Texto de Carlos Vinhal (ex-furrel miliciano da CART 2732, Região do Oio, Mansabá,1970/72)
Na guerra (não) se limpam armas
Dia 21 de Abril de 1971
Foi o dia em que integrados na Acção Urtiga XXVII saímos para patrulhamento e emboscadas, em Tungina, Buro e Colimansacunda. No dia anterior o meu amigo Cabo Ornelas (1), Apontador do morteiro 60, meteu-me uma cunha para eu pedir ao nosso Alferes Bento para que o dispensasse desta Operação, porque tinha necessidade urgente de ir a Bissau. Assim fiz e o Alf Bento anuiu. Ficou combinado que o habitual municiador, Soldado Silva, passaria a apontador e eu assumiria a função de municiador.
A força de intervenção na operação foi constituída pelos 3.º e 4.º Pelotões da CART 2732, reforçados com uma Secção do Pelotão de Milícias 253. O Comandante era o Alf Mil Bento.
Fomos progredindo conforme estava determinado e, numa emboscada por nós montada ao IN, na região da Bolanha de Iribato, interceptámos um numeroso grupo fortemente armado. Por puro azar, um dos valorosos milícias que nos acompanhavam, de seu nome Sul Bissau, pôs-se de pé, tendo sido detectado pelo IN e logo atingido gravemente por um RPG, precipitando uma intensa troca de fogo.
As NT reagiram, respondendo com fogo de armas ligeiras, dilagramas, metralhadora, bazooka e morteiro 60. Eu, inexperiente na arte de municiar, facilmente me adaptei às novas funções sem descurar contudo o comando do resto da Secção. Imodéstia à parte, até fui distinguido pelo meu comportamento debaixo de fogo no Relatório da Acção.
Causámos vários feridos confirmados e provavelmente 1 morto ao IN que fugiu em debandada, arrastando de qualquer maneira as suas vítimas. Do nosso lado houve a lamentar o ferimento grave do já referido soldado milícia.
Serenados os ânimos, pedimos evacuação urgente do Sul Bissau. Organizámos um perímetro de segurança para permitir a aterragem do heli e assim estivemos instalados até se concretizar a evacuação que demorou relativamente pouco tempo, porque o General Spínola andava por ali perto e disponibilizou um helicóptero da sua segurança para resolver a situação.
Mais tarde, quando o Alferes Bento deu ordem para a retirada, aconteceu uma situação caricata. Um dos soldados do 4.º Pelotão pediu mais um pouco de tempo porque, talvez preocupado com o asseio da sua G3, ali mesmo a tinha desmontado, procedendo à sua limpeza e manutenção. Uns riam-se incrédulos e outros diziam que se houvesse novo contacto não havia problema, porque ele defender-se-ia atirando uma a uma as peças da G3 e respectivas munições, tentando assim atingir o IN.
Claro que esperámos mais um pouco pelo diligente militar que naquele dia foi o alvo da chacota da rapaziada.
Carlos Vinhal
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Nota de L.G.
(1) Vd post de 25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
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