24 março 2006

Guiné 63/74 - DCL: Preocupação com a situação humanitária em Susana e Varela (região do Cacheu)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > Iale > 2004 > Festa da saída da cerimónia de circuncisão ("fanado") da etnia felupe. © AD - Acção para o Desenvolvimento (2006)

1. Anteontem demos conhecimento, através de e-mail, aos nossos amigos & camaradas da Guiné, membros da nossa tertúlia, do teor de um comunicado de imprensa do Conselho de Concertação Nacional da Plataforma de Concertação das ONG Nacionais e Internacionais na Guiné-Bissau (PLACON-GB), sobre a situação, sobre o ponto de humanitária e da protecção dos direitos humanos, resultante dos violentos combates na fronteira Norte do País com a Província de Casamance (ou Casamança, em português), enclave da República do Senegal, entalado entre a Guiné-Bissau e a Gâmbia (até à constituição da África Ocidental Francesa, fazia parte da Senegâmbia; a presença portuguesa chegou a ser forte até ao Séc. XVII e a língua portuguesa ainda é falada naquela região do sul do Senegal)(1).

Em princípio, não queremos transformar o nosso blogue num portal (noticioso ou outro) sobre a Guiné-Bissau, sob pena de desvirtuarmos o espírito que nos mantém unidos, à volta da nossa experiência comum da guerra colonial e da nossa amizade para com o povo da Guiné-Bissau.

Tal não significa que não estejamos seriamente preocupados com a situação criada pelos confrontos (que já não são de hoje, são cíclicos) das forças armadas guineenses com os rebeldes autonomistas de Casamança (um território que chegou a fazer parte da antiga colónia portuguesa)… Pelo contrário, estamos solidários com os povos de um e de outro lado da fronteira que estão a sofrer com este conflito armado (que, recorde-se, é uma das mais antigas guerras civis latentes em África, há mais de mais vinte anos), bem como com os homens e mulheres de boa vontade que trabalham nas organizaçõ3s não-governamentais, nacionais e internacionais…

Podemos (e até devemos) utilizar o e-mail para trocar informações, factos e opiniões sobre a actualidade guineense, mas não devemos saturar o nosso blogue com informação noticiosa, os comunicados e contra-comunicados, os boatos e os desmentidos, os faits-divers, etc. A Guiné-Bissau é hoje um país independente, que faz parte da comunidade internacional. Não podemos (nem queremos) interferir sobre os seus assuntos internos, independentemente do nosso direito a ter opiniões e a expressá-las, em privado.

Há outros sítios (2) que fazem muito melhor do que nós a cobertura noticios e a reflexão crítica sobre a Guiné-Bissau de hoje e a região em que está inserida...É o caso, por exemplo, do nosso amigo Jorge Neto, jornalista free-lancer em Bissau, e animador do blogue Africanidades, que acaba de deslocar-se para a região de Cacheu, a caminho de Susana. Segundo leio no seu blogue, uma viatura accionou uma mina ao final da tarde de ontem, na estrada que liga S. Domingos a Suzana, no noroeste da Guiné-Bissau.

É o regresso das malditas minas anticarro que foram um dos nossos pesadelos durante a guerra colonial. Neste acidente morrerram dois soldados guineenses e quatro ficaram feridos. Há uma semana atrás, houve outro acidente do género: uma viatura de transporte público despoletou um engenho explosivo semelhante, tendo morrido 11 pessoas.

2. Também o nosso camarada João Tunes se referiu, no seu blogue Água Lisa (6),em post de 20 de Março de 2006, às "nuvens sobre a Guiné", nestes termos:

"De novo, a Guiné-Bissau, em vez da paz e progresso, vê-se a contas com o ferro e o fogo, em que ressaltam as fugas em ondas de refugiados. Agora é no norte, numa teia bélica pouco clara que mete fracções dos separatistas de Casamança (Senegal) e o exército guineense.

"O Jorge Neto não perde a vivência das alegrias (poucas) e dos dramas (muitos) dos guineenses, como se fosse (ele que é alentejano) um fula ou balanta de gema. E vai-nos dando notícias e imagens. Sempre em cima dos acontecimentos. Fazendo a blogo-ponte com os que amam África e que só podem desejar que (mais) esta nuvem negra nos céus da Guiné-Bissau passe depressa. Bem hajas, Jorge".


3. Registe-se, por fim, a mensagem(que é de preocupação, esperança e solidariedade) do Albano Costa:

Caro amigo Luís:

Mais uma vez está na berlinda, por más razões, a «nossa» Guiné... Digo "nossa" porque no fundo, nós portugueses, também a sentimos como nossa... Temos sentimentos e como tal lá estamos nós mais uma vez a lamentar o sofrimento daquele povo, eu pelo menos sinto o sofrimento deles, não merecem, são tão afáveis, tão amigos do seu amigo... Como é possível não poderem viver a sua vida em paz e prosperidade ?!

Fiquei mais uma vez desiludido com tudo o que se está a passar, mas não se pode abandonar aquele povo, temos de os ajudar e eles, povo, merecem. Não vai ser por isso que não vou deixar o meu filho ir à Guiné, claro ele também admira os guineenses, e está já tudo pronto para a viagem que vai ser no dia 5 de Abril. Só que não podem entrar por S. Domingos, irão entrar por outra fronteira mais a leste, Kolda (Farim), ou Cuntima também a leste, por Pirada... O resto da Guiné continua belo e sem problemas.

Em relação ao comunicado, eu também concordo que o nosso blogue não deve ser politizado, deve ser para falarmos sobre o que foi a guerra colonial e para unir os dois povos ainda mais. Bem hajas pelo teu desenpenho.

Um abraço
Albano

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Notas de L.G.

(1) Vd., por exemplo, o interessante paper do senegalês Mamadou Mané sobre a presença portuguesa na Senegâmbia até ao Séc. XVII, disponível no sítio do Instituto Camões (originalmente publicado na Revista ICALP, vol.18, Dezembro de 1989, pp.

(2) Vd. por exemplo:

Notícias Lusófonas > Guiné-Bissau

Expresso > África

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