22 janeiro 2006

Guiné 63/74 - CDLXX: Mais de 7 mil nativos em trabalhos de desmatação (Mansambo, 1969)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento. Ao fundo a estrada Bambadinca-Xitole. Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

© Humberto Reis (2006)

Na sequência do texto do Carlos Marques dos Santos, publicado anteriormente, fui consultar a história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/69). Aí pode ler-se:

(i) a Op Cabeça Rapada I, iniciada em 26 de Março de 1969, com a duração de dois dias, destinou-se a "montar segurança aos trabalhos de desmatação numa área de 200 metros para cada lado do troço do itinerário Bambadinca-Mansambo, compreendido entre Samba Juli e Mansambo. Tomaram parte na desmatação mais de 7 mil nativos" (sic) (Cap. II, pag. 72).

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Mansambo-Xitole > 1970 > Coluna logística de Bambadinca ao Xitole, com a participação da CCAÇ 12. Alguns meses depois da grande desmatação das orlas da estrada, feitas por ocasião das Op Cabeça Rapada, o matagal continuava medonho, engolino a picada... Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


© Humberto Reis (2006)



Comentário meu: é um número impressionante de trabalhadores que, presumo, deveriam ser de etnia fula, naturais dos regulados de Badora (e eventualmente do Corubal). Desconheço se foram recrutados voluntariamente e devidamente pagos... A tradição da administração colonial, antes de Spínola, era a do trabalho forçado, puro e duro...

Recorde-se que, segundo a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/69), "a população de um modo geral é-nos favorável [no sector L1], sendo de destacar o regulado de Badora que tem como Chefe/Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus (sic). Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população [balantas, beafadas e mandingas...] fortes dúvidas se tem especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (Cap. II, pag. 1).

Conheci o tenente de 2ª classe, régulo e chefe máximo das milícias de Badora, Mamadu, de quem se dizia ter cinquenta mulheres, uma em cada tabanca, e uma numerosa prole. Alguns dos seus filhos, dizia-se, eram meus/nossos soldados, da CCAÇ 12. Pessoalmente, nunca simpatisei com a personagem, que era um exemplo típico - segundo o meu ponto de vista da época - do colaboraccionismo dos velhos senhores feudais, fulas, com a potência colonial, vencedora, e que eu vi passar muitas vezes, em Bambadinca e nas tabancas em autodefesa de Badora, fardado, de camuflado, ou com a sua impecável túnica branca de homem grande, na motorizada japonesa de 50 centímetros cúbicos provavelmente oferecida pelo Govenador-Geral e Com-Chefe.

O apontamento do escriba castrense da BCCAÇ 2852 é manifestamente exagerado: acho que o Tenente Mamadu era respeitado e sobretudo temido pelos seus súbditos, mas é manifestamente grosseiro, etnocênctrico e até ofensivo dizer que a população, islamizada, o "considerava como um Deus"...

(ii) a Op Cabeça Rapada II, com início a 9 de Abril, às 00.00h, destinou-se a grantir a segurança e apoio logístico dos trabalhos de desmatação "a cargo da Administração do Concelho de Bafatá" (sic), no itinerário Mansambo-Ponte dos Fulas. Dessa vez o número de nativos foi de 2150 (Cap II, pag. 76);


(iii) certamente por lapso não há referência, na História do BCAÇ 2852, à Op Cabeça Rapada III;

(iv) a Op Cabeça Rapada IV, a 3 de Maio de 1969, destinou-se a garantir a segurança dos trabalhos de desmatação do itinerário Bambadinca-Xime (Cap. II, pag. 81).

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