Texto do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):
Dei conta, nas minhas notas pessoais de que entre 27 de Agosto e 27 de Setembro de 1969, estive com o meu pelotão em reforço de do sector de Galomaro/Dulombi, mais própriamente em Mondajane, sem no entanto haver qualquer nota na História da Companhia.
Talvez na História do BCAÇ 2852 haja referência a esse tempo esquecido, mas vivido por nós, 3.º Grupo de Combate da CART 2339 (1).
A 27 de Agosto foi recebida a notícia de que iríamos para Galomaro.
A 28 saímos e chegámos cerca do meio dia com indicação de que irímos para Mondajane [a seguir a Dulombi], o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte.
No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeiraenses) a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente. Resultado: um morto (desintegrado) e um ferido (condutor) que faleceu ainda nesse dia.
Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane, que atingimos e onde nos instalámos.
Aí, e enquanto aguardávamos uma coluna com as nossas coisas, sem resultado, aparece-nos um pelotão vindo de Dulombi, carregando parte das nossas coisas, a pé e à cabeça, informando ser necessário termos que ir a Dulombi carregar, a pé e à cabeça, o que aconteceu no dia seguinte.
Dia 1 de Setembro de 1969, fui a Dulombi com 17 carregadores e 2 secções de milícias mais 10 homens do meu pelotão, a pé e por trilhos, buscar coisas que eram absolutamente necessárias, numa zona desconhecida e densamente arborizada, o que aconteceria de 2 em 2 dias.
A população recusa-se a ajudar (a zona era perigosa) e só com a intervenção pela força (ameaçámos queimar a tabanca), isso é conseguido. Note-se que nestas circunstâncias - falta de géneros e outros bens - repartimos com as populações.
A 5 de Setembro, um nativo mata um portentoso javali e houve carne fresca confeccionada.
A 7, chega um grupo de carregadores de Galomaro, carregando ainda parte das nossas coisas que estavam em Dulombi. Nesse dia o pelotão que aí estava foi rendido.
A 9, nova caminhada para Dulombi para carregar géneros.
Entretanto a 13 um nosso soldado é evacuado por doença e a 15, à tarde, recebemos a visita dos capitães das Companhias 2405 [Galomaro] e 2446 [ ou 2406, Saltinho?].
Dia 19 novamente ida a Dulombi para reabastecimento. A pé e pela densa mata.
Dia 23, notícia de que iríamos ser rendidos no dia seguinte. Nada.
Dia 24, rendidos finalmente e saída para Bambadinca [pela estrada Bafatá-Banbadinca], com chegada a Mansambo a 27 de Setembro de 1969. Sem incidentes.
Em suma, um mês a feijão frade, sem banho e sem mudar de roupa.
Carlos Marques dos Santos
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(1) Nota do CMS:
O alferes do Grupo de Combate da Companhia de Galomaro que nos apoiou é meu primo. Ainda bem. Para não variar, a 29, rebentamentos cerca das 07.00h e uma nossa coluna emboscada no sítio do costume. Um morto e um ferido das NT. Ainda faltavam cerca de 2 meses e meio para o regresso à Metrópole.
(2) Nota de LG:
Infelizmente a História do BCAÇ 2852 é omisso sobre este destacamento do Carlos Marques dos Santos e do seu Grupod e Combate. Oficial ou oficiosamente, o CMS andou um mês desenfiado, sem conhecimento das autoridades máximas do Sector L1 (Bambadina). De acordo com o registo que fica para a História, em Setembro de 1969, a CART 2339 limitava-se a ter um pelotão em Candamã (2 secções)e em Afiá (uma secção). Mas em Agosto, tinha apenas um pelotão em reforço ao COP-7 (Galomaro)...
A História da CCAÇ 12 confirma a existência, em Agosto, de tropas de Mansambo em Candamã e Afiá: vd post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) ... Em resumo, havia muito mais vida, na Guiné do nosso tempo, do que nas secretarias das nossas companhias...
Posteriormente à inserção deste post de hoje, o Marques dos Santos enviou-me a seguinte mensagem: "Grato pela publicação desta nota. Isto demonstra as incongruências das 'várias histórias oficiais escritas'. Não será caso único.
Que os nossos companheiros de tertúlia descubram pequenos pormenores vividos, mas não descritos. Ainda hoje, no meu dia a dia, dou extrema importância a um bem ao alcance de uma torneira – a água".
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