1970 (?) > Monumento em homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro João Baptista da Slva, da CART 2412, morto em combate, em Bigene, em 21 de Setembro de 1968.

Mandado erigir, em Barro, pela CART 2412 (1968/70)

© Afonso M. F. Sousa (2005)


1. Achei bonito o gesto do nosso camarada Afonso Sousa (ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412, que andou por Bigene, Binta, Guidage e Barro, nos já longínquos anos de 1968/70) de se lembrar de um camarada morto em combate, em Bigene, e que os seus camaradas não quiseram esquecer, erigindo-lhe um singelo monumento de homenagem... (Será que resistiu ao tempo e às intermitências da guerra e da paz, do ódio e do amor ? Será que ainda hoje pode ser fotografado em Barro ?).

Raramente falamos deles, dos nossos mortos, dos mais de dois mil camaradas que não voltaram connosco, na viagem de regresso à pátra, a casa (e dos quais cerca de 1240 cairam em combate).
No final do ano de 2005, no ano da fundação da nossa tertúlia de amigos e camaradas da Guiné, é bonito, e mais do que bonito, é justo que nos lembremos dos nossos mortos. Há muitas maneiras de os evocar, pela imagem e pela palavra. E quem souber rezar, que reze (sempre) por eles. Eu, que não sou crente, também rezo por eles, à minha maneira, trazendo aqui, e por sugestão do Afonso Sousa, as duas primeiras estrofes do Canto I dos Lusíadas, do nosso genial (e às vezes tão mal amdado...) Luís de Camões:


As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.


Os Lusíadas (I, 1-2)

A presente foto também foi inserida na página do nosso camarada Jorge Santos, sobre A Guerra Colonial, na secção "Monumentos", por sugestão do Afonso Sousa, iniciativa de um e outro que eu sou o primeiro a aplaudir. L.G.

2. Mensagem do Afonso Sousa:

Obrigado ao "grande" Luis Graça pela gentileza das palavras que teve a amabilidade de inserir como moldura desta lembrança singela.

Para o fim a que nos propusemos não poderiamos ter tido melhor sorte. O Luis é o homem certo no lugar certo ! ...e reparem que estes trabalhos já são referência na WIKIPÉDIA !...

Já agora aproveitava para pedir ao querido amigo A. Marques Lopes se poderia confirmar-nos se na sua última estada em Barro pôde verificar se este monumento ainda lá existia (situava-se junto à picada Bigene-Barro, a cerca de 50 m do edifício da secretaria e comando, para o lado de Bigene e logo a seguir à enorme mangueira contígua ao edifício).

3. Resposta do A. Marques Lopes:

Amigo Afonso Sousa

Não, esse monumento já não estava lá em 1998, quando estive em Barro. Na altura não deu para falar sobre essas coisas (eu desconhecia, aliás, a existência desse monumento). Mas estou a projectar voltar lá em Março deste ano de 2006, desta vez com mais calma, assim espero. Hei-de perguntar ao Cacuto Seidi (se é que ainda está vivo...) ou a quaisquer outros como é que ele desapareceu e hei-de tirar fotografia do local.
Abraços

A. Marques Lopes

Guiné 63/74 - CDVII: Em perigos e guerras esforçados...


Guiné > Barro > 1970 (?) > Monumento em homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro João Baptista da Slva, da CART 2412, morto em combate, em Bigene, em 21 de Setembro de 1968.

Mandado erigir, em Barro, pela CART 2412 (1968/70)

© Afonso M. F. Sousa (2005)


1. Achei bonito o gesto do nosso camarada Afonso Sousa (ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412, que andou por Bigene, Binta, Guidage e Barro, nos já longínquos anos de 1968/70) de se lembrar de um camarada morto em combate, em Bigene, e que os seus camaradas não quiseram esquecer, erigindo-lhe um singelo monumento de homenagem... (Será que resistiu ao tempo e às intermitências da guerra e da paz, do ódio e do amor ? Será que ainda hoje pode ser fotografado em Barro ?).

Raramente falamos deles, dos nossos mortos, dos mais de dois mil camaradas que não voltaram connosco, na viagem de regresso à pátra, a casa (e dos quais cerca de 1240 cairam em combate).
No final do ano de 2005, no ano da fundação da nossa tertúlia de amigos e camaradas da Guiné, é bonito, e mais do que bonito, é justo que nos lembremos dos nossos mortos. Há muitas maneiras de os evocar, pela imagem e pela palavra. E quem souber rezar, que reze (sempre) por eles. Eu, que não sou crente, também rezo por eles, à minha maneira, trazendo aqui, e por sugestão do Afonso Sousa, as duas primeiras estrofes do Canto I dos Lusíadas, do nosso genial (e às vezes tão mal amdado...) Luís de Camões:


As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.


Os Lusíadas (I, 1-2)

A presente foto também foi inserida na página do nosso camarada Jorge Santos, sobre A Guerra Colonial, na secção "Monumentos", por sugestão do Afonso Sousa, iniciativa de um e outro que eu sou o primeiro a aplaudir. L.G.

2. Mensagem do Afonso Sousa:

Obrigado ao "grande" Luis Graça pela gentileza das palavras que teve a amabilidade de inserir como moldura desta lembrança singela.

Para o fim a que nos propusemos não poderiamos ter tido melhor sorte. O Luis é o homem certo no lugar certo ! ...e reparem que estes trabalhos já são referência na WIKIPÉDIA !...

Já agora aproveitava para pedir ao querido amigo A. Marques Lopes se poderia confirmar-nos se na sua última estada em Barro pôde verificar se este monumento ainda lá existia (situava-se junto à picada Bigene-Barro, a cerca de 50 m do edifício da secretaria e comando, para o lado de Bigene e logo a seguir à enorme mangueira contígua ao edifício).

3. Resposta do A. Marques Lopes:

Amigo Afonso Sousa

Não, esse monumento já não estava lá em 1998, quando estive em Barro. Na altura não deu para falar sobre essas coisas (eu desconhecia, aliás, a existência desse monumento). Mas estou a projectar voltar lá em Março deste ano de 2006, desta vez com mais calma, assim espero. Hei-de perguntar ao Cacuto Seidi (se é que ainda está vivo...) ou a quaisquer outros como é que ele desapareceu e hei-de tirar fotografia do local.
Abraços

A. Marques Lopes

Guiné 63/74 - CDVI: Maimuna, uma história de amor (José Teixeira)


Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), com a sua inseparável amiguinha Maimuna.


© José Teixeira (2005)



A minha homenagem à Maimuna, minha mascote que durante seis meses foi a minha companheira de todos os dias.

A Maimuna (2) tinha oito luas quando cheguei a Mampatá. Pretinha como carvão, um carrapito e um sorriso sempre que lhe fazia festas. Cativou-me e transformei-a na minha mascote. A casa da Answar, sua mãe era paredes meias com a enfermaria, isto é, o coberto onde montava todos os dias a enfermaria. A parede era de canas entrelaçadas, pelo que se ouvia tudo de um e outro lado.

Tudo começou, quando a avó da Maimuna, logo no dia seguinte à minha chegada me traz a menina:

- Minina e na tourse - dizia-me ela apontando para a garganta da bébé e tentando imitar uma pessoa a tossir. Custou-me a entender a velhinha, pedi ajuda a um Milicia e ele respondeu-me:

- Garganta de minina e na dê tourse, tourse -. De facto a bébé tinha os brônquios inflamados. Dei-lhe uma colher de xarope para a tosse e mandei-a vir três vezes por dia à enfermaria. Só tinha um frasco de antitússico e se lho desse era certo que quando chegasse a casa lho dava por inteiro de imediato para curar mais depressa.

Assim durante três dias tive a Maimuna no meu colo quatro vezes por dia e como ficou boa a mãe ofereceu-ma para minha mulher. Como o xarope era doce, ela vinha ao meu colo toda contente e habituou-se à minha pessoa e ao nome "Fermero". Então quando estava a chorar a mãe dizia-lhe:

- Cá na chora, Fermero e na vem (Não chores mais que vem aí o enfermeiro) . - A menina calava-se ficando a procurar com os olhos a minha pessoa. Quando saía a passear pela tabanca ou visitar os meus colegas aos postos de vigia, pegava na Maimuna ao ombro, ela, toda nua, agarrava-me uma orelha e lá ia toda contente. Habitou-se a ouvir o meu assobio e quando estava a chorar bastava eu assobiar, de cá de fora, para se calar. Aprendeu a rastejar e vinha ter comigo. Depois ensinei-a a andar. Passava tardes inteiras a brincar com ela e com a minha criação de camaleões.

Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), noutra foto, com a Maimuna.


© José Teixeira (2005)


Há dias levei-a para o meu abrigo e como eram horas de ela dormir deitei-a na minha cama, ficando ao lado dela. Armou um berreiro e tive de a levar à mãe e então compreendi a razão do choro. A mãe disse-me:

- Leva-a e deita-a atrás de ti de modo a que se possa agarrar às tuas costas . - Assim fiz e a menina dormiu um grande sono que eu acompanhei. Simplesmente, a mãe à noite dormia com a menina amarrada às costas, tal como é costume de dia quando andam a trabalhar, mas por razões diferentes, ou seja se houvesse um ataque tinham de fugir para o abrigo subterrâneo, por sinal ao lado do Posto de rádio e assim, com a menina amarrada às costas, não corria o perigo de na precipitação da fuga deixar a menina sem protecção.

________

(1) No sul da Guiné, a sudeste de Buba, junto a Aldeia Formosa (Quebo)

(2) – Deixem passar este poema que dedico à Maimuna, trinta anos depois …

MAIMUNA

Um amor que encontrei,
Me acompanhou e viveu,
Como eu.
A guerra que não queria,
Mas sentia,
Nas corridas para o abrigo,
Da mãe que fugia ao perigo.

Comigo aprendeste a andar,
No meio de balas, granadas,
Minas, na tua terra, semeadas.
Perigosas bonecas para o teu brincar.
E só de pensar,
Meu coração tremia
Que uma bala perdida,
Tua vida fosse roubar.

Eras a esperança.
O futuro que não queria perder.
Foste razão do meu viver,
Quando aos ombros
Percorrias, comigo, os escombros.
Da guerra que nos fazia sofrer.

Abandonei-te
à guerra fugi.
Mas hoje,
Trinta anos depois, ainda gosto de ti.

Tu e eu.
Companheiros de horas vazias.
Passeios de sonho e esperança.
Teu chilrear de bonança
Enchia a minha alma,
E me transmitia imensa calma.
Eu, em troca, te abandonei.
Fugi e nada te dei.
Hoje,
Quero ver-te, tocar-te
E dizer-te.
Quanto te amei.

José Teixeira - 1996

Guiné 63/74 - CDVI: Maimuna, uma história de amor (José Teixeira)


Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), com a sua inseparável amiguinha Maimuna.


© José Teixeira (2005)



A minha homenagem à Maimuna, minha mascote que durante seis meses foi a minha companheira de todos os dias.

A Maimuna (2) tinha oito luas quando cheguei a Mampatá. Pretinha como carvão, um carrapito e um sorriso sempre que lhe fazia festas. Cativou-me e transformei-a na minha mascote. A casa da Answar, sua mãe era paredes meias com a enfermaria, isto é, o coberto onde montava todos os dias a enfermaria. A parede era de canas entrelaçadas, pelo que se ouvia tudo de um e outro lado.

Tudo começou, quando a avó da Maimuna, logo no dia seguinte à minha chegada me traz a menina:

- Minina e na tourse - dizia-me ela apontando para a garganta da bébé e tentando imitar uma pessoa a tossir. Custou-me a entender a velhinha, pedi ajuda a um Milicia e ele respondeu-me:

- Garganta de minina e na dê tourse, tourse -. De facto a bébé tinha os brônquios inflamados. Dei-lhe uma colher de xarope para a tosse e mandei-a vir três vezes por dia à enfermaria. Só tinha um frasco de antitússico e se lho desse era certo que quando chegasse a casa lho dava por inteiro de imediato para curar mais depressa.

Assim durante três dias tive a Maimuna no meu colo quatro vezes por dia e como ficou boa a mãe ofereceu-ma para minha mulher. Como o xarope era doce, ela vinha ao meu colo toda contente e habituou-se à minha pessoa e ao nome "Fermero". Então quando estava a chorar a mãe dizia-lhe:

- Cá na chora, Fermero e na vem (Não chores mais que vem aí o enfermeiro) . - A menina calava-se ficando a procurar com os olhos a minha pessoa. Quando saía a passear pela tabanca ou visitar os meus colegas aos postos de vigia, pegava na Maimuna ao ombro, ela, toda nua, agarrava-me uma orelha e lá ia toda contente. Habitou-se a ouvir o meu assobio e quando estava a chorar bastava eu assobiar, de cá de fora, para se calar. Aprendeu a rastejar e vinha ter comigo. Depois ensinei-a a andar. Passava tardes inteiras a brincar com ela e com a minha criação de camaleões.

Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), noutra foto, com a Maimuna.


© José Teixeira (2005)


Há dias levei-a para o meu abrigo e como eram horas de ela dormir deitei-a na minha cama, ficando ao lado dela. Armou um berreiro e tive de a levar à mãe e então compreendi a razão do choro. A mãe disse-me:

- Leva-a e deita-a atrás de ti de modo a que se possa agarrar às tuas costas . - Assim fiz e a menina dormiu um grande sono que eu acompanhei. Simplesmente, a mãe à noite dormia com a menina amarrada às costas, tal como é costume de dia quando andam a trabalhar, mas por razões diferentes, ou seja se houvesse um ataque tinham de fugir para o abrigo subterrâneo, por sinal ao lado do Posto de rádio e assim, com a menina amarrada às costas, não corria o perigo de na precipitação da fuga deixar a menina sem protecção.

________

(1) No sul da Guiné, a sudeste de Buba, junto a Aldeia Formosa (Quebo)

(2) – Deixem passar este poema que dedico à Maimuna, trinta anos depois …

MAIMUNA

Um amor que encontrei,
Me acompanhou e viveu,
Como eu.
A guerra que não queria,
Mas sentia,
Nas corridas para o abrigo,
Da mãe que fugia ao perigo.

Comigo aprendeste a andar,
No meio de balas, granadas,
Minas, na tua terra, semeadas.
Perigosas bonecas para o teu brincar.
E só de pensar,
Meu coração tremia
Que uma bala perdida,
Tua vida fosse roubar.

Eras a esperança.
O futuro que não queria perder.
Foste razão do meu viver,
Quando aos ombros
Percorrias, comigo, os escombros.
Da guerra que nos fazia sofrer.

Abandonei-te
à guerra fugi.
Mas hoje,
Trinta anos depois, ainda gosto de ti.

Tu e eu.
Companheiros de horas vazias.
Passeios de sonho e esperança.
Teu chilrear de bonança
Enchia a minha alma,
E me transmitia imensa calma.
Eu, em troca, te abandonei.
Fugi e nada te dei.
Hoje,
Quero ver-te, tocar-te
E dizer-te.
Quanto te amei.

José Teixeira - 1996

Guiné 63/74 - CDV: a tertúlia do Porto


Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné...

Da esquerda para direita: Eu, Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada...)

© Hugo Costa / Francisco Allen (2005)



Estive com malta de Matosinhos... na Madalena, na casa de uns cunhados do Porto onde passei o Natal: A. Marques Lopes, Albano Costa e filho (Hugo), José Teixeira, Francisco Allen.... Também estive com o Eduardo Ribeiro, o "pira de Mansoa", o ranger que arriou a nossa bandeira, em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974, e conheceu a "Maria Turra", a segunda mulher do Amílcar Cabreal... Ele trabalha na EDP, estive com ele na Rua do Bolhão. Desencontrei-me do David Guimarães, que é da Madalena, trabalha no Porto (na Segurança Social) e mora em Espinho, mas falei com ele pelo telefone...

Igualmente falei ao telefone com o Paulo Salgado e a Conceição que passaram o Natal, em Vila Nova de Gaia, perto de mim... Tive pena de não poder emcontrar-me com o Rui Esteves, estive mesmo ao pé da casa dele, andei a passear entre Lavadores e a Madalena, no excelente passeio marítimo que eles agora lá têm, mas esqueci-me do número de telemóvel dele... em Lisboa.

É tudo gente fixe, malta do norte, cinco estrelas... Já andam a combinar viagens à Guiné e um próximo encontro (alargado) da tertúlia... O novo periquito, o Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada) acaba de trazer um jipe da Alemanha e quer pô-lo em Bissau, para ficar ao serviço dos... tertulianos que lá forem!... Vai levá-lo por estrada, do Porto até Bissau, 4 dias e meio... Alguém estará interessado em alinhar com ele ? Ele diz que é uma aventura inesquecível, muito melhor que o Lisboa-Dakar!... Aliás, que o diga o nosso amigo Jorge Neto!...

O Allen prometeu-me mandar um e-mail um dia destes: vai ser um acontecimento (para ele, que jurou nunca mais, depois da reforma como bancário, pegar num computador!)... Vejam só o que é (ou o que faz) a camaradagem dos tertulianos da Guiné...

Verifico que o entusiasmo com a nossa tertúlia está a aumentar cada vez mais... Isso também me assusta, por que se estão a criar expectativas muito altas...

Trouxe uma série de documentação, que me foi fornecida pelo Ribeiro, pelo Teixeira e pelo Allen... O Costa e o Allen têm montes de documentação fotográfica de 1973/74, de 1998 e de 2000. Um e outros são grandes entusiastas e amigos da Guiné. E prometem abastecer a nossa tertúlia até, pelo menos, ao final da década...

Fiz questão de visitar a Foto-Guifões, em Guifões, Matosinhos... para perceber melhor como é que o Albano se tornou o chefe... da tabanca dos tugas de Guifões... Ele conseguiu (é obra!) reunir toda a malta de Guifões que esteve na Guiné. É um exemplo a seguir, não há dúvida.

Desta vez não deu para visitar os tertulianos de Viana do Castelo. Fico satisfeito em saber que a ADSL já chegou à tabanca do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 1... e que ele agora já pode receber toda a nossa correspondência, incluindo os novos mapas que aí vão aparecer no princípio do ano (Bissau, Tite, Jumbemben, Bigene, Binta, Teixeira Pinto, Pirada...).

Cheguei dia 28, de madrugada, por volta das 1.30h... Celebro o Novo Ano em Lisboa, como de costume.

No último do ano, ultrapassados os 400 posts em menos de 9 meses, aproveito para mandar Um chicoração para todos os amigos e camaradas de tertúlia (desculpem a pieguice de fim-de-ano...). Tenho imenso material para inserir no blogue (e no nosso site, no resto das vinte e tal páginas com as memórias dos lugares, além dos mapas...). Vocês vão ter que ter paciência, a começar pelo Humberto que está na calha, há semanas, com montanhas de mapas pesadíssimos (megas e megas de baites de Guiné, bolanhas, lalas, tabancas, palmeirais), pelo Zé Teixeira (e o seu diário), o Albano (e o seu inesgotável álbum de fotografias), o Ribeiro (e o seu cancioneiro de Mansoa), etc... Mas isto é como o Lisboa-Dakar: está tudo na fila, controlado... Por isso, não fiquem "apanhados pelo clima"...

Continuação de boas festas para o Sousa de Castro e para a rapaziada dos Estaleiros. Um abraço para os restantes tertulianos, incluindo o António Joaquim Serradas Pereira, de Leiria, que não tem dado sinais de vida... Congratulo-me por receber notícias do meu amigo e camarada da ex-CCAÇ 12, o Joaquim Fernandes...

Guiné 63/74 - CDV: a tertúlia do Porto


Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné...

Da esquerda para direita: Eu, Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada...)

© Hugo Costa / Francisco Allen (2005)



Estive com malta de Matosinhos... na Madalena, na casa de uns cunhados do Porto onde passei o Natal: A. Marques Lopes, Albano Costa e filho (Hugo), José Teixeira, Francisco Allen.... Também estive com o Eduardo Ribeiro, o "pira de Mansoa", o ranger que arriou a nossa bandeira, em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974, e conheceu a "Maria Turra", a segunda mulher do Amílcar Cabreal... Ele trabalha na EDP, estive com ele na Rua do Bolhão. Desencontrei-me do David Guimarães, que é da Madalena, trabalha no Porto (na Segurança Social) e mora em Espinho, mas falei com ele pelo telefone...

Igualmente falei ao telefone com o Paulo Salgado e a Conceição que passaram o Natal, em Vila Nova de Gaia, perto de mim... Tive pena de não poder emcontrar-me com o Rui Esteves, estive mesmo ao pé da casa dele, andei a passear entre Lavadores e a Madalena, no excelente passeio marítimo que eles agora lá têm, mas esqueci-me do número de telemóvel dele... em Lisboa.

É tudo gente fixe, malta do norte, cinco estrelas... Já andam a combinar viagens à Guiné e um próximo encontro (alargado) da tertúlia... O novo periquito, o Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada) acaba de trazer um jipe da Alemanha e quer pô-lo em Bissau, para ficar ao serviço dos... tertulianos que lá forem!... Vai levá-lo por estrada, do Porto até Bissau, 4 dias e meio... Alguém estará interessado em alinhar com ele ? Ele diz que é uma aventura inesquecível, muito melhor que o Lisboa-Dakar!... Aliás, que o diga o nosso amigo Jorge Neto!...

O Allen prometeu-me mandar um e-mail um dia destes: vai ser um acontecimento (para ele, que jurou nunca mais, depois da reforma como bancário, pegar num computador!)... Vejam só o que é (ou o que faz) a camaradagem dos tertulianos da Guiné...

Verifico que o entusiasmo com a nossa tertúlia está a aumentar cada vez mais... Isso também me assusta, por que se estão a criar expectativas muito altas...

Trouxe uma série de documentação, que me foi fornecida pelo Ribeiro, pelo Teixeira e pelo Allen... O Costa e o Allen têm montes de documentação fotográfica de 1973/74, de 1998 e de 2000. Um e outros são grandes entusiastas e amigos da Guiné. E prometem abastecer a nossa tertúlia até, pelo menos, ao final da década...

Fiz questão de visitar a Foto-Guifões, em Guifões, Matosinhos... para perceber melhor como é que o Albano se tornou o chefe... da tabanca dos tugas de Guifões... Ele conseguiu (é obra!) reunir toda a malta de Guifões que esteve na Guiné. É um exemplo a seguir, não há dúvida.

Desta vez não deu para visitar os tertulianos de Viana do Castelo. Fico satisfeito em saber que a ADSL já chegou à tabanca do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 1... e que ele agora já pode receber toda a nossa correspondência, incluindo os novos mapas que aí vão aparecer no princípio do ano (Bissau, Tite, Jumbemben, Bigene, Binta, Teixeira Pinto, Pirada...).

Cheguei dia 28, de madrugada, por volta das 1.30h... Celebro o Novo Ano em Lisboa, como de costume.

No último do ano, ultrapassados os 400 posts em menos de 9 meses, aproveito para mandar Um chicoração para todos os amigos e camaradas de tertúlia (desculpem a pieguice de fim-de-ano...). Tenho imenso material para inserir no blogue (e no nosso site, no resto das vinte e tal páginas com as memórias dos lugares, além dos mapas...). Vocês vão ter que ter paciência, a começar pelo Humberto que está na calha, há semanas, com montanhas de mapas pesadíssimos (megas e megas de baites de Guiné, bolanhas, lalas, tabancas, palmeirais), pelo Zé Teixeira (e o seu diário), o Albano (e o seu inesgotável álbum de fotografias), o Ribeiro (e o seu cancioneiro de Mansoa), etc... Mas isto é como o Lisboa-Dakar: está tudo na fila, controlado... Por isso, não fiquem "apanhados pelo clima"...

Continuação de boas festas para o Sousa de Castro e para a rapaziada dos Estaleiros. Um abraço para os restantes tertulianos, incluindo o António Joaquim Serradas Pereira, de Leiria, que não tem dado sinais de vida... Congratulo-me por receber notícias do meu amigo e camarada da ex-CCAÇ 12, o Joaquim Fernandes...

Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74)

1. Mensagem de Carlos Flipe Coelho, com data de 28 de Dezembro último:

Caros amigos:

Hoje, 28 de Dezembro de 2005, encontrei-vos, finalmente.

Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes.

O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.

Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime …até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Camcolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (aonde passei as minhas “férias”)...

O Cmdt de Batalhão era o Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto.

Será que haverá um camarada deste BCAÇ 3872 por aqui ??? De facto vejo muitas referências ao 3873 com percursos e referências que não me são de todo estranhas (1).

Por agora aceitem um forte abraço de amizade e muito obrigado a todos pela nostálgica alegria que me propocinaram.

Até à próxima.

Carlos Filipe A. Coelho

Ct0408@aeiou.pt

2. Resposta do Manuel Pereira (ex-furriel milicaino da CCAÇ 3547) (2):

Camarada, não serei talvez aquele que procuras, mas prometo, e conforme apelo do Luis, encetar contactos no sentido de comunicares com alguém do teu antigo Batalhão. A minha estadia em Galomaro foi relativamente curta, os desentendimentos com o Cmdt eram imensos (eu comandava um pelotão de reforço/destacado da CCAÇ 3547 - Os Répteis de Contuboel) - do BCAÇ 3884 sediado em Bafatá) daí e como medida de represália me obrigar a sair quase todas as noites para “emboscada” – protecção à distância e que eu numa atitude de desafio ficava pela “fonte”.

Conhecedor disso ou não, o Sr. Cmdt e mais uma vez, após acesa discussão ordenou-me que conjuntamente com o meu pelotão (também rebelde) fosse ocupar o aquartelamento do Dulombi. Foi a prenda do Sr. Cmdt para um conjunto de homens que já traziam na pele 24 meses de Guiné, distribuídos por Contuboel, Sonaco, Bafatá, Bambadinca Tabanca (Cambeidare), Sare Bacar, Medina Mandinga (Nova Lamego) e eu próprio com um currículo mais vasto acrescento também as muitas subidas em batelão de Bissau-Xime-Bambadinca (Porto), Bissau-Farim, trazendo tudo (?) o necessário para abastecimento das tropas. No sentido inverso (menos vezes, pois regressava de avião) o material evacuado (mortos inclusive).

A minha (nossa) estadia em Dulombi foi penosa mas felizmente curta. O 25 de Abril tinha chegado e O Sr. Cmdt foi ”levado” em Cesna pelos Homens do MFA e nosso desterro e destacamento no BCAÇ 3884 tinha chegado ao fim. Em Julho de 74 regressámos à metrópole.

Termino com votos de BOM ANO para todos os camaradas.
____

Notas de L.G.

(1)O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt.

Há um membro desta tertúlia que fez parte da CCAÇ 3490 do BCAÇ 3872, e que esteve do Saltinho (1971/74). É o Joaquim Guimarães, minhoto, que vive actualmente nso EUA. Vd. pots de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLV: Notícias do BCAÇ 3884 (Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)

Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74)

1. Mensagem de Carlos Flipe Coelho, com data de 28 de Dezembro último:

Caros amigos:

Hoje, 28 de Dezembro de 2005, encontrei-vos, finalmente.

Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes.

O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.

Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime …até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Camcolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (aonde passei as minhas “férias”)...

O Cmdt de Batalhão era o Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto.

Será que haverá um camarada deste BCAÇ 3872 por aqui ??? De facto vejo muitas referências ao 3873 com percursos e referências que não me são de todo estranhas (1).

Por agora aceitem um forte abraço de amizade e muito obrigado a todos pela nostálgica alegria que me propocinaram.

Até à próxima.

Carlos Filipe A. Coelho

Ct0408@aeiou.pt

2. Resposta do Manuel Pereira (ex-furriel milicaino da CCAÇ 3547) (2):

Camarada, não serei talvez aquele que procuras, mas prometo, e conforme apelo do Luis, encetar contactos no sentido de comunicares com alguém do teu antigo Batalhão. A minha estadia em Galomaro foi relativamente curta, os desentendimentos com o Cmdt eram imensos (eu comandava um pelotão de reforço/destacado da CCAÇ 3547 - Os Répteis de Contuboel) - do BCAÇ 3884 sediado em Bafatá) daí e como medida de represália me obrigar a sair quase todas as noites para “emboscada” – protecção à distância e que eu numa atitude de desafio ficava pela “fonte”.

Conhecedor disso ou não, o Sr. Cmdt e mais uma vez, após acesa discussão ordenou-me que conjuntamente com o meu pelotão (também rebelde) fosse ocupar o aquartelamento do Dulombi. Foi a prenda do Sr. Cmdt para um conjunto de homens que já traziam na pele 24 meses de Guiné, distribuídos por Contuboel, Sonaco, Bafatá, Bambadinca Tabanca (Cambeidare), Sare Bacar, Medina Mandinga (Nova Lamego) e eu próprio com um currículo mais vasto acrescento também as muitas subidas em batelão de Bissau-Xime-Bambadinca (Porto), Bissau-Farim, trazendo tudo (?) o necessário para abastecimento das tropas. No sentido inverso (menos vezes, pois regressava de avião) o material evacuado (mortos inclusive).

A minha (nossa) estadia em Dulombi foi penosa mas felizmente curta. O 25 de Abril tinha chegado e O Sr. Cmdt foi ”levado” em Cesna pelos Homens do MFA e nosso desterro e destacamento no BCAÇ 3884 tinha chegado ao fim. Em Julho de 74 regressámos à metrópole.

Termino com votos de BOM ANO para todos os camaradas.
____

Notas de L.G.

(1)O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt.

Há um membro desta tertúlia que fez parte da CCAÇ 3490 do BCAÇ 3872, e que esteve do Saltinho (1971/74). É o Joaquim Guimarães, minhoto, que vive actualmente nso EUA. Vd. pots de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLV: Notícias do BCAÇ 3884 (Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)

30 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CDIII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (8): novos tertulianos

Guiné > Olossato > 1972 (?) > O Alferes miliciano Salgado (em cima do capô da GTMC) e o primeiro cabo Marques (sentado na roda sobresselente), da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), e cujo comandante era o capitão de cavalaria Mário Tomé.

© Paulo Salgado (2005)

Embora de férias (natalícias) em Vila Nova de Gaia, o Paulo não deixa de enviar, através do seu 'bombolom', notícias para a nossa tertúlia. Aqui vão:

Camaradas e Amigos,

Hoje tenho duas notícias para vos dar:

Primeira: o Rocha Lobo esteve na Guiné entre 71 e 73. Vive em Guimarães e convidei-o a entrar na tertúlia. Cacine foi o seu aquartelamento. Ficou contente por haver um blogue. Espero que ele venha ter connosco... por isso o convidei (Luís, tem paciência...).

Segunda: Recebi uma carta do Moura Marques - primeiro cabo que eu promovi no IAO, em Santa Margarida - escolha acertadíssima. Um grande homem, um grande camarada...é um dos meus amigos verdadeiros, profundamente humano e camaradão.O que é que ele me dizia? Pois bem: vou recebê-lo em Bissau no dia 24 de Fevereiro. E vou recebê-lo como um príncipe, um verdadeiro "Jacinto" (lembram-se de "A Cidade e as Serras", do Eça de Queirós...!)

Vai uma foto em que estamos vários numa ida à lenha. É Moura Marques o que está no ponto mais alto, em cima da rodada da GMC com a arma "apontada" ao alferes (eu próprio).

Honra ao meu amigo, vai estar comigo em Bissau, iremos ao Olossato, passando por Nhacra, Dugal, Mansoa, Bissorã, Maqué. Recordaremos juntos o passado para compreeendermos o presente e melhorarmos (no que pudermos) o futuro...

Para o Rocha Lobo e para o Moura Marques (este não tem internet) espero o vosso
aplauso.

Paulo Salgado

PS - Luís, mais uma vez a tua paciência...

Guiné 63/74 - CDIII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (8): novos tertulianos

Guiné > Olossato > 1972 (?) > O Alferes miliciano Salgado (em cima do capô da GTMC) e o primeiro cabo Marques (sentado na roda sobresselente), da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), e cujo comandante era o capitão de cavalaria Mário Tomé.

© Paulo Salgado (2005)

Embora de férias (natalícias) em Vila Nova de Gaia, o Paulo não deixa de enviar, através do seu 'bombolom', notícias para a nossa tertúlia. Aqui vão:

Camaradas e Amigos,

Hoje tenho duas notícias para vos dar:

Primeira: o Rocha Lobo esteve na Guiné entre 71 e 73. Vive em Guimarães e convidei-o a entrar na tertúlia. Cacine foi o seu aquartelamento. Ficou contente por haver um blogue. Espero que ele venha ter connosco... por isso o convidei (Luís, tem paciência...).

Segunda: Recebi uma carta do Moura Marques - primeiro cabo que eu promovi no IAO, em Santa Margarida - escolha acertadíssima. Um grande homem, um grande camarada...é um dos meus amigos verdadeiros, profundamente humano e camaradão.O que é que ele me dizia? Pois bem: vou recebê-lo em Bissau no dia 24 de Fevereiro. E vou recebê-lo como um príncipe, um verdadeiro "Jacinto" (lembram-se de "A Cidade e as Serras", do Eça de Queirós...!)

Vai uma foto em que estamos vários numa ida à lenha. É Moura Marques o que está no ponto mais alto, em cima da rodada da GMC com a arma "apontada" ao alferes (eu próprio).

Honra ao meu amigo, vai estar comigo em Bissau, iremos ao Olossato, passando por Nhacra, Dugal, Mansoa, Bissorã, Maqué. Recordaremos juntos o passado para compreeendermos o presente e melhorarmos (no que pudermos) o futuro...

Para o Rocha Lobo e para o Moura Marques (este não tem internet) espero o vosso
aplauso.

Paulo Salgado

PS - Luís, mais uma vez a tua paciência...

Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel

Guiné > Quebo > 1968 > O José Teixeira, 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/79), junto ao obus 14, apontado à fronteira.

© José Teixeira (2005)






É com visível satisfação que inserimos hoje, aqui no nosso blogue, a famosa letra do hino de Gandembel. No meu tenpo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) era provavelmente a canção de caserna mais popular, passando de boca em boca. Guileje, Gadamael e Gandembel eram três nomes que aquartelamentos que os periquitos, em Bissau ou na Zona Leste, pronunciavam com temor e respeito... Estou a fazer um esforço por me lembrar da música que acompanhva esta letra: creio que era um fado ou um balada conhecida... Se alguém se lembrar que me diga.

Gandembel era um aquartelamento, no sul, junto à fronteira, a nordeste de Guileje.

A recolha foi feita pelo nosso camarada José Teixeira, na altura 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 que andou por Buba e Empada, entre 1968 e 1970. O Teixeira voltou recentemente à Guiné, em Março de 2005, com o Allen e outros camaradas. Desse regresso vais-nos dar conta em crónica que está a elaborar para a nossa tertúlia. Além disso, deu-nos o privilégio de partilhar o seu diário da época (1968/70) , bem como as suas fotos, que iremos divulgando nos proximos dias...


Hino a Gandembel

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.

Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (1) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (2)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (3),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (4) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
____

(1) Verylights
(2) WC
(3) A famosa ponte Balana
(4) A espingarda automática G-3


Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel

Guiné > Quebo > 1968 > O José Teixeira, 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/79), junto ao obus 14, apontado à fronteira.

© José Teixeira (2005)






É com visível satisfação que inserimos hoje, aqui no nosso blogue, a famosa letra do hino de Gandembel. No meu tenpo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) era provavelmente a canção de caserna mais popular, passando de boca em boca. Guileje, Gadamael e Gandembel eram três nomes que aquartelamentos que os periquitos, em Bissau ou na Zona Leste, pronunciavam com temor e respeito... Estou a fazer um esforço por me lembrar da música que acompanhva esta letra: creio que era um fado ou um balada conhecida... Se alguém se lembrar que me diga.

Gandembel era um aquartelamento, no sul, junto à fronteira, a nordeste de Guileje.

A recolha foi feita pelo nosso camarada José Teixeira, na altura 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 que andou por Buba e Empada, entre 1968 e 1970. O Teixeira voltou recentemente à Guiné, em Março de 2005, com o Allen e outros camaradas. Desse regresso vais-nos dar conta em crónica que está a elaborar para a nossa tertúlia. Além disso, deu-nos o privilégio de partilhar o seu diário da época (1968/70) , bem como as suas fotos, que iremos divulgando nos proximos dias...


Hino a Gandembel

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.

Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (1) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (2)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (3),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (4) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
____

(1) Verylights
(2) WC
(3) A famosa ponte Balana
(4) A espingarda automática G-3


Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

Guiné > Zona Leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A famigerada árvore que servia de mira aos guerrilheiros do PAIGC nas flagelações, com armas pesadas, ao aquartelamento.

Ela resistiu a estes anos todos... Em 1996, o nosso camarada Humberto Reis fotografou-a, ainda resistente, de pé, mas aparentemente já sem vida...


© Carlos Marques Santos (2005)


Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Mansambo, 17 de Setembro de 1969 (1)

Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo (2), eis Mansambo (3).


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Trabalhos de construção de mais um abrigo...

© Carlos Marques Santos (2005)



Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação (4).


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A tristemente célebre fonte de Mansambo, na imediações do aquartelamento... Hoje estas e outras fotos fazem-nos rir, mas também pensar e chorar: como foi possível que nós, jovens, pudéssemos viver, nos melhores anos da nossa vida, em buracos como Mansambo ou Guileje ?

Uma emboscada à viatura da água causou gaves baixas às NT, obrigando à abertura posterior de um poço no perímetro do aquartelamento...
© Carlos Marques Santos (2005)


Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes.

A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina. Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendida pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água, a partir de uma nascente local, era não apenas penoso como inseguro.

© Carlos Marques Santos (2005)

O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole (5). Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca.

Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné (5).


Luis Graça

(ex-furriel Miliciano Henriques, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
_________

Notas de L. G.

(1) No decurso da Op Belo Dia II, coluna logística do BCAÇ 2852 para as unidades de Xitole e Saltinho (17-18 de Setembro de 1969). A CCAÇ 12 participou a 2 Grupos de Combate. Chegámos a Mansambo por volta das 17:30h. Pernoitámos no aquartelamento, amontoados uns sobre os outros. No dia seguinte, a 18 de Setembro, a caminho do Xitole, a GMC do Dalot, o "melhor condutor do mundo de GMC", que ia em quarto lugar, accionou uma mina anticarro. Eu ia em 3º lugar, num Unimog… Mais um dia de sorte, para mim. Hoje penso que tive um irã a velar por mim, na Guiné… (vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969)

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água feito à mão (!), com jericãs, na fonte de Mansambo...

© Carlos Marques Santos (2005)



(2) Hoje tenho dúvidas sobre o que escrevi na época: não me parece que os nossos bunkers tanto em Mansambo como no resto da Guiné fossem à prova de canhão sem recuo. Seguramente que não eram. Tectos e paredes não eram de cimento armado. Muitos deles não passavam de buracos escavados no chão, com um tecto de rachas de cibe (tronco de palmeira) e argamassa de terra e cimento… Na melhor das hipóteses, poderiam aguentar uma roquetada ou até uma morteirada do 82! (Vd foto, a seguir, do poço do quartel, com um abrigo-casermna atrás).


(3) Em Setembro de 1969, a unidade de quadrícula estacionada em Mansambo era a CART 2339 (1968/69). Tinha um pelotão (- 1 secção) na tabanca em autodefesa de Candamã e uma secção em Afiá, no regulado do Corubal, a leste de Mansambo.

Havia ainda um esquadrão (-) do Pelotão de Morteiros 2106 e o 8º Pelotão da Bateria de Artilharia de Campanha (-) (um secção estava em Bissau).

Na ZA (zona de acção) de Mansambo incluía-se ainda o destacamento de Moricanhe (a norte de Mansambo e a sul de Dembataco), guarnecida pelo Pel Mil 145, mas retirada pelas NT, na sequência da reacção do PAIGC à Op Lança Afiada (8-18 Março de 1969) (vd. post de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli ).

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 >

"Depois de casa arrombada, trancas á porta"...

Depois das baixas sofridas na fonte (2 mortos e 10 feridos) foi decidido abrir um poço dentro do próprio aquartelamento...

© Carlos Marques Santos (2005)




Só no subsector de Mansambo, e até finais de Julho de 1969, a guerrilha tinha lançado uma série de acções ofensivas (para além da sua reacção defensiva à contrapenetração das NT nos seus redutos ou zonas de controlo na região compreendida entre a margem direita do Rio Corubal e a estrada Bambadinca - Mansambo – Xitole):

(i) 2 de Abril de 1969: emboscada, com mina A/C comandada, a uma secção do Pel Mil 145, na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 15 minutos, por um grupo IN estimnado em 30 elementos, equipados com LGF, PM e espingardas automáticas;

(ii) 15 de Maio de 1969: emboscada a forças da CART 2339 na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 25 minutos, por um grupo IN estimado em 30 elementos, equipado de LGF e armas automáticas; sem consequências;


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Vista geral dos "novos balneários": Um luxo !!!

© Carlos Marques Santos (2005)


(iii) 2 de Junho de 1969, três grupos IN não estimados flagelaram em simultâneo, durante a noite, os destacamentos de Amedalai, Dembataco e Moricanhe (os dois primeiros pertencentes ao sub-sector do Xime), utilizando um número impressionante de armas pesadas: 7 canhões s/r, 8 morteiro 82, 13 LGFog, Metralhadoras 12.7, metralhadoras ligeiras e outras armas automáticas; causaram um morto e 3 feridos entre as milícias, um morto e qutro feridos entre os civis, para além de danos materiais nas tabancas;

(iv) 11 de Junho de 1969: flagelação, à meia-noite, do aquartelamento de Mansambo, do lado oeste, durante 30 minutos, por um grupo estimado em 20/30 elementos, com canhão s/r, Mort 82, LGFog e armas automáticas;

(v) 13 de Junho de 1969: idem, mas do lado sul, e ao anoitecer…



(vi) 24 e 27 de Julho de 1969: flagelação, à distância, ao fim da tarde (cerca das 17h) do aquartelamento de Mansambo, com Mort 82;

(vii) 30 de Julho de 2005: flagelação, à distância, durante 20 minutos, do aquartelamento de Mansambo, por um grupo não estimado, utilizando Canhão s/r e Mort 82;

(viii) 30 de Julho de 1969: ataque, de madrugada, à tabanca em autodefesa de Candamã durante 2 horas e 20 minutos (!), por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando 2 Canhões r/s, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Metralhadoras Ligeiras e Granadas de Mão Defensivas, causando 5 feridos (um grave) às NT, 2 mortos e diversos feridos à população civil (três dos quais graves)

(ix) 11 de Agosto de 1969: flagelação a Candamã, àss 19:00h, durante 5 minutos, sem consequências;

(x) 15 de Agosto de 1969: ataque, às 5:00h da manhã, à tabanca em autodefesa de Afiá, durante 30 minutos, e à distância de 500 metros do arame farpado, por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando Canhão r/s, Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada e Metralhadoras Ligeiras causando 3 mortos e 9 feridos (um grave) à população civil;

(xi) 21 de Agosto de 1969: forças da CART 2339 detectam e levantam 9 minas antipessoais na região do Rio Bissari; ao mesmo tempo, accionam um mina A/P reforçada, causando um morto (guia nativo) e cinco feridos (um grave) às NT;

(3) Gadamael e Guileje eram, para além de Madina do Boé (abandonado em Fevereiro de 1969) os aquartelamentos do sul de que mais se falava, nesta época, em Bambadinca; o nome de Gandembel também era referido; havia canções que evocavam estes nomes já míticos e que serviam para assutar os periquitos…

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nem os amuletos ou mezinhos nos carros dos Viriatos (neste caso, um par de cornos...) os livraram de minas e emboscadas...

© Carlos Marques Santos (2005)


(4) No dia seguinte, 18 de Setembro, uma coluna logística do BCAÇ 2852, uma viatura GMC da CCAÇ 12, com três toneladas de arroz, iria accionar uma mina anticarro, junto á ponte do Rio Jago, no troço Mansambo- Xitole (Xime 8 A 5 – 36) Este itinerário estava interdito desde Novembro de 1968. A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores que seguiam na frente com 2 Grupo de Combate.

Dias depois, a 29 de Setembro de 1969, forças da CART 2339 (6) sofrem um morto e um ferido grave, na sequência de um emboscada, levada a cabo por um grupo estimado em15/20 elementos, às 06:50h, na estrada Mansambo-Bambadinca n(Xime 8B 4 -72). Na emboscada, que durou 15 minutos, foram utilizados LGFog, Mort 60 e armas automáticas.


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nicho de Nossa Senhora num dos abrigos do aquartelamento...

A fé (cristã) também ajudou muitos dos nossos camaradas de armas a suportar as duras provações da guerra...

© Carlos Marques Santos (2005)


(5) Assisti aqui em Mansambo, em data que já não posso precisar (ou melhor: não quero, para não comprometer o bom nome dos nossos antigos camaradas) , a uma cena que - julgo eu - não seria não rara quanto isso, no TO da Guiné, em resultado do stresse de guerra, e que me impressionou vivamente: no final de uma operação, no regresso ao quartel, um comandante de unidade chamou um dos operadores de transmissões que terá cometido um erro qualquer no decorrer da operação e “enfiou-lhe um enxerto de porrada”, daquela de criar bicho… Assim, sem mais nem menos, a quente, à frente dos seus homens e de alguns graduados da CCAÇ 12… Constava que também não eram raras as cenas de pugilato entre esse capitão (miliciano!, se a memória me não atraiçoa...) e os seus sargentos e alferes…

(6) Mensagem (posterior) do Humberto Reis:

Carlos Marques

Bem vindo a esta Tertúlia. Lembro-me tão bem da 2339. Fizemos algumas, e não foram poucas, operações juntos. Eu na CCAÇ 12 e tu na 2339. Tenho um slide na minha colecção que tirei a um dos Unimog com pessoal da 2339, ainda estacionado na pista em Bambadinca, quando em Dezembro de 1969 vos escoltei até ao Xime (vocês a virem embora e eu cheio de inveja de ter de ficar e alinhar para o mato).

Infelizmente só me lembro de um nome da vossa companhia exactamente por ser parecido com o meu. Era o furriel miliciano Rei. Sabes alguma coisa deste amigo?

Um abraço e Bom Ano de 2006

Humberto Reis

Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

Guiné > Zona Leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A famigerada árvore que servia de mira aos guerrilheiros do PAIGC nas flagelações, com armas pesadas, ao aquartelamento.

Ela resistiu a estes anos todos... Em 1996, o nosso camarada Humberto Reis fotografou-a, ainda resistente, de pé, mas aparentemente já sem vida...


© Carlos Marques Santos (2005)


Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Mansambo, 17 de Setembro de 1969 (1)

Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo (2), eis Mansambo (3).


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Trabalhos de construção de mais um abrigo...

© Carlos Marques Santos (2005)



Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação (4).


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A tristemente célebre fonte de Mansambo, na imediações do aquartelamento... Hoje estas e outras fotos fazem-nos rir, mas também pensar e chorar: como foi possível que nós, jovens, pudéssemos viver, nos melhores anos da nossa vida, em buracos como Mansambo ou Guileje ?

Uma emboscada à viatura da água causou gaves baixas às NT, obrigando à abertura posterior de um poço no perímetro do aquartelamento...
© Carlos Marques Santos (2005)


Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes.

A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina. Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendida pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água, a partir de uma nascente local, era não apenas penoso como inseguro.

© Carlos Marques Santos (2005)

O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole (5). Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca.

Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné (5).


Luis Graça

(ex-furriel Miliciano Henriques, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
_________

Notas de L. G.

(1) No decurso da Op Belo Dia II, coluna logística do BCAÇ 2852 para as unidades de Xitole e Saltinho (17-18 de Setembro de 1969). A CCAÇ 12 participou a 2 Grupos de Combate. Chegámos a Mansambo por volta das 17:30h. Pernoitámos no aquartelamento, amontoados uns sobre os outros. No dia seguinte, a 18 de Setembro, a caminho do Xitole, a GMC do Dalot, o "melhor condutor do mundo de GMC", que ia em quarto lugar, accionou uma mina anticarro. Eu ia em 3º lugar, num Unimog… Mais um dia de sorte, para mim. Hoje penso que tive um irã a velar por mim, na Guiné… (vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969)

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água feito à mão (!), com jericãs, na fonte de Mansambo...

© Carlos Marques Santos (2005)



(2) Hoje tenho dúvidas sobre o que escrevi na época: não me parece que os nossos bunkers tanto em Mansambo como no resto da Guiné fossem à prova de canhão sem recuo. Seguramente que não eram. Tectos e paredes não eram de cimento armado. Muitos deles não passavam de buracos escavados no chão, com um tecto de rachas de cibe (tronco de palmeira) e argamassa de terra e cimento… Na melhor das hipóteses, poderiam aguentar uma roquetada ou até uma morteirada do 82! (Vd foto, a seguir, do poço do quartel, com um abrigo-casermna atrás).


(3) Em Setembro de 1969, a unidade de quadrícula estacionada em Mansambo era a CART 2339 (1968/69). Tinha um pelotão (- 1 secção) na tabanca em autodefesa de Candamã e uma secção em Afiá, no regulado do Corubal, a leste de Mansambo.

Havia ainda um esquadrão (-) do Pelotão de Morteiros 2106 e o 8º Pelotão da Bateria de Artilharia de Campanha (-) (um secção estava em Bissau).

Na ZA (zona de acção) de Mansambo incluía-se ainda o destacamento de Moricanhe (a norte de Mansambo e a sul de Dembataco), guarnecida pelo Pel Mil 145, mas retirada pelas NT, na sequência da reacção do PAIGC à Op Lança Afiada (8-18 Março de 1969) (vd. post de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli ).

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 >

"Depois de casa arrombada, trancas á porta"...

Depois das baixas sofridas na fonte (2 mortos e 10 feridos) foi decidido abrir um poço dentro do próprio aquartelamento...

© Carlos Marques Santos (2005)




Só no subsector de Mansambo, e até finais de Julho de 1969, a guerrilha tinha lançado uma série de acções ofensivas (para além da sua reacção defensiva à contrapenetração das NT nos seus redutos ou zonas de controlo na região compreendida entre a margem direita do Rio Corubal e a estrada Bambadinca - Mansambo – Xitole):

(i) 2 de Abril de 1969: emboscada, com mina A/C comandada, a uma secção do Pel Mil 145, na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 15 minutos, por um grupo IN estimnado em 30 elementos, equipados com LGF, PM e espingardas automáticas;

(ii) 15 de Maio de 1969: emboscada a forças da CART 2339 na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 25 minutos, por um grupo IN estimado em 30 elementos, equipado de LGF e armas automáticas; sem consequências;


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Vista geral dos "novos balneários": Um luxo !!!

© Carlos Marques Santos (2005)


(iii) 2 de Junho de 1969, três grupos IN não estimados flagelaram em simultâneo, durante a noite, os destacamentos de Amedalai, Dembataco e Moricanhe (os dois primeiros pertencentes ao sub-sector do Xime), utilizando um número impressionante de armas pesadas: 7 canhões s/r, 8 morteiro 82, 13 LGFog, Metralhadoras 12.7, metralhadoras ligeiras e outras armas automáticas; causaram um morto e 3 feridos entre as milícias, um morto e qutro feridos entre os civis, para além de danos materiais nas tabancas;

(iv) 11 de Junho de 1969: flagelação, à meia-noite, do aquartelamento de Mansambo, do lado oeste, durante 30 minutos, por um grupo estimado em 20/30 elementos, com canhão s/r, Mort 82, LGFog e armas automáticas;

(v) 13 de Junho de 1969: idem, mas do lado sul, e ao anoitecer…



(vi) 24 e 27 de Julho de 1969: flagelação, à distância, ao fim da tarde (cerca das 17h) do aquartelamento de Mansambo, com Mort 82;

(vii) 30 de Julho de 2005: flagelação, à distância, durante 20 minutos, do aquartelamento de Mansambo, por um grupo não estimado, utilizando Canhão s/r e Mort 82;

(viii) 30 de Julho de 1969: ataque, de madrugada, à tabanca em autodefesa de Candamã durante 2 horas e 20 minutos (!), por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando 2 Canhões r/s, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Metralhadoras Ligeiras e Granadas de Mão Defensivas, causando 5 feridos (um grave) às NT, 2 mortos e diversos feridos à população civil (três dos quais graves)

(ix) 11 de Agosto de 1969: flagelação a Candamã, àss 19:00h, durante 5 minutos, sem consequências;

(x) 15 de Agosto de 1969: ataque, às 5:00h da manhã, à tabanca em autodefesa de Afiá, durante 30 minutos, e à distância de 500 metros do arame farpado, por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando Canhão r/s, Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada e Metralhadoras Ligeiras causando 3 mortos e 9 feridos (um grave) à população civil;

(xi) 21 de Agosto de 1969: forças da CART 2339 detectam e levantam 9 minas antipessoais na região do Rio Bissari; ao mesmo tempo, accionam um mina A/P reforçada, causando um morto (guia nativo) e cinco feridos (um grave) às NT;

(3) Gadamael e Guileje eram, para além de Madina do Boé (abandonado em Fevereiro de 1969) os aquartelamentos do sul de que mais se falava, nesta época, em Bambadinca; o nome de Gandembel também era referido; havia canções que evocavam estes nomes já míticos e que serviam para assutar os periquitos…

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nem os amuletos ou mezinhos nos carros dos Viriatos (neste caso, um par de cornos...) os livraram de minas e emboscadas...

© Carlos Marques Santos (2005)


(4) No dia seguinte, 18 de Setembro, uma coluna logística do BCAÇ 2852, uma viatura GMC da CCAÇ 12, com três toneladas de arroz, iria accionar uma mina anticarro, junto á ponte do Rio Jago, no troço Mansambo- Xitole (Xime 8 A 5 – 36) Este itinerário estava interdito desde Novembro de 1968. A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores que seguiam na frente com 2 Grupo de Combate.

Dias depois, a 29 de Setembro de 1969, forças da CART 2339 (6) sofrem um morto e um ferido grave, na sequência de um emboscada, levada a cabo por um grupo estimado em15/20 elementos, às 06:50h, na estrada Mansambo-Bambadinca n(Xime 8B 4 -72). Na emboscada, que durou 15 minutos, foram utilizados LGFog, Mort 60 e armas automáticas.


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nicho de Nossa Senhora num dos abrigos do aquartelamento...

A fé (cristã) também ajudou muitos dos nossos camaradas de armas a suportar as duras provações da guerra...

© Carlos Marques Santos (2005)


(5) Assisti aqui em Mansambo, em data que já não posso precisar (ou melhor: não quero, para não comprometer o bom nome dos nossos antigos camaradas) , a uma cena que - julgo eu - não seria não rara quanto isso, no TO da Guiné, em resultado do stresse de guerra, e que me impressionou vivamente: no final de uma operação, no regresso ao quartel, um comandante de unidade chamou um dos operadores de transmissões que terá cometido um erro qualquer no decorrer da operação e “enfiou-lhe um enxerto de porrada”, daquela de criar bicho… Assim, sem mais nem menos, a quente, à frente dos seus homens e de alguns graduados da CCAÇ 12… Constava que também não eram raras as cenas de pugilato entre esse capitão (miliciano!, se a memória me não atraiçoa...) e os seus sargentos e alferes…

(6) Mensagem (posterior) do Humberto Reis:

Carlos Marques

Bem vindo a esta Tertúlia. Lembro-me tão bem da 2339. Fizemos algumas, e não foram poucas, operações juntos. Eu na CCAÇ 12 e tu na 2339. Tenho um slide na minha colecção que tirei a um dos Unimog com pessoal da 2339, ainda estacionado na pista em Bambadinca, quando em Dezembro de 1969 vos escoltei até ao Xime (vocês a virem embora e eu cheio de inveja de ter de ficar e alinhar para o mato).

Infelizmente só me lembro de um nome da vossa companhia exactamente por ser parecido com o meu. Era o furriel miliciano Rei. Sabes alguma coisa deste amigo?

Um abraço e Bom Ano de 2006

Humberto Reis

29 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CD: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494

Post nº CD (400)
© Carlos Marques Santos (2005)

No post anterior, de 28 de Dezembro último, publicámos duas fotos relativas aos trabalhos de construção do aquartelamento de Mansambo, a cargo da CART 2339 (1968/70).

Essas duas primeiras fotos são um hino à vida: (i) a abertura de um poço e a instalação da motobomba; (ii) os chuveiros e a alegria da água correndo sobre os corpos sedentos e sujos.



© Carlos Marques Santos (2005)

Hoje publicamos mais algumas das fotos que oe x-furriel miliciano Samtos, da CART 2339, nos mandou: os soldados que, além da G-3, também sabiam pegar na pá, na picareta, na enxada, na serra, no balde e na colher da massa, no enxó, no formão, no martelo, etc. para construir abrigos subterrâneos e outras instalações para o pessoal... Com materiais baratos mas frágeis: troncos de palmeira, tijolos de areia e cimento, chapa de zinco, colmo...



© Carlos Marques Santos (2005)

Guiné > Zona leste > 1968 > Vista parcial do quartel de Mansambo >


Recebemos, entretanto, uam mensagem do Manuel Cruz, ex-capitão miliciano, ex-comandante da CART 3493, fazendo algumas correcções às legendas das fotos que estão na página Memórias dos ligares > Mansambo. aqui fica:

Olá

Temos aqui umas fotos de Mansambo, e com gente da nossa CART 3493 junto da Fonte (1).

Creio que as descrições das fotos têm alguns erros / dúvidas (abrir a página sobre Mansambo para ver fotos do Manuel Ferreira da CART 3494)

- Não estivemos em Mansambo até Abril de 1974;

- De Mansambo fomos para Cobumba, Fá Mandinga e terminamos no COMBIS (comando de Bissau) de onde chegamos a participar em escolta de coluna até Farim;

- É verdade que o BART 3873 esteve na Guiné entre finais de 1971 (passámos o Natal a bordo do Navio Uíge (2); a passagem de ano, 1971/72, foi já em Bolama;

- Saímos de Mansambo para Cobumba e não para o Cantanhês;

- Que companhia é que foi ocupar Mansambo quando saímos para Cobumba, terá sido a CCAÇ12?

- Não fomos do Xime para Mansambo, mas sim directamente de Bolama (centro de instrução);

Com votos de que este período festivo esteja a decorrer bem para todos Vós e um Bom Ano 2006.

Manuel Cruz (3)

(ex-Cmdt CCART 3493, 1971/74)

______________________

Nota de L.G.

Guiné > Bolama > Princípios do Ano de 1972 > O Manuel Ferreira, condutor auto da CART 3494 (que fez a sua comissão no Xime e em Mansambo, entre 1972 e 1974)

© Manuel Ferreira (2005)

(1) Involuntariamente, o Manuel Cruz foi induzido em erro: na realidade, o Manuel Ferreira era da CART 3494, e não da CART 3493.

A primeira esteve originalmente no Xime e depois é que foi para Mansambo, em Abril de 1973. Ambas pertenciam ao BART 3873 (Dezembro de 1971 / Abril de 1974), que esteve sediado em Bambadinca.

A CCAÇ 12 passou a unidade de quadrícula nessa época, tendo sido destacada para o Xime até à data da independência.


(2) O Manuel Carvalhido, da CCS do BART 3873, corrige: o navio não era o Uíge mas o Niassa...

(3) Vd. post de 13 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVIII: Welcome aboard, captain ! (CCAÇ 3493, Mansambo, 1972)

"Chegámos a Bolama para treinos militares entre o Natal e o Ano Novo (1971/1972. Depois seguimos para Mansambo onde estivemos em sobreposição com a companhia [2714] comandada por um capitão miliciano, de nome Agordela. Não sei exactamente quando, mas o senhor comandante da Guiné, General Spínola, transferiu-nos para Cobumba, [região de Tombali] (perto de Cufar - COP4 e perto de Bedanda e um pouco mais a montante do rio Cobumba instalou-se um grupo de Fuzileiros.

"Alguns meses depois a CCAÇ 3493 foi para Fá Mandinga, onde estivemos poucos meses.A última parte da comissão, que nos custou ao todo 27 meses, estivemos em Bissau no COMBIS, onde integrávamos a defesa de Bissau e dávamos apoio / segurança a colunas militares e civis para Farim".