22 fevereiro 2006

Guiné 63/74 - DLXXIV: a morte a caminho de Mondajane, com os madeirenses da CCAÇ 2446 (Carlos Marques dos Santos)

Texto do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):

Humberto:

Há dias evocaste aqui uma companhia de madeirenses, que levou porrada em Madina Xaquili, no subsector de Galomaro, com vocês, da CCAÇ 12 (1).

Eu também estive em reforço a Galomaro e disso já dei referência e andei por Dulombi e Mondajane, Madina Xaquili, etc. Essa história está, por mim, contada no blogue salvo erro com o título um mês a feijão frade (2).

Referiste os madeirenses e presumo que são os mesmos que, em treino operacional, andaram comigo.

Esses factos não estão descritos na história da minha Companhia, mas eu tenho-os registados nas minhas notas pessoais diárias que elaborei enquanto estive na Guiné.

Há poucos dias, com o Luís, que estava em trabalho em Coimbra, pude com o Victor David recordar factos de Galomaro e Dulombi.

Lembro-me que em coluna para Mondajane, onde eu iria estar em reforço da CCAÇ 2405, a coluna sofreu o rebentamento de uma mina (a/c ?) na viatura que seguia ao meu lado (nós estávamos apeados) e desse rebentamento um soldado madeirense, pela acção da mina, desintegrou-se. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri.

O Luís perguntava: então o lenço que estaria mais tarde e durante algum tempo pendurado numa árvore nesse itinerário seria dele? (4)

Presumo que sim, pois bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc… ficaram agarrados à árvore.

Seria essa a Companhia a que te referes?

Se foi, parece que não entraram na guerra com sorte e também não a tiveram depois. Consegues referenciar no tempo esse ataque? (4)

Poderei a partir daí confrontar as minhas notas, desconhecendo no entanto a denominação da tal Companhia.

Um abraço,
Carlos Marques dos Santos
Cart 2339 – Mansambo, sempre em diligências solitárias


___________

Notas de L.G.

(1) Vd post de 14 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIII: Portugal, tabanca grande (Humberto Reis e Paulo Raposo)


(2) Vd post de 24 de Janeiro de 2004 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: Um mês a feijão frade... e desenfiado (Mondajane, Dulombi, Galomaro, 1969)

(3) O tristemente famoso lenço pendurado numa árvore localizava-se algures no troço da Estrada Bambadinca-Mansambo, e não no subsector de Galomaro, na estrada para Mondajane, como suegere o CMS:

Vd post de 8 de Dezembro de 2005, no Blogue-Fora-Nada... e Vão Dois > Quinta-
Blogantologia(s) II - (22): Esquecer a Guiné

"(...) Um lenço de pescoço,
Desbotado, pelo sol, no ramo de uma árvore.
Um homem, um picador,
Que se desintegrou com uma mina à cabeça.
Uma mina anticarro.
Sobrou o lenço, vermelho,
Que ficou pendurado no alto de uma árvore.
Na estrada para Mansambo.
Eu costumava olhar para o teu lenço,
Picador e guia das nossas tropas,
Sempre que fazia segurança
Às colunas de reabastecimento
Que se dirigiam a Mansambo, Xitole e Saltinho.
Nunca soube o teu nome.
Nunca perguntei pelo teu nome.
Nunca me interessei por saber o teu nome.
Sei apenas que nesse dia
Ias ganhar manga de patacão
Por detectares e desmontares
Uma mina anticarro" (...).


(4) Vd post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)

" (...) Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24 [de Julho de 1969], à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.

"0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos].

"0 IN utilizou mort 60, lança-rockets e armas ligeiras, tendo danificado uma viatura e causado vári¬os feridos às NT. O primeiro ferido da CCAÇ 12 foi o soldado Sori Jau, do 3º GR Comb, evacuado no dia seguinte para o HM [Hospital Militar] 241 [Bissau] (...)".

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