pensando (bem...) em todos os homens e mulheres de boa vontade
que habitam o planeta azul.
incluindo tod@s @s car@s ciberamig@s
que fazem parte da minha mailing list.
onde quer que vocês estejam.
onde quer que vocês vivam.
de lisboa a florianópolis, de verona a toronto,
do porto a karlstad, de luanda a maputo...
uma saudação extensiva aos blogadores,
aos grandes e aos pequenos blogadores da blogosfera lusófona.
e aos leitores deste discreto blogue-fora-nada.
que em 2004 os criadores e as suas criaturas
não cometam (tantos) erros
(de programação, execução e controlo de qualidade).
como este aqui caricaturado no belíssimo filme de animação
com a assinatura do italiano bruno bozzetto
(clicar na hiperligação assinalada no final deste post).
ou, pelo menos, que possamos nós, pobres criaturas,
ser um pouco mais optimistas
em relação ao nosso futuro em 2004
do que em 2003.
feito o balanço, no último dia de cada ano,
temos sempre (a compulsiva) tendência para dizer e escrever
que foi mais um annus horribilis...
e muito provavelmente foi.
para muita gente foi um ano horrível.
gente que morreu de sida em áfrica.
que morreu no terramoto que destruiu bam, no irão, na rota das sedas.
ou aqui mais perto de nós:
gente que perdeu o emprego no vale do ave ou na península de setúbal.
gente que emigrou para a terra dos portugas
e que perdeu a esperança.
os portugas que envellhecem e perdem o direito de sorrir.
gente que nunca chegou a conhecer os aventureiros marco polo.
nem os burlescos berlusconi.
nem os clones dos saddam e dos bush.
ou simplesmente gente que teme pela liberdade
e pela democracia neste mundo já perigosamente musculado e demente.
gente que vive na eurolândia
e que gostaria de exigir muito mais aos seus líderes.
provavelmente somos (eu sou...) pessimistas profissionais.
umas criaturas mal nascidas e mal criadas...
mas a verdade é que o ano que passou não foi lá grande coisa.
para os portugas e para o resto da humanidade...
no novo mundo. em áfrica. na fortaleza de shengen.
na euroásia. na terra onde cristo nasceu.
no resto do planeta azul.
acho que as criaturas e os seus criadores
podiam ter feito muito melhor.
o meu voto no início do ano de 2004
é para pôr a fasquia... um centímetro mais alta
e exigir que a gente (portugas incluídos)
sejamos, individual e colectivamente, melhores
do que fomos em 2003.
http://www.bozzetto.com/Flash/Life.htm
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
31 dezembro 2003
Car@s ciberamig@s - IV: Animação para a despedida de mais um annus horribilis
pensando (bem...) em todos os homens e mulheres de boa vontade
que habitam o planeta azul.
incluindo tod@s @s car@s ciberamig@s
que fazem parte da minha mailing list.
onde quer que vocês estejam.
onde quer que vocês vivam.
de lisboa a florianópolis, de verona a toronto,
do porto a karlstad, de luanda a maputo...
uma saudação extensiva aos blogadores,
aos grandes e aos pequenos blogadores da blogosfera lusófona.
e aos leitores deste discreto blogue-fora-nada.
que em 2004 os criadores e as suas criaturas
não cometam (tantos) erros
(de programação, execução e controlo de qualidade).
como este aqui caricaturado no belíssimo filme de animação
com a assinatura do italiano bruno bozzetto
(clicar na hiperligação assinalada no final deste post).
ou, pelo menos, que possamos nós, pobres criaturas,
ser um pouco mais optimistas
em relação ao nosso futuro em 2004
do que em 2003.
feito o balanço, no último dia de cada ano,
temos sempre (a compulsiva) tendência para dizer e escrever
que foi mais um annus horribilis...
e muito provavelmente foi.
para muita gente foi um ano horrível.
gente que morreu de sida em áfrica.
que morreu no terramoto que destruiu bam, no irão, na rota das sedas.
ou aqui mais perto de nós:
gente que perdeu o emprego no vale do ave ou na península de setúbal.
gente que emigrou para a terra dos portugas
e que perdeu a esperança.
os portugas que envellhecem e perdem o direito de sorrir.
gente que nunca chegou a conhecer os aventureiros marco polo.
nem os burlescos berlusconi.
nem os clones dos saddam e dos bush.
ou simplesmente gente que teme pela liberdade
e pela democracia neste mundo já perigosamente musculado e demente.
gente que vive na eurolândia
e que gostaria de exigir muito mais aos seus líderes.
provavelmente somos (eu sou...) pessimistas profissionais.
umas criaturas mal nascidas e mal criadas...
mas a verdade é que o ano que passou não foi lá grande coisa.
para os portugas e para o resto da humanidade...
no novo mundo. em áfrica. na fortaleza de shengen.
na euroásia. na terra onde cristo nasceu.
no resto do planeta azul.
acho que as criaturas e os seus criadores
podiam ter feito muito melhor.
o meu voto no início do ano de 2004
é para pôr a fasquia... um centímetro mais alta
e exigir que a gente (portugas incluídos)
sejamos, individual e colectivamente, melhores
do que fomos em 2003.
http://www.bozzetto.com/Flash/Life.htm
que habitam o planeta azul.
incluindo tod@s @s car@s ciberamig@s
que fazem parte da minha mailing list.
onde quer que vocês estejam.
onde quer que vocês vivam.
de lisboa a florianópolis, de verona a toronto,
do porto a karlstad, de luanda a maputo...
uma saudação extensiva aos blogadores,
aos grandes e aos pequenos blogadores da blogosfera lusófona.
e aos leitores deste discreto blogue-fora-nada.
que em 2004 os criadores e as suas criaturas
não cometam (tantos) erros
(de programação, execução e controlo de qualidade).
como este aqui caricaturado no belíssimo filme de animação
com a assinatura do italiano bruno bozzetto
(clicar na hiperligação assinalada no final deste post).
ou, pelo menos, que possamos nós, pobres criaturas,
ser um pouco mais optimistas
em relação ao nosso futuro em 2004
do que em 2003.
feito o balanço, no último dia de cada ano,
temos sempre (a compulsiva) tendência para dizer e escrever
que foi mais um annus horribilis...
e muito provavelmente foi.
para muita gente foi um ano horrível.
gente que morreu de sida em áfrica.
que morreu no terramoto que destruiu bam, no irão, na rota das sedas.
ou aqui mais perto de nós:
gente que perdeu o emprego no vale do ave ou na península de setúbal.
gente que emigrou para a terra dos portugas
e que perdeu a esperança.
os portugas que envellhecem e perdem o direito de sorrir.
gente que nunca chegou a conhecer os aventureiros marco polo.
nem os burlescos berlusconi.
nem os clones dos saddam e dos bush.
ou simplesmente gente que teme pela liberdade
e pela democracia neste mundo já perigosamente musculado e demente.
gente que vive na eurolândia
e que gostaria de exigir muito mais aos seus líderes.
provavelmente somos (eu sou...) pessimistas profissionais.
umas criaturas mal nascidas e mal criadas...
mas a verdade é que o ano que passou não foi lá grande coisa.
para os portugas e para o resto da humanidade...
no novo mundo. em áfrica. na fortaleza de shengen.
na euroásia. na terra onde cristo nasceu.
no resto do planeta azul.
acho que as criaturas e os seus criadores
podiam ter feito muito melhor.
o meu voto no início do ano de 2004
é para pôr a fasquia... um centímetro mais alta
e exigir que a gente (portugas incluídos)
sejamos, individual e colectivamente, melhores
do que fomos em 2003.
http://www.bozzetto.com/Flash/Life.htm
21 dezembro 2003
Socio(b)logia - III: O que fazer desta satisfação ?
Há uma base (a trigésima...) da Lei de Bases da Saúde (Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto de 1990) que diz que o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (abreviadamente, SNS) deverá ser avaliado através dos seguintes indicadores (entre outros): (i) a qualidade dos serviços, (ii) o seu grau de aceitação pela população utente, (iii) o nível de satisfação dos profissionais e (iv) a razoabilidade da utilização dos recursos em termos de custos e benefícios.
Eu acho que o disposto neste diploma legal (ou pelo menos na tal Base XXX) tem sido letra morta, pelo menos no que diz respeito à avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde que trabalham no SNS. Nunca ouvi, a nenhum Ministro da Saúde, desde o tempo de Leonor Beleza até agora, dizer publicamente que a satisfação profissional dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde é um dos indicadores de avaliação do SNS e que, como tal, faz parte do painel de bordo instalado no edifício do n.º 9 da Av. João Crisóstomo, em Lisboa (Para quem não sabe, é a sede do Ministério da Saúde).
Todo o discurso da saúde tem sido centrado no utente, como mandam as boas regras do marketing. E ainda bem: é o utente que é (ou deveria ser) o centro do sistema. Mas não se pode escamotear ou ignorar o papel dos prestadores dos cuidados de saúde. A satisfação profissional é (i) um indicador do clima organizacional, mas também (ii) um elemento determinante da avaliação da qualidade, a par da satisfação dos clientes.
Há muito, talvez desde a publicação, em 1999, do MoniQuor – Monitorização da Qualidade Organizacional dos Centros de Saúde, que eu não tenho ouvido falar deste tópico. No documento Contributos para um Plano Nacional de Saúde: Orientações Estratégicas (Direcção Geral de Saúde, 2003), há uma referência a projectos em curso no domínio da avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde, a par da satisfação dos utentes.
Diga-se, de passagem, que são projectos que vêm na sequência do louvável esforço do Instituto da Qualidade em Saúde (IQS) para desenvolver a cultura da qualidade organizacional no sistema de saúde português. Cultura que falta (ou que tarda a chegar ) aos nossos hospitais e centros de saúde.
Por outro lado, não há suficientes indícios de que a realização destes estudos, bem como a divulgação e a discussão das suas conclusões, estejam a merecer a devida atenção da tutela do SNS bem como das administrações regionais de saúde e das direcções dos hospitais. E até dos próprios profissionais de saúde, a começar pelos médicos e as suas organizações.
Eu receio que possamos vir a estar, no futuro, perante uma utilização abusiva dos resultados de estudos de avaliação da satisfação, seja dos utentes seja dos profissionais do SNS, para legitimar ou contestar orientações estratégicas, medidas políticas, alterações legislativas ou intervenções organizacionais. É possível que em breve possamos cair na tentação de fazer da avaliação periódica da satisfação dos clientes do SNS, tanto externos como internos, o mesmo que os jornais fazem das sondagens e estudos de opinião dos eleitores.
Dizem os políticos que não se pode governar com sondagens. E, de facto, mal andaria a nossa democracia se os governos decidissem apenas em função da opinião (volátil ou conjuntural) de amostras eleitorais.
Há questões teóricas e metodológicas no estudo de satisfação que eu nunca vi minimamente discutidas entre nós, no âmbito da administração de serviços de saúde, a não ser no contexto muito restrito de trabalhos de índole académica. Por exemplo, questões como a validade e a fiabilidade das escalas de atitudes e dos questionários de opinião que nós usamos.
Independentemente de tudo isso, resta a questão (primordial) de se saber o que vamos fazer com a maior ou menor satisfação dos nossos utentes e dos nossos profissionais de saúde.
No final da década de 1990, havia reconhecidamente uma dimensão em que, a par das questões remuneratórias, os profissionais de saúde (v.g., médicos de família, enfermeiros, administrativos e outro pessoal de apoio nos centros de saúde) apresentavam elevados níveis de não-satisfação. Tratava-se da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (abreviadamente, SH&ST). É legítimo perguntarmo-nos o que é que o SNS, enquanto empregador, fez nestes três primeiros anos do Século XXI para prevenir os riscos profissionais e promover a saúde dos seus trabalhadores...
Eu acho que fez pouco, muito pouco, quase nada ou nada... Falo das suas obrigações legais. E a prova disso é que há um estranho silêncio nas páginas, na Internet, do Ministério da Saúde e da Direcção Geral de Saúde a respeito desta questão...
Um silêncio não só estranho como incómodo: é que os profissionais de saúde, além de (i) não serem de ferro (é bom lembrá-lo!), (ii) também são gente. E depois acontece ainda que (iii) os trabalhadores do SNS deviam a ser os primeiros de todos a darem o exemplo, o de trabalhadores activos, produtivos, satisfeitos e saudáveis.
Na década de 1990, o SNS inglês adoptou, de modo coerente e integrado, (i) uma estratégia nacional de saúde (Our Healthier Nation, 1992 e 1999), (ii) um plano de desenvolvimento estratégico dos seus recursos humanos (Working Together: Securing a Quality Workforce for the NHS, 1998) e (iii) uma política de protecção e promoção da saúde dos seus trabalhadores (Framework for Action: Health at Work in the NHS, 1999).
O ministro da saúde inglês, Alan Milburn, escreveu na altura, no prefácio ao documento Working together (1998), as seguintes palavras: "First class health care delivered by first class staff also requires first class employers".
Como nós gostaríamos de ler, em documentos de estratégia semelhantes, escritos em português, uma frase semelhante, que fosse ao mesmos tempo um desafio e uma oportunidade para administradores, trabalhadores e utentes do SNS: “Meus senhores, cuidados de saúde de primeira classe, prestados por profissionais de primeira classe, também exigem empregadores e gestores de primeira classe”.
A gente já se contava com uma classificação deste nível, a de primeira classe. Que a classificação “de luxo”, essa, bem podia exportar-se para um qualquer país das arábias.
Eu acho que o disposto neste diploma legal (ou pelo menos na tal Base XXX) tem sido letra morta, pelo menos no que diz respeito à avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde que trabalham no SNS. Nunca ouvi, a nenhum Ministro da Saúde, desde o tempo de Leonor Beleza até agora, dizer publicamente que a satisfação profissional dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde é um dos indicadores de avaliação do SNS e que, como tal, faz parte do painel de bordo instalado no edifício do n.º 9 da Av. João Crisóstomo, em Lisboa (Para quem não sabe, é a sede do Ministério da Saúde).
Todo o discurso da saúde tem sido centrado no utente, como mandam as boas regras do marketing. E ainda bem: é o utente que é (ou deveria ser) o centro do sistema. Mas não se pode escamotear ou ignorar o papel dos prestadores dos cuidados de saúde. A satisfação profissional é (i) um indicador do clima organizacional, mas também (ii) um elemento determinante da avaliação da qualidade, a par da satisfação dos clientes.
Há muito, talvez desde a publicação, em 1999, do MoniQuor – Monitorização da Qualidade Organizacional dos Centros de Saúde, que eu não tenho ouvido falar deste tópico. No documento Contributos para um Plano Nacional de Saúde: Orientações Estratégicas (Direcção Geral de Saúde, 2003), há uma referência a projectos em curso no domínio da avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde, a par da satisfação dos utentes.
Diga-se, de passagem, que são projectos que vêm na sequência do louvável esforço do Instituto da Qualidade em Saúde (IQS) para desenvolver a cultura da qualidade organizacional no sistema de saúde português. Cultura que falta (ou que tarda a chegar ) aos nossos hospitais e centros de saúde.
Por outro lado, não há suficientes indícios de que a realização destes estudos, bem como a divulgação e a discussão das suas conclusões, estejam a merecer a devida atenção da tutela do SNS bem como das administrações regionais de saúde e das direcções dos hospitais. E até dos próprios profissionais de saúde, a começar pelos médicos e as suas organizações.
Eu receio que possamos vir a estar, no futuro, perante uma utilização abusiva dos resultados de estudos de avaliação da satisfação, seja dos utentes seja dos profissionais do SNS, para legitimar ou contestar orientações estratégicas, medidas políticas, alterações legislativas ou intervenções organizacionais. É possível que em breve possamos cair na tentação de fazer da avaliação periódica da satisfação dos clientes do SNS, tanto externos como internos, o mesmo que os jornais fazem das sondagens e estudos de opinião dos eleitores.
Dizem os políticos que não se pode governar com sondagens. E, de facto, mal andaria a nossa democracia se os governos decidissem apenas em função da opinião (volátil ou conjuntural) de amostras eleitorais.
Há questões teóricas e metodológicas no estudo de satisfação que eu nunca vi minimamente discutidas entre nós, no âmbito da administração de serviços de saúde, a não ser no contexto muito restrito de trabalhos de índole académica. Por exemplo, questões como a validade e a fiabilidade das escalas de atitudes e dos questionários de opinião que nós usamos.
Independentemente de tudo isso, resta a questão (primordial) de se saber o que vamos fazer com a maior ou menor satisfação dos nossos utentes e dos nossos profissionais de saúde.
No final da década de 1990, havia reconhecidamente uma dimensão em que, a par das questões remuneratórias, os profissionais de saúde (v.g., médicos de família, enfermeiros, administrativos e outro pessoal de apoio nos centros de saúde) apresentavam elevados níveis de não-satisfação. Tratava-se da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (abreviadamente, SH&ST). É legítimo perguntarmo-nos o que é que o SNS, enquanto empregador, fez nestes três primeiros anos do Século XXI para prevenir os riscos profissionais e promover a saúde dos seus trabalhadores...
Eu acho que fez pouco, muito pouco, quase nada ou nada... Falo das suas obrigações legais. E a prova disso é que há um estranho silêncio nas páginas, na Internet, do Ministério da Saúde e da Direcção Geral de Saúde a respeito desta questão...
Um silêncio não só estranho como incómodo: é que os profissionais de saúde, além de (i) não serem de ferro (é bom lembrá-lo!), (ii) também são gente. E depois acontece ainda que (iii) os trabalhadores do SNS deviam a ser os primeiros de todos a darem o exemplo, o de trabalhadores activos, produtivos, satisfeitos e saudáveis.
Na década de 1990, o SNS inglês adoptou, de modo coerente e integrado, (i) uma estratégia nacional de saúde (Our Healthier Nation, 1992 e 1999), (ii) um plano de desenvolvimento estratégico dos seus recursos humanos (Working Together: Securing a Quality Workforce for the NHS, 1998) e (iii) uma política de protecção e promoção da saúde dos seus trabalhadores (Framework for Action: Health at Work in the NHS, 1999).
O ministro da saúde inglês, Alan Milburn, escreveu na altura, no prefácio ao documento Working together (1998), as seguintes palavras: "First class health care delivered by first class staff also requires first class employers".
Como nós gostaríamos de ler, em documentos de estratégia semelhantes, escritos em português, uma frase semelhante, que fosse ao mesmos tempo um desafio e uma oportunidade para administradores, trabalhadores e utentes do SNS: “Meus senhores, cuidados de saúde de primeira classe, prestados por profissionais de primeira classe, também exigem empregadores e gestores de primeira classe”.
A gente já se contava com uma classificação deste nível, a de primeira classe. Que a classificação “de luxo”, essa, bem podia exportar-se para um qualquer país das arábias.
Socio(b)logia - III: O que fazer desta satisfação ?
Há uma base (a trigésima...) da Lei de Bases da Saúde (Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto de 1990) que diz que o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (abreviadamente, SNS) deverá ser avaliado através dos seguintes indicadores (entre outros): (i) a qualidade dos serviços, (ii) o seu grau de aceitação pela população utente, (iii) o nível de satisfação dos profissionais e (iv) a razoabilidade da utilização dos recursos em termos de custos e benefícios.
Eu acho que o disposto neste diploma legal (ou pelo menos na tal Base XXX) tem sido letra morta, pelo menos no que diz respeito à avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde que trabalham no SNS. Nunca ouvi, a nenhum Ministro da Saúde, desde o tempo de Leonor Beleza até agora, dizer publicamente que a satisfação profissional dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde é um dos indicadores de avaliação do SNS e que, como tal, faz parte do painel de bordo instalado no edifício do n.º 9 da Av. João Crisóstomo, em Lisboa (Para quem não sabe, é a sede do Ministério da Saúde).
Todo o discurso da saúde tem sido centrado no utente, como mandam as boas regras do marketing. E ainda bem: é o utente que é (ou deveria ser) o centro do sistema. Mas não se pode escamotear ou ignorar o papel dos prestadores dos cuidados de saúde. A satisfação profissional é (i) um indicador do clima organizacional, mas também (ii) um elemento determinante da avaliação da qualidade, a par da satisfação dos clientes.
Há muito, talvez desde a publicação, em 1999, do MoniQuor – Monitorização da Qualidade Organizacional dos Centros de Saúde, que eu não tenho ouvido falar deste tópico. No documento Contributos para um Plano Nacional de Saúde: Orientações Estratégicas (Direcção Geral de Saúde, 2003), há uma referência a projectos em curso no domínio da avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde, a par da satisfação dos utentes.
Diga-se, de passagem, que são projectos que vêm na sequência do louvável esforço do Instituto da Qualidade em Saúde (IQS) para desenvolver a cultura da qualidade organizacional no sistema de saúde português. Cultura que falta (ou que tarda a chegar ) aos nossos hospitais e centros de saúde.
Por outro lado, não há suficientes indícios de que a realização destes estudos, bem como a divulgação e a discussão das suas conclusões, estejam a merecer a devida atenção da tutela do SNS bem como das administrações regionais de saúde e das direcções dos hospitais. E até dos próprios profissionais de saúde, a começar pelos médicos e as suas organizações.
Eu receio que possamos vir a estar, no futuro, perante uma utilização abusiva dos resultados de estudos de avaliação da satisfação, seja dos utentes seja dos profissionais do SNS, para legitimar ou contestar orientações estratégicas, medidas políticas, alterações legislativas ou intervenções organizacionais. É possível que em breve possamos cair na tentação de fazer da avaliação periódica da satisfação dos clientes do SNS, tanto externos como internos, o mesmo que os jornais fazem das sondagens e estudos de opinião dos eleitores.
Dizem os políticos que não se pode governar com sondagens. E, de facto, mal andaria a nossa democracia se os governos decidissem apenas em função da opinião (volátil ou conjuntural) de amostras eleitorais.
Há questões teóricas e metodológicas no estudo de satisfação que eu nunca vi minimamente discutidas entre nós, no âmbito da administração de serviços de saúde, a não ser no contexto muito restrito de trabalhos de índole académica. Por exemplo, questões como a validade e a fiabilidade das escalas de atitudes e dos questionários de opinião que nós usamos.
Independentemente de tudo isso, resta a questão (primordial) de se saber o que vamos fazer com a maior ou menor satisfação dos nossos utentes e dos nossos profissionais de saúde.
No final da década de 1990, havia reconhecidamente uma dimensão em que, a par das questões remuneratórias, os profissionais de saúde (v.g., médicos de família, enfermeiros, administrativos e outro pessoal de apoio nos centros de saúde) apresentavam elevados níveis de não-satisfação. Tratava-se da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (abreviadamente, SH&ST). É legítimo perguntarmo-nos o que é que o SNS, enquanto empregador, fez nestes três primeiros anos do Século XXI para prevenir os riscos profissionais e promover a saúde dos seus trabalhadores...
Eu acho que fez pouco, muito pouco, quase nada ou nada... Falo das suas obrigações legais. E a prova disso é que há um estranho silêncio nas páginas, na Internet, do Ministério da Saúde e da Direcção Geral de Saúde a respeito desta questão...
Um silêncio não só estranho como incómodo: é que os profissionais de saúde, além de (i) não serem de ferro (é bom lembrá-lo!), (ii) também são gente. E depois acontece ainda que (iii) os trabalhadores do SNS deviam a ser os primeiros de todos a darem o exemplo, o de trabalhadores activos, produtivos, satisfeitos e saudáveis.
Na década de 1990, o SNS inglês adoptou, de modo coerente e integrado, (i) uma estratégia nacional de saúde (Our Healthier Nation, 1992 e 1999), (ii) um plano de desenvolvimento estratégico dos seus recursos humanos (Working Together: Securing a Quality Workforce for the NHS, 1998) e (iii) uma política de protecção e promoção da saúde dos seus trabalhadores (Framework for Action: Health at Work in the NHS, 1999).
O ministro da saúde inglês, Alan Milburn, escreveu na altura, no prefácio ao documento Working together (1998), as seguintes palavras: "First class health care delivered by first class staff also requires first class employers".
Como nós gostaríamos de ler, em documentos de estratégia semelhantes, escritos em português, uma frase semelhante, que fosse ao mesmos tempo um desafio e uma oportunidade para administradores, trabalhadores e utentes do SNS: “Meus senhores, cuidados de saúde de primeira classe, prestados por profissionais de primeira classe, também exigem empregadores e gestores de primeira classe”.
A gente já se contava com uma classificação deste nível, a de primeira classe. Que a classificação “de luxo”, essa, bem podia exportar-se para um qualquer país das arábias.
Eu acho que o disposto neste diploma legal (ou pelo menos na tal Base XXX) tem sido letra morta, pelo menos no que diz respeito à avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde que trabalham no SNS. Nunca ouvi, a nenhum Ministro da Saúde, desde o tempo de Leonor Beleza até agora, dizer publicamente que a satisfação profissional dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde é um dos indicadores de avaliação do SNS e que, como tal, faz parte do painel de bordo instalado no edifício do n.º 9 da Av. João Crisóstomo, em Lisboa (Para quem não sabe, é a sede do Ministério da Saúde).
Todo o discurso da saúde tem sido centrado no utente, como mandam as boas regras do marketing. E ainda bem: é o utente que é (ou deveria ser) o centro do sistema. Mas não se pode escamotear ou ignorar o papel dos prestadores dos cuidados de saúde. A satisfação profissional é (i) um indicador do clima organizacional, mas também (ii) um elemento determinante da avaliação da qualidade, a par da satisfação dos clientes.
Há muito, talvez desde a publicação, em 1999, do MoniQuor – Monitorização da Qualidade Organizacional dos Centros de Saúde, que eu não tenho ouvido falar deste tópico. No documento Contributos para um Plano Nacional de Saúde: Orientações Estratégicas (Direcção Geral de Saúde, 2003), há uma referência a projectos em curso no domínio da avaliação da satisfação profissional dos profissionais de saúde, a par da satisfação dos utentes.
Diga-se, de passagem, que são projectos que vêm na sequência do louvável esforço do Instituto da Qualidade em Saúde (IQS) para desenvolver a cultura da qualidade organizacional no sistema de saúde português. Cultura que falta (ou que tarda a chegar ) aos nossos hospitais e centros de saúde.
Por outro lado, não há suficientes indícios de que a realização destes estudos, bem como a divulgação e a discussão das suas conclusões, estejam a merecer a devida atenção da tutela do SNS bem como das administrações regionais de saúde e das direcções dos hospitais. E até dos próprios profissionais de saúde, a começar pelos médicos e as suas organizações.
Eu receio que possamos vir a estar, no futuro, perante uma utilização abusiva dos resultados de estudos de avaliação da satisfação, seja dos utentes seja dos profissionais do SNS, para legitimar ou contestar orientações estratégicas, medidas políticas, alterações legislativas ou intervenções organizacionais. É possível que em breve possamos cair na tentação de fazer da avaliação periódica da satisfação dos clientes do SNS, tanto externos como internos, o mesmo que os jornais fazem das sondagens e estudos de opinião dos eleitores.
Dizem os políticos que não se pode governar com sondagens. E, de facto, mal andaria a nossa democracia se os governos decidissem apenas em função da opinião (volátil ou conjuntural) de amostras eleitorais.
Há questões teóricas e metodológicas no estudo de satisfação que eu nunca vi minimamente discutidas entre nós, no âmbito da administração de serviços de saúde, a não ser no contexto muito restrito de trabalhos de índole académica. Por exemplo, questões como a validade e a fiabilidade das escalas de atitudes e dos questionários de opinião que nós usamos.
Independentemente de tudo isso, resta a questão (primordial) de se saber o que vamos fazer com a maior ou menor satisfação dos nossos utentes e dos nossos profissionais de saúde.
No final da década de 1990, havia reconhecidamente uma dimensão em que, a par das questões remuneratórias, os profissionais de saúde (v.g., médicos de família, enfermeiros, administrativos e outro pessoal de apoio nos centros de saúde) apresentavam elevados níveis de não-satisfação. Tratava-se da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (abreviadamente, SH&ST). É legítimo perguntarmo-nos o que é que o SNS, enquanto empregador, fez nestes três primeiros anos do Século XXI para prevenir os riscos profissionais e promover a saúde dos seus trabalhadores...
Eu acho que fez pouco, muito pouco, quase nada ou nada... Falo das suas obrigações legais. E a prova disso é que há um estranho silêncio nas páginas, na Internet, do Ministério da Saúde e da Direcção Geral de Saúde a respeito desta questão...
Um silêncio não só estranho como incómodo: é que os profissionais de saúde, além de (i) não serem de ferro (é bom lembrá-lo!), (ii) também são gente. E depois acontece ainda que (iii) os trabalhadores do SNS deviam a ser os primeiros de todos a darem o exemplo, o de trabalhadores activos, produtivos, satisfeitos e saudáveis.
Na década de 1990, o SNS inglês adoptou, de modo coerente e integrado, (i) uma estratégia nacional de saúde (Our Healthier Nation, 1992 e 1999), (ii) um plano de desenvolvimento estratégico dos seus recursos humanos (Working Together: Securing a Quality Workforce for the NHS, 1998) e (iii) uma política de protecção e promoção da saúde dos seus trabalhadores (Framework for Action: Health at Work in the NHS, 1999).
O ministro da saúde inglês, Alan Milburn, escreveu na altura, no prefácio ao documento Working together (1998), as seguintes palavras: "First class health care delivered by first class staff also requires first class employers".
Como nós gostaríamos de ler, em documentos de estratégia semelhantes, escritos em português, uma frase semelhante, que fosse ao mesmos tempo um desafio e uma oportunidade para administradores, trabalhadores e utentes do SNS: “Meus senhores, cuidados de saúde de primeira classe, prestados por profissionais de primeira classe, também exigem empregadores e gestores de primeira classe”.
A gente já se contava com uma classificação deste nível, a de primeira classe. Que a classificação “de luxo”, essa, bem podia exportar-se para um qualquer país das arábias.
20 dezembro 2003
Car@s ciberamig@s - III: Cibersaudações natalícias
1. Este ano, ante o assédio pornográfico do Pai Natal, deu-me na veneta mandar imagens de grutas para @s ciberamig@s da minha mailing lista de gente gira (leia-se: bem humorada). Imagens que transmitissem um sentimento de pureza, silêncio, quietude, poesia, natureza, liberdade livre...
Imagens para gente esquecer: (i) o lado feio deste mundo, (ii) o Bush, o Saddam e os seus clones, (iii) o consumo compulsivo, (iv) a poluição estética dos nossos antros comerciais, (v) etc., etc., incluindo a tristeza dos subúrbios onde a gente dorme. Imagens para a gente reconciliar-se com o verdadeiro Natal. O da nossa infância. Ou pelo menos o da minha infância... O Natal simples das pessoas simples, a que eu sempre associo a imagem da gruta, da lapinha, do presépio...
Esqueçamos por uns breves segundos a lista das compras que ainda falta fazer até à véspera da consoada-do-bacalhau-com-grelhos-e-bolo-rei e o stresse festivaleiro destes dias... Ah!, e cuidado com o castrol!!!
Se o corpo aguentar e o cibertráfico não entupir (o Clix já me está está a clixar com ameaças de ciberrengarrafamentos nestes próximos dias...), aqui ficam, de reserva, para o que der e vier, as minhas melhores cibersaudações natalícias. É da praxe, e eu gosto de cumprir a tradição. Afinal sou um gajo minimamente civilizado.
Car@s Ciberamig@s: Qualquer que seja o vosso Natal (cristão, pagão, ateu, consumista, materialista dialéctico, neoliberal, capitalista, conservador, judeu, muçulmano, budista ou ene-ista qualquer coisa), que ele nos purifique, tonifique e inspire a todos.
A tod@s vocês, car@s ciberamig@s, onde quer que estejam no ciberespaço eu desejo que continuem, ao longo de 2004, a serem @s ciberamig@s que eu sempre conheci: activ@s, produtiv@s, saudáveis, bem dispost@s, razoavelmente bem humorad@s, irreverentes q.b., crític@s (sempre) mas também amig@s (vez em quando) deste ciberamigo.
A Paula merece um brinde especial por que é uma fornecedora especial da minha ciberloja... E o Pena Luís não lhe fica atrás. Mas também o Anacleto, a Marta, os Manéis (Madeira, Salselas), os Mários (Madureira, Faria), o Paulo, a Mariana, a Susana, a Sandra... E ainda a AIG, o Álvaro, a Antónia, o Carlos, o Filipe, o Hugo, o Jaime, a Joana, o (Padre) Jakim, a Zezinha, o Zé Cardoso, tudo moiros & morcões do melhor. Portugas, acima de tudo e de todos. Façam o favor de serem felizes!
2. E depois há os querid@s amig@s com criancinhas! Ora, para todos vocês que têm criancinhas, incluindo os pais das criancinhas que ainda não pararam de crescer, mais @s man@s das criancinhas que se recusam a crescer...
A gente deseja-vos tudo o que há de bom neste mundo, desde que não vos faça mal, a vocês e às criancinhas... Façam o favor de, no mínimo, se divertirem, as criancinhas, os manos e os pais... A gente vai tentar e depois diz como foi. Muitos bjs e chicorações, que a quadra natalícia é propícia para estes doces eflúvios emocionais. (Mensagem de família).
http://web.icq.com/shockwave/0,,4845,00.swf
PS - Isto não é um assalto, é uma orquestra adhoc... É favor de clicar na rapaziada toda. Sem som, não tem piada nenhuma...
Imagens para gente esquecer: (i) o lado feio deste mundo, (ii) o Bush, o Saddam e os seus clones, (iii) o consumo compulsivo, (iv) a poluição estética dos nossos antros comerciais, (v) etc., etc., incluindo a tristeza dos subúrbios onde a gente dorme. Imagens para a gente reconciliar-se com o verdadeiro Natal. O da nossa infância. Ou pelo menos o da minha infância... O Natal simples das pessoas simples, a que eu sempre associo a imagem da gruta, da lapinha, do presépio...
Esqueçamos por uns breves segundos a lista das compras que ainda falta fazer até à véspera da consoada-do-bacalhau-com-grelhos-e-bolo-rei e o stresse festivaleiro destes dias... Ah!, e cuidado com o castrol!!!
Se o corpo aguentar e o cibertráfico não entupir (o Clix já me está está a clixar com ameaças de ciberrengarrafamentos nestes próximos dias...), aqui ficam, de reserva, para o que der e vier, as minhas melhores cibersaudações natalícias. É da praxe, e eu gosto de cumprir a tradição. Afinal sou um gajo minimamente civilizado.
Car@s Ciberamig@s: Qualquer que seja o vosso Natal (cristão, pagão, ateu, consumista, materialista dialéctico, neoliberal, capitalista, conservador, judeu, muçulmano, budista ou ene-ista qualquer coisa), que ele nos purifique, tonifique e inspire a todos.
A tod@s vocês, car@s ciberamig@s, onde quer que estejam no ciberespaço eu desejo que continuem, ao longo de 2004, a serem @s ciberamig@s que eu sempre conheci: activ@s, produtiv@s, saudáveis, bem dispost@s, razoavelmente bem humorad@s, irreverentes q.b., crític@s (sempre) mas também amig@s (vez em quando) deste ciberamigo.
A Paula merece um brinde especial por que é uma fornecedora especial da minha ciberloja... E o Pena Luís não lhe fica atrás. Mas também o Anacleto, a Marta, os Manéis (Madeira, Salselas), os Mários (Madureira, Faria), o Paulo, a Mariana, a Susana, a Sandra... E ainda a AIG, o Álvaro, a Antónia, o Carlos, o Filipe, o Hugo, o Jaime, a Joana, o (Padre) Jakim, a Zezinha, o Zé Cardoso, tudo moiros & morcões do melhor. Portugas, acima de tudo e de todos. Façam o favor de serem felizes!
2. E depois há os querid@s amig@s com criancinhas! Ora, para todos vocês que têm criancinhas, incluindo os pais das criancinhas que ainda não pararam de crescer, mais @s man@s das criancinhas que se recusam a crescer...
A gente deseja-vos tudo o que há de bom neste mundo, desde que não vos faça mal, a vocês e às criancinhas... Façam o favor de, no mínimo, se divertirem, as criancinhas, os manos e os pais... A gente vai tentar e depois diz como foi. Muitos bjs e chicorações, que a quadra natalícia é propícia para estes doces eflúvios emocionais. (Mensagem de família).
http://web.icq.com/shockwave/0,,4845,00.swf
PS - Isto não é um assalto, é uma orquestra adhoc... É favor de clicar na rapaziada toda. Sem som, não tem piada nenhuma...
Car@s ciberamig@s - III: Cibersaudações natalícias
1. Este ano, ante o assédio pornográfico do Pai Natal, deu-me na veneta mandar imagens de grutas para @s ciberamig@s da minha mailing lista de gente gira (leia-se: bem humorada). Imagens que transmitissem um sentimento de pureza, silêncio, quietude, poesia, natureza, liberdade livre...
Imagens para gente esquecer: (i) o lado feio deste mundo, (ii) o Bush, o Saddam e os seus clones, (iii) o consumo compulsivo, (iv) a poluição estética dos nossos antros comerciais, (v) etc., etc., incluindo a tristeza dos subúrbios onde a gente dorme. Imagens para a gente reconciliar-se com o verdadeiro Natal. O da nossa infância. Ou pelo menos o da minha infância... O Natal simples das pessoas simples, a que eu sempre associo a imagem da gruta, da lapinha, do presépio...
Esqueçamos por uns breves segundos a lista das compras que ainda falta fazer até à véspera da consoada-do-bacalhau-com-grelhos-e-bolo-rei e o stresse festivaleiro destes dias... Ah!, e cuidado com o castrol!!!
Se o corpo aguentar e o cibertráfico não entupir (o Clix já me está está a clixar com ameaças de ciberrengarrafamentos nestes próximos dias...), aqui ficam, de reserva, para o que der e vier, as minhas melhores cibersaudações natalícias. É da praxe, e eu gosto de cumprir a tradição. Afinal sou um gajo minimamente civilizado.
Car@s Ciberamig@s: Qualquer que seja o vosso Natal (cristão, pagão, ateu, consumista, materialista dialéctico, neoliberal, capitalista, conservador, judeu, muçulmano, budista ou ene-ista qualquer coisa), que ele nos purifique, tonifique e inspire a todos.
A tod@s vocês, car@s ciberamig@s, onde quer que estejam no ciberespaço eu desejo que continuem, ao longo de 2004, a serem @s ciberamig@s que eu sempre conheci: activ@s, produtiv@s, saudáveis, bem dispost@s, razoavelmente bem humorad@s, irreverentes q.b., crític@s (sempre) mas também amig@s (vez em quando) deste ciberamigo.
A Paula merece um brinde especial por que é uma fornecedora especial da minha ciberloja... E o Pena Luís não lhe fica atrás. Mas também o Anacleto, a Marta, os Manéis (Madeira, Salselas), os Mários (Madureira, Faria), o Paulo, a Mariana, a Susana, a Sandra... E ainda a AIG, o Álvaro, a Antónia, o Carlos, o Filipe, o Hugo, o Jaime, a Joana, o (Padre) Jakim, a Zezinha, o Zé Cardoso, tudo moiros & morcões do melhor. Portugas, acima de tudo e de todos. Façam o favor de serem felizes!
2. E depois há os querid@s amig@s com criancinhas! Ora, para todos vocês que têm criancinhas, incluindo os pais das criancinhas que ainda não pararam de crescer, mais @s man@s das criancinhas que se recusam a crescer...
A gente deseja-vos tudo o que há de bom neste mundo, desde que não vos faça mal, a vocês e às criancinhas... Façam o favor de, no mínimo, se divertirem, as criancinhas, os manos e os pais... A gente vai tentar e depois diz como foi. Muitos bjs e chicorações, que a quadra natalícia é propícia para estes doces eflúvios emocionais. (Mensagem de família).
http://web.icq.com/shockwave/0,,4845,00.swf
PS - Isto não é um assalto, é uma orquestra adhoc... É favor de clicar na rapaziada toda. Sem som, não tem piada nenhuma...
Imagens para gente esquecer: (i) o lado feio deste mundo, (ii) o Bush, o Saddam e os seus clones, (iii) o consumo compulsivo, (iv) a poluição estética dos nossos antros comerciais, (v) etc., etc., incluindo a tristeza dos subúrbios onde a gente dorme. Imagens para a gente reconciliar-se com o verdadeiro Natal. O da nossa infância. Ou pelo menos o da minha infância... O Natal simples das pessoas simples, a que eu sempre associo a imagem da gruta, da lapinha, do presépio...
Esqueçamos por uns breves segundos a lista das compras que ainda falta fazer até à véspera da consoada-do-bacalhau-com-grelhos-e-bolo-rei e o stresse festivaleiro destes dias... Ah!, e cuidado com o castrol!!!
Se o corpo aguentar e o cibertráfico não entupir (o Clix já me está está a clixar com ameaças de ciberrengarrafamentos nestes próximos dias...), aqui ficam, de reserva, para o que der e vier, as minhas melhores cibersaudações natalícias. É da praxe, e eu gosto de cumprir a tradição. Afinal sou um gajo minimamente civilizado.
Car@s Ciberamig@s: Qualquer que seja o vosso Natal (cristão, pagão, ateu, consumista, materialista dialéctico, neoliberal, capitalista, conservador, judeu, muçulmano, budista ou ene-ista qualquer coisa), que ele nos purifique, tonifique e inspire a todos.
A tod@s vocês, car@s ciberamig@s, onde quer que estejam no ciberespaço eu desejo que continuem, ao longo de 2004, a serem @s ciberamig@s que eu sempre conheci: activ@s, produtiv@s, saudáveis, bem dispost@s, razoavelmente bem humorad@s, irreverentes q.b., crític@s (sempre) mas também amig@s (vez em quando) deste ciberamigo.
A Paula merece um brinde especial por que é uma fornecedora especial da minha ciberloja... E o Pena Luís não lhe fica atrás. Mas também o Anacleto, a Marta, os Manéis (Madeira, Salselas), os Mários (Madureira, Faria), o Paulo, a Mariana, a Susana, a Sandra... E ainda a AIG, o Álvaro, a Antónia, o Carlos, o Filipe, o Hugo, o Jaime, a Joana, o (Padre) Jakim, a Zezinha, o Zé Cardoso, tudo moiros & morcões do melhor. Portugas, acima de tudo e de todos. Façam o favor de serem felizes!
2. E depois há os querid@s amig@s com criancinhas! Ora, para todos vocês que têm criancinhas, incluindo os pais das criancinhas que ainda não pararam de crescer, mais @s man@s das criancinhas que se recusam a crescer...
A gente deseja-vos tudo o que há de bom neste mundo, desde que não vos faça mal, a vocês e às criancinhas... Façam o favor de, no mínimo, se divertirem, as criancinhas, os manos e os pais... A gente vai tentar e depois diz como foi. Muitos bjs e chicorações, que a quadra natalícia é propícia para estes doces eflúvios emocionais. (Mensagem de família).
http://web.icq.com/shockwave/0,,4845,00.swf
PS - Isto não é um assalto, é uma orquestra adhoc... É favor de clicar na rapaziada toda. Sem som, não tem piada nenhuma...
19 dezembro 2003
Portugal sacro-profano - XIII: O Alentejo, os ficalheiros, o cante, a viola campaniça, um CD
Não é propriamente por causa da blogaria do Natal e da estranha pulsão das compras que ataca o portuga por esta ocasião do ano... Mas já agora que tens que gastar a guita que não tens, aqui fica uma sugestão do Blogador. Se tu gostas do Alentejo, das suas gentes, do seu cante, da viola campaniça, oferece neste Natal aos teus amigos o CD Serões do Alentejo (Editora - Edições Convite à Música).
Trata-se de um trabalho singelo, modesto, mas sério e escorreito de recolha de música e poesia de gente talentosa e generosa. Um grupo de amigos de Vila Verde de Ficalho, a aldeia raiana da margem esquerda do Guadiana, também conhecida como a aldeia sem tabaco... Uma terra de gente boa e hospitaleira, onde o cante alentejano ainda se cultiva nas tabernas, resistindo ao rolo compressor da globalização (cultural)... Bonita capa do pintor Roberto Chichorro.
Quanto à editora (ECM), que tem sede em Santa Comba Dão (!), ponham um olho nela e façam uma visita ao seu sítio! Sobretudo aqueles que se interessam pelo ensino e formação na área da música
Trata-se de um trabalho singelo, modesto, mas sério e escorreito de recolha de música e poesia de gente talentosa e generosa. Um grupo de amigos de Vila Verde de Ficalho, a aldeia raiana da margem esquerda do Guadiana, também conhecida como a aldeia sem tabaco... Uma terra de gente boa e hospitaleira, onde o cante alentejano ainda se cultiva nas tabernas, resistindo ao rolo compressor da globalização (cultural)... Bonita capa do pintor Roberto Chichorro.
Quanto à editora (ECM), que tem sede em Santa Comba Dão (!), ponham um olho nela e façam uma visita ao seu sítio! Sobretudo aqueles que se interessam pelo ensino e formação na área da música
Portugal sacro-profano - XIII: O Alentejo, os ficalheiros, o cante, a viola campaniça, um CD
Não é propriamente por causa da blogaria do Natal e da estranha pulsão das compras que ataca o portuga por esta ocasião do ano... Mas já agora que tens que gastar a guita que não tens, aqui fica uma sugestão do Blogador. Se tu gostas do Alentejo, das suas gentes, do seu cante, da viola campaniça, oferece neste Natal aos teus amigos o CD Serões do Alentejo (Editora - Edições Convite à Música).
Trata-se de um trabalho singelo, modesto, mas sério e escorreito de recolha de música e poesia de gente talentosa e generosa. Um grupo de amigos de Vila Verde de Ficalho, a aldeia raiana da margem esquerda do Guadiana, também conhecida como a aldeia sem tabaco... Uma terra de gente boa e hospitaleira, onde o cante alentejano ainda se cultiva nas tabernas, resistindo ao rolo compressor da globalização (cultural)... Bonita capa do pintor Roberto Chichorro.
Quanto à editora (ECM), que tem sede em Santa Comba Dão (!), ponham um olho nela e façam uma visita ao seu sítio! Sobretudo aqueles que se interessam pelo ensino e formação na área da música
Trata-se de um trabalho singelo, modesto, mas sério e escorreito de recolha de música e poesia de gente talentosa e generosa. Um grupo de amigos de Vila Verde de Ficalho, a aldeia raiana da margem esquerda do Guadiana, também conhecida como a aldeia sem tabaco... Uma terra de gente boa e hospitaleira, onde o cante alentejano ainda se cultiva nas tabernas, resistindo ao rolo compressor da globalização (cultural)... Bonita capa do pintor Roberto Chichorro.
Quanto à editora (ECM), que tem sede em Santa Comba Dão (!), ponham um olho nela e façam uma visita ao seu sítio! Sobretudo aqueles que se interessam pelo ensino e formação na área da música
18 dezembro 2003
Portugal sacro-profano - XII: Cem anos de solidão
Pergunta um velhote alentejano ao seu médico de família, no primeiro exame de saúde que este lhe fez:
- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?
- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?
- Ná, nunca me puxou prá aí.
- E beber, bebe o seu copo ?!...
- Ná, na gosto de álcool.
- E o comer ?
- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!
- O senhor é casado ? Tem filhos ?
- Ná, nunca tive.
- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?
- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...
O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:
- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??
O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:
- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...
- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?
- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?
- Ná, nunca me puxou prá aí.
- E beber, bebe o seu copo ?!...
- Ná, na gosto de álcool.
- E o comer ?
- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!
- O senhor é casado ? Tem filhos ?
- Ná, nunca tive.
- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?
- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...
O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:
- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??
O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:
- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...
Portugal sacro-profano - XII: Cem anos de solidão
Pergunta um velhote alentejano ao seu médico de família, no primeiro exame de saúde que este lhe fez:
- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?
- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?
- Ná, nunca me puxou prá aí.
- E beber, bebe o seu copo ?!...
- Ná, na gosto de álcool.
- E o comer ?
- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!
- O senhor é casado ? Tem filhos ?
- Ná, nunca tive.
- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?
- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...
O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:
- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??
O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:
- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...
- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?
- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?
- Ná, nunca me puxou prá aí.
- E beber, bebe o seu copo ?!...
- Ná, na gosto de álcool.
- E o comer ?
- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!
- O senhor é casado ? Tem filhos ?
- Ná, nunca tive.
- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?
- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...
O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:
- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??
O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:
- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...
15 dezembro 2003
Saúde & Segurança do Trabalho – XIV: Medicina do trabalho à peça e ao acto
O modelo do relatório anual da actividade dos serviços de SH&ST, aprovado pela Portaria n.º 1184/2002, de 29 de Agosto de 2002, dedica uma página inteira à discriminação e à contabilidade do número de exames de admissão, periódicos e ocasionais, desagregados por escalão etário.
Pede-se além disso a discriminação dos exames complementares realizados por tipo de exame (sangue, urina, raio X ao tórax, audiograma, etc.), incluindo o número de exames exigidos por legislação específica (por ex., trabalhadores expostos a determinados substâncias perigosas como o chumbo ou o cloreto de vinilo monómero).
É legítimo (e sobretudo é relevante) interrogarmo-nos sobre a utilidade desta informação, aparentemente só de interesse estatístico-administrativo para a tutela (a administração do trabalho e da saúde). Quem vai fazer uso desta informação e para que efeitos ? A Inpecção geral do Trabalho, a Direcção Geral de Saúde, o Departamento de Estudos, Estatísticas e Planeamento (DEEP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho ? Que garantias de validade e fiabilidade são dadas pelas empresas e estabelecimentos em relação a este e outros itens de informação ?
Além disso, há um crescente consenso na literatura científica sobre (i) o alcance e os limites deste tipo de exames médicos periódicos massificados e (ii) as vantagens da realização de exames mais personalizados e selectivos dos trabalhadores, em função não apenas dos riscos profissionais específicos a que estão expostos mas também dos seus estilos de vida e de trabalho (workstyles & lifestyles), história clínica e profissional, estado de saúde, etc.
A hipervalorização dos exames médicos representa uma armadilha para o próprio médico do trabalho e para a equipa de saúde ocupacional, no caso de esta existir. De facto, corre-se o risco de se limitar, entre nós, o exercício da medicina do trabalho à realização dos exames médicos (não confundir com exames de saúde), com todas as consequências perversas que isso implica.
Uma delas é a desvalorização de outras actividades (nobres) do médico do trabalho (por ex., visita aos locais de trabalho, reuniões com os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, direcção técnica e/ou gestão do serviço de saúde/medicina do trabalho, envolvimento na concepção, planeamento, implementação e avaliação da política de saúde no trabalho); outra, não menos perversa, é o pagamento ao acto, à peça ou à hora, tendência que de resto se está a impor no mercado, devido à concorrência (desleal) entre muitas das empresas prestadoras de serviços externos de saúde/medicina do trabalho e/ou de segurança e higiene do trabalho...
É a total mercantilização da medicina do trabalho, a que se seguirá (se é que não está já em marcha...) um processo de racionalização técnico-burocrática da prática dos médicos do trabalho.
Uma terceira consequência, talvez ainda mais grave, é o risco de liquidação de toda e qualquer tentativa de organização e funcionamento da equipa de saúde ocupacional, multidisciplinar e multiprofissional, onde devem ter lugar, de pleno direito, o técnico e o técnico superior de segurança e higiene do trabalho, a par de outro profissionais como o enfermeiro do trabalho. É sobretudo a liquidação do futuro (que deveria ser radioso e promissor...) da saúde e segurança no trabalho neste país.
É bom que os profissionais de SH&ST pensem nisto...
Pede-se além disso a discriminação dos exames complementares realizados por tipo de exame (sangue, urina, raio X ao tórax, audiograma, etc.), incluindo o número de exames exigidos por legislação específica (por ex., trabalhadores expostos a determinados substâncias perigosas como o chumbo ou o cloreto de vinilo monómero).
É legítimo (e sobretudo é relevante) interrogarmo-nos sobre a utilidade desta informação, aparentemente só de interesse estatístico-administrativo para a tutela (a administração do trabalho e da saúde). Quem vai fazer uso desta informação e para que efeitos ? A Inpecção geral do Trabalho, a Direcção Geral de Saúde, o Departamento de Estudos, Estatísticas e Planeamento (DEEP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho ? Que garantias de validade e fiabilidade são dadas pelas empresas e estabelecimentos em relação a este e outros itens de informação ?
Além disso, há um crescente consenso na literatura científica sobre (i) o alcance e os limites deste tipo de exames médicos periódicos massificados e (ii) as vantagens da realização de exames mais personalizados e selectivos dos trabalhadores, em função não apenas dos riscos profissionais específicos a que estão expostos mas também dos seus estilos de vida e de trabalho (workstyles & lifestyles), história clínica e profissional, estado de saúde, etc.
A hipervalorização dos exames médicos representa uma armadilha para o próprio médico do trabalho e para a equipa de saúde ocupacional, no caso de esta existir. De facto, corre-se o risco de se limitar, entre nós, o exercício da medicina do trabalho à realização dos exames médicos (não confundir com exames de saúde), com todas as consequências perversas que isso implica.
Uma delas é a desvalorização de outras actividades (nobres) do médico do trabalho (por ex., visita aos locais de trabalho, reuniões com os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, direcção técnica e/ou gestão do serviço de saúde/medicina do trabalho, envolvimento na concepção, planeamento, implementação e avaliação da política de saúde no trabalho); outra, não menos perversa, é o pagamento ao acto, à peça ou à hora, tendência que de resto se está a impor no mercado, devido à concorrência (desleal) entre muitas das empresas prestadoras de serviços externos de saúde/medicina do trabalho e/ou de segurança e higiene do trabalho...
É a total mercantilização da medicina do trabalho, a que se seguirá (se é que não está já em marcha...) um processo de racionalização técnico-burocrática da prática dos médicos do trabalho.
Uma terceira consequência, talvez ainda mais grave, é o risco de liquidação de toda e qualquer tentativa de organização e funcionamento da equipa de saúde ocupacional, multidisciplinar e multiprofissional, onde devem ter lugar, de pleno direito, o técnico e o técnico superior de segurança e higiene do trabalho, a par de outro profissionais como o enfermeiro do trabalho. É sobretudo a liquidação do futuro (que deveria ser radioso e promissor...) da saúde e segurança no trabalho neste país.
É bom que os profissionais de SH&ST pensem nisto...
Saúde & Segurança do Trabalho – XIV: Medicina do trabalho à peça e ao acto
O modelo do relatório anual da actividade dos serviços de SH&ST, aprovado pela Portaria n.º 1184/2002, de 29 de Agosto de 2002, dedica uma página inteira à discriminação e à contabilidade do número de exames de admissão, periódicos e ocasionais, desagregados por escalão etário.
Pede-se além disso a discriminação dos exames complementares realizados por tipo de exame (sangue, urina, raio X ao tórax, audiograma, etc.), incluindo o número de exames exigidos por legislação específica (por ex., trabalhadores expostos a determinados substâncias perigosas como o chumbo ou o cloreto de vinilo monómero).
É legítimo (e sobretudo é relevante) interrogarmo-nos sobre a utilidade desta informação, aparentemente só de interesse estatístico-administrativo para a tutela (a administração do trabalho e da saúde). Quem vai fazer uso desta informação e para que efeitos ? A Inpecção geral do Trabalho, a Direcção Geral de Saúde, o Departamento de Estudos, Estatísticas e Planeamento (DEEP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho ? Que garantias de validade e fiabilidade são dadas pelas empresas e estabelecimentos em relação a este e outros itens de informação ?
Além disso, há um crescente consenso na literatura científica sobre (i) o alcance e os limites deste tipo de exames médicos periódicos massificados e (ii) as vantagens da realização de exames mais personalizados e selectivos dos trabalhadores, em função não apenas dos riscos profissionais específicos a que estão expostos mas também dos seus estilos de vida e de trabalho (workstyles & lifestyles), história clínica e profissional, estado de saúde, etc.
A hipervalorização dos exames médicos representa uma armadilha para o próprio médico do trabalho e para a equipa de saúde ocupacional, no caso de esta existir. De facto, corre-se o risco de se limitar, entre nós, o exercício da medicina do trabalho à realização dos exames médicos (não confundir com exames de saúde), com todas as consequências perversas que isso implica.
Uma delas é a desvalorização de outras actividades (nobres) do médico do trabalho (por ex., visita aos locais de trabalho, reuniões com os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, direcção técnica e/ou gestão do serviço de saúde/medicina do trabalho, envolvimento na concepção, planeamento, implementação e avaliação da política de saúde no trabalho); outra, não menos perversa, é o pagamento ao acto, à peça ou à hora, tendência que de resto se está a impor no mercado, devido à concorrência (desleal) entre muitas das empresas prestadoras de serviços externos de saúde/medicina do trabalho e/ou de segurança e higiene do trabalho...
É a total mercantilização da medicina do trabalho, a que se seguirá (se é que não está já em marcha...) um processo de racionalização técnico-burocrática da prática dos médicos do trabalho.
Uma terceira consequência, talvez ainda mais grave, é o risco de liquidação de toda e qualquer tentativa de organização e funcionamento da equipa de saúde ocupacional, multidisciplinar e multiprofissional, onde devem ter lugar, de pleno direito, o técnico e o técnico superior de segurança e higiene do trabalho, a par de outro profissionais como o enfermeiro do trabalho. É sobretudo a liquidação do futuro (que deveria ser radioso e promissor...) da saúde e segurança no trabalho neste país.
É bom que os profissionais de SH&ST pensem nisto...
Pede-se além disso a discriminação dos exames complementares realizados por tipo de exame (sangue, urina, raio X ao tórax, audiograma, etc.), incluindo o número de exames exigidos por legislação específica (por ex., trabalhadores expostos a determinados substâncias perigosas como o chumbo ou o cloreto de vinilo monómero).
É legítimo (e sobretudo é relevante) interrogarmo-nos sobre a utilidade desta informação, aparentemente só de interesse estatístico-administrativo para a tutela (a administração do trabalho e da saúde). Quem vai fazer uso desta informação e para que efeitos ? A Inpecção geral do Trabalho, a Direcção Geral de Saúde, o Departamento de Estudos, Estatísticas e Planeamento (DEEP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho ? Que garantias de validade e fiabilidade são dadas pelas empresas e estabelecimentos em relação a este e outros itens de informação ?
Além disso, há um crescente consenso na literatura científica sobre (i) o alcance e os limites deste tipo de exames médicos periódicos massificados e (ii) as vantagens da realização de exames mais personalizados e selectivos dos trabalhadores, em função não apenas dos riscos profissionais específicos a que estão expostos mas também dos seus estilos de vida e de trabalho (workstyles & lifestyles), história clínica e profissional, estado de saúde, etc.
A hipervalorização dos exames médicos representa uma armadilha para o próprio médico do trabalho e para a equipa de saúde ocupacional, no caso de esta existir. De facto, corre-se o risco de se limitar, entre nós, o exercício da medicina do trabalho à realização dos exames médicos (não confundir com exames de saúde), com todas as consequências perversas que isso implica.
Uma delas é a desvalorização de outras actividades (nobres) do médico do trabalho (por ex., visita aos locais de trabalho, reuniões com os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, direcção técnica e/ou gestão do serviço de saúde/medicina do trabalho, envolvimento na concepção, planeamento, implementação e avaliação da política de saúde no trabalho); outra, não menos perversa, é o pagamento ao acto, à peça ou à hora, tendência que de resto se está a impor no mercado, devido à concorrência (desleal) entre muitas das empresas prestadoras de serviços externos de saúde/medicina do trabalho e/ou de segurança e higiene do trabalho...
É a total mercantilização da medicina do trabalho, a que se seguirá (se é que não está já em marcha...) um processo de racionalização técnico-burocrática da prática dos médicos do trabalho.
Uma terceira consequência, talvez ainda mais grave, é o risco de liquidação de toda e qualquer tentativa de organização e funcionamento da equipa de saúde ocupacional, multidisciplinar e multiprofissional, onde devem ter lugar, de pleno direito, o técnico e o técnico superior de segurança e higiene do trabalho, a par de outro profissionais como o enfermeiro do trabalho. É sobretudo a liquidação do futuro (que deveria ser radioso e promissor...) da saúde e segurança no trabalho neste país.
É bom que os profissionais de SH&ST pensem nisto...
11 dezembro 2003
Socio(b)logia - II: Cidade e identidade
Perguntaram-me há dias, em entrevista, se a cidade e a sua dimensão influem na identidade de cada um…
A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.
Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.
Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...
É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...
A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…
Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.
Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).
E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?
Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?
Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.
Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?
Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…
Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…
Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...
Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?
Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….
Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...
A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.
Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.
Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...
É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...
A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…
Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.
Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).
E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?
Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?
Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.
Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?
Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…
Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…
Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...
Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?
Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….
Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...
Socio(b)logia - II: Cidade e identidade
Perguntaram-me há dias, em entrevista, se a cidade e a sua dimensão influem na identidade de cada um…
A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.
Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.
Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...
É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...
A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…
Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.
Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).
E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?
Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?
Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.
Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?
Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…
Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…
Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...
Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?
Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….
Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...
A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.
Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.
Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...
É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...
A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…
Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.
Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).
E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?
Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?
Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.
Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?
Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…
Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…
Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...
Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?
Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….
Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...
09 dezembro 2003
Portugal sacro-profano - XI: Monsanto ou a floresta do lobo mau
Fui ontem, feriado, fazer o meu jogging no Parque Florestal de Monsanto. Já o faço há mais de 15 anos, com maior ou menor regularidade. Sozinho ou às vezes com a família.
Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.
É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.
Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...
No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...
Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.
Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.
Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.
Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes
A segurança no Parque Florestal de Monsanto
Parque Ecológico de Monsanto
Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.
É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.
Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...
No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...
Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.
Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.
Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.
Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes
A segurança no Parque Florestal de Monsanto
Parque Ecológico de Monsanto
Portugal sacro-profano - XI: Monsanto ou a floresta do lobo mau
Fui ontem, feriado, fazer o meu jogging no Parque Florestal de Monsanto. Já o faço há mais de 15 anos, com maior ou menor regularidade. Sozinho ou às vezes com a família.
Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.
É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.
Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...
No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...
Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.
Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.
Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.
Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes
A segurança no Parque Florestal de Monsanto
Parque Ecológico de Monsanto
Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.
É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.
Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...
No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...
Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.
Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.
Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.
Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes
A segurança no Parque Florestal de Monsanto
Parque Ecológico de Monsanto
05 dezembro 2003
Portugal sacro-profano – X: Portuguezes pocos, y eses locos
Lê-se no Publico.pt de hoje, em texto da Ana Cristina Pereira (quatro estrelas num máximo de cinco!), que as prisões portuguesas têm "a mais alta taxa de contaminação de doenças infecto-contagiosas da União Europeia" (não se indica a fonte), em grande parte devido ao consumo de droga, à partilha de agulhas e ao não uso de preservativos nas relações sexuais. E muito provavelmente também, acrescento eu, devido ao deplorável estado a que terá chegado o subsistema de cuidados de saúde do sistema prisional.
Segundo a jornalista, há quem chame aos nossos estabelecimentos prisionais os "motores da epidemia HIV". Especialistas do assunto, entrevistados pelo Público, "reclamam redução de danos - como a troca de seringas e/ou as salas de consumo asséptico - para acabar com a pena de morte em Portugal" (sic).
"Comigo, não contem para isso, disse a ministra da Justiça portuguesa, refugiando-se em razões morais. Motivo de sobra para enfurecer os especialistas da área, para quem este é um problema sério de saúde pública. Mas o ministro da tutela também fala em sistema de valores e até já põe a hipótese de o Governo voltar atrás na descriminalização do consumo de droga". (Ana Cristina Pereira. Publico.pt, 5.12.2003).
Portuguezes pocos, y eses locos... Terão razão os nossos vizinhos espanhóis quando se dignam olhar para nós com o olhar altivo do Dom Quixote de la Mancha e nos mimam com este secular apodo ?
Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!
Segundo a jornalista, há quem chame aos nossos estabelecimentos prisionais os "motores da epidemia HIV". Especialistas do assunto, entrevistados pelo Público, "reclamam redução de danos - como a troca de seringas e/ou as salas de consumo asséptico - para acabar com a pena de morte em Portugal" (sic).
"Comigo, não contem para isso, disse a ministra da Justiça portuguesa, refugiando-se em razões morais. Motivo de sobra para enfurecer os especialistas da área, para quem este é um problema sério de saúde pública. Mas o ministro da tutela também fala em sistema de valores e até já põe a hipótese de o Governo voltar atrás na descriminalização do consumo de droga". (Ana Cristina Pereira. Publico.pt, 5.12.2003).
Portuguezes pocos, y eses locos... Terão razão os nossos vizinhos espanhóis quando se dignam olhar para nós com o olhar altivo do Dom Quixote de la Mancha e nos mimam com este secular apodo ?
Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!
Portugal sacro-profano – X: Portuguezes pocos, y eses locos
Lê-se no Publico.pt de hoje, em texto da Ana Cristina Pereira (quatro estrelas num máximo de cinco!), que as prisões portuguesas têm "a mais alta taxa de contaminação de doenças infecto-contagiosas da União Europeia" (não se indica a fonte), em grande parte devido ao consumo de droga, à partilha de agulhas e ao não uso de preservativos nas relações sexuais. E muito provavelmente também, acrescento eu, devido ao deplorável estado a que terá chegado o subsistema de cuidados de saúde do sistema prisional.
Segundo a jornalista, há quem chame aos nossos estabelecimentos prisionais os "motores da epidemia HIV". Especialistas do assunto, entrevistados pelo Público, "reclamam redução de danos - como a troca de seringas e/ou as salas de consumo asséptico - para acabar com a pena de morte em Portugal" (sic).
"Comigo, não contem para isso, disse a ministra da Justiça portuguesa, refugiando-se em razões morais. Motivo de sobra para enfurecer os especialistas da área, para quem este é um problema sério de saúde pública. Mas o ministro da tutela também fala em sistema de valores e até já põe a hipótese de o Governo voltar atrás na descriminalização do consumo de droga". (Ana Cristina Pereira. Publico.pt, 5.12.2003).
Portuguezes pocos, y eses locos... Terão razão os nossos vizinhos espanhóis quando se dignam olhar para nós com o olhar altivo do Dom Quixote de la Mancha e nos mimam com este secular apodo ?
Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!
Segundo a jornalista, há quem chame aos nossos estabelecimentos prisionais os "motores da epidemia HIV". Especialistas do assunto, entrevistados pelo Público, "reclamam redução de danos - como a troca de seringas e/ou as salas de consumo asséptico - para acabar com a pena de morte em Portugal" (sic).
"Comigo, não contem para isso, disse a ministra da Justiça portuguesa, refugiando-se em razões morais. Motivo de sobra para enfurecer os especialistas da área, para quem este é um problema sério de saúde pública. Mas o ministro da tutela também fala em sistema de valores e até já põe a hipótese de o Governo voltar atrás na descriminalização do consumo de droga". (Ana Cristina Pereira. Publico.pt, 5.12.2003).
Portuguezes pocos, y eses locos... Terão razão os nossos vizinhos espanhóis quando se dignam olhar para nós com o olhar altivo do Dom Quixote de la Mancha e nos mimam com este secular apodo ?
Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!
Blogantologia(s) – V: Prolóquios para a educação da mocidade
1. A merda é o adubo... da vida! (não sei se isto é biologicamente correcto...)
2. Cartaz de prevenção e segurança no trabalho: evitem acidentes, façam de propósito (... e por favor culpem as vítimas!)
3. Conselho do pai para o filho; “casa-te e sê feliz, meu filho; é importante que arranjes (i) uma mulher que seja boa dona de casa; (ii) uma mulher com uma profissão que te dê dinheiro; e (iii) uma mulher que goste de fazer amor contigo; mas mais importante ainda, é que (iv) essas três mulheres nunca se encontrem” (... tenho pena que o meu pai nunca me tenha dado tal conselho!).
4. Deus criou o homem antes da mulher, porque na altura ainda não tinha; (i) certificação de qualidade; (ii) assistência pós-venda; nem (iii) livro de reclamações (... também não havia ainda o sistema português de qualidade!)
5. Diz o rico para o pobre: há um mundo bem melhor para lá do horizonte que se avista da tua janela, só que não está ao alcance da tua bolsa (... eu acho que isto tipo de bocas miserabilistas já não se usam: basta folhear a imprensda cor de rosa!)
6. É com a merda dos grandes, que os pequenos se afogam; mas também é fazendo merda, que a gente aprende... a nadar! (... não conheço nenhuma escola em Lisboa que nos ensine a nadar na merda!)
7. Em todas as coisas da vida a prática leva à perfeição; a única excepção é a roleta russa (...confesso, nunca experimentei!)
8. Experimenta viver cada dia como se fosse o último da tua vida: verás que um dia destes acertas mesmo! (.. muito útil!)
9. Mais vale uma mosca no teu prato da sopa do que um míssil de cruzeiro na tua cozinha (provérbio árabe) (... este provérbio é muito tendencioso!)
10. Minha amiga colorida: pior do que nunca encontrares o homem certo é viveres toda a vida com o gajo errado (... a alternativa é o convento?)
11. Na minha lápide funerária quero que escrevam: "Por favor, não perturbar; estou numa cura de sono... eterno" (...não sei onde está a piada!)
12. O melhor do trabalho em equipe: se perdermos, é a culpa é do nosso treinador (... se não tivesse essa vantagem, não perderíamos tempo a falar de líderes e liderança!)
13. O paradoxo: tentar falhar e conseguir (... não sei se já alguém conseguiu!)
14. O pior da democracia é não tolerar a ditadura mas brincar com o populismo (... brinca-se muito com o fogo!)
15. O que diz o instrutor palestiniano aos seus aprendizes de homem-bomba: "Por Alá, prestem a máxima atenção que eu só posso exemplificar uma vez" (... esta piada é terrorista!)
16. Podes ser idiota (artista) e fazer uma obra de arte; mas tens de ser um génio (capitalista) para a pôr no mercado e vendê-la (... ah!, as relações da arte com o dinheiro! Mas afinal a arte não é uma mercadoria como tudo o mais ?)
17. Quando chegares a um beco sem saída e não te restar mais nenhum opção, pára e consulta o manual sobre as saídas de emergência (... sorry, mas não tenho esse manual!).
18. Roubar ideias a uma autor é plágio; roubar as ideias de muita gente, é investigação científica (... o que é roubar ?)
19. Se procuras uma mão disposta a ajudar-te, fala com o teu braço (o esquerdo ou o direito, tanto faz) (... é capaz de haver diferenças entre o esquerdo e o direito, ou não? Não percebo nada de anatomia e fisiologia...)
2. Cartaz de prevenção e segurança no trabalho: evitem acidentes, façam de propósito (... e por favor culpem as vítimas!)
3. Conselho do pai para o filho; “casa-te e sê feliz, meu filho; é importante que arranjes (i) uma mulher que seja boa dona de casa; (ii) uma mulher com uma profissão que te dê dinheiro; e (iii) uma mulher que goste de fazer amor contigo; mas mais importante ainda, é que (iv) essas três mulheres nunca se encontrem” (... tenho pena que o meu pai nunca me tenha dado tal conselho!).
4. Deus criou o homem antes da mulher, porque na altura ainda não tinha; (i) certificação de qualidade; (ii) assistência pós-venda; nem (iii) livro de reclamações (... também não havia ainda o sistema português de qualidade!)
5. Diz o rico para o pobre: há um mundo bem melhor para lá do horizonte que se avista da tua janela, só que não está ao alcance da tua bolsa (... eu acho que isto tipo de bocas miserabilistas já não se usam: basta folhear a imprensda cor de rosa!)
6. É com a merda dos grandes, que os pequenos se afogam; mas também é fazendo merda, que a gente aprende... a nadar! (... não conheço nenhuma escola em Lisboa que nos ensine a nadar na merda!)
7. Em todas as coisas da vida a prática leva à perfeição; a única excepção é a roleta russa (...confesso, nunca experimentei!)
8. Experimenta viver cada dia como se fosse o último da tua vida: verás que um dia destes acertas mesmo! (.. muito útil!)
9. Mais vale uma mosca no teu prato da sopa do que um míssil de cruzeiro na tua cozinha (provérbio árabe) (... este provérbio é muito tendencioso!)
10. Minha amiga colorida: pior do que nunca encontrares o homem certo é viveres toda a vida com o gajo errado (... a alternativa é o convento?)
11. Na minha lápide funerária quero que escrevam: "Por favor, não perturbar; estou numa cura de sono... eterno" (...não sei onde está a piada!)
12. O melhor do trabalho em equipe: se perdermos, é a culpa é do nosso treinador (... se não tivesse essa vantagem, não perderíamos tempo a falar de líderes e liderança!)
13. O paradoxo: tentar falhar e conseguir (... não sei se já alguém conseguiu!)
14. O pior da democracia é não tolerar a ditadura mas brincar com o populismo (... brinca-se muito com o fogo!)
15. O que diz o instrutor palestiniano aos seus aprendizes de homem-bomba: "Por Alá, prestem a máxima atenção que eu só posso exemplificar uma vez" (... esta piada é terrorista!)
16. Podes ser idiota (artista) e fazer uma obra de arte; mas tens de ser um génio (capitalista) para a pôr no mercado e vendê-la (... ah!, as relações da arte com o dinheiro! Mas afinal a arte não é uma mercadoria como tudo o mais ?)
17. Quando chegares a um beco sem saída e não te restar mais nenhum opção, pára e consulta o manual sobre as saídas de emergência (... sorry, mas não tenho esse manual!).
18. Roubar ideias a uma autor é plágio; roubar as ideias de muita gente, é investigação científica (... o que é roubar ?)
19. Se procuras uma mão disposta a ajudar-te, fala com o teu braço (o esquerdo ou o direito, tanto faz) (... é capaz de haver diferenças entre o esquerdo e o direito, ou não? Não percebo nada de anatomia e fisiologia...)
Blogantologia(s) – V: Prolóquios para a educação da mocidade
1. A merda é o adubo... da vida! (não sei se isto é biologicamente correcto...)
2. Cartaz de prevenção e segurança no trabalho: evitem acidentes, façam de propósito (... e por favor culpem as vítimas!)
3. Conselho do pai para o filho; “casa-te e sê feliz, meu filho; é importante que arranjes (i) uma mulher que seja boa dona de casa; (ii) uma mulher com uma profissão que te dê dinheiro; e (iii) uma mulher que goste de fazer amor contigo; mas mais importante ainda, é que (iv) essas três mulheres nunca se encontrem” (... tenho pena que o meu pai nunca me tenha dado tal conselho!).
4. Deus criou o homem antes da mulher, porque na altura ainda não tinha; (i) certificação de qualidade; (ii) assistência pós-venda; nem (iii) livro de reclamações (... também não havia ainda o sistema português de qualidade!)
5. Diz o rico para o pobre: há um mundo bem melhor para lá do horizonte que se avista da tua janela, só que não está ao alcance da tua bolsa (... eu acho que isto tipo de bocas miserabilistas já não se usam: basta folhear a imprensda cor de rosa!)
6. É com a merda dos grandes, que os pequenos se afogam; mas também é fazendo merda, que a gente aprende... a nadar! (... não conheço nenhuma escola em Lisboa que nos ensine a nadar na merda!)
7. Em todas as coisas da vida a prática leva à perfeição; a única excepção é a roleta russa (...confesso, nunca experimentei!)
8. Experimenta viver cada dia como se fosse o último da tua vida: verás que um dia destes acertas mesmo! (.. muito útil!)
9. Mais vale uma mosca no teu prato da sopa do que um míssil de cruzeiro na tua cozinha (provérbio árabe) (... este provérbio é muito tendencioso!)
10. Minha amiga colorida: pior do que nunca encontrares o homem certo é viveres toda a vida com o gajo errado (... a alternativa é o convento?)
11. Na minha lápide funerária quero que escrevam: "Por favor, não perturbar; estou numa cura de sono... eterno" (...não sei onde está a piada!)
12. O melhor do trabalho em equipe: se perdermos, é a culpa é do nosso treinador (... se não tivesse essa vantagem, não perderíamos tempo a falar de líderes e liderança!)
13. O paradoxo: tentar falhar e conseguir (... não sei se já alguém conseguiu!)
14. O pior da democracia é não tolerar a ditadura mas brincar com o populismo (... brinca-se muito com o fogo!)
15. O que diz o instrutor palestiniano aos seus aprendizes de homem-bomba: "Por Alá, prestem a máxima atenção que eu só posso exemplificar uma vez" (... esta piada é terrorista!)
16. Podes ser idiota (artista) e fazer uma obra de arte; mas tens de ser um génio (capitalista) para a pôr no mercado e vendê-la (... ah!, as relações da arte com o dinheiro! Mas afinal a arte não é uma mercadoria como tudo o mais ?)
17. Quando chegares a um beco sem saída e não te restar mais nenhum opção, pára e consulta o manual sobre as saídas de emergência (... sorry, mas não tenho esse manual!).
18. Roubar ideias a uma autor é plágio; roubar as ideias de muita gente, é investigação científica (... o que é roubar ?)
19. Se procuras uma mão disposta a ajudar-te, fala com o teu braço (o esquerdo ou o direito, tanto faz) (... é capaz de haver diferenças entre o esquerdo e o direito, ou não? Não percebo nada de anatomia e fisiologia...)
2. Cartaz de prevenção e segurança no trabalho: evitem acidentes, façam de propósito (... e por favor culpem as vítimas!)
3. Conselho do pai para o filho; “casa-te e sê feliz, meu filho; é importante que arranjes (i) uma mulher que seja boa dona de casa; (ii) uma mulher com uma profissão que te dê dinheiro; e (iii) uma mulher que goste de fazer amor contigo; mas mais importante ainda, é que (iv) essas três mulheres nunca se encontrem” (... tenho pena que o meu pai nunca me tenha dado tal conselho!).
4. Deus criou o homem antes da mulher, porque na altura ainda não tinha; (i) certificação de qualidade; (ii) assistência pós-venda; nem (iii) livro de reclamações (... também não havia ainda o sistema português de qualidade!)
5. Diz o rico para o pobre: há um mundo bem melhor para lá do horizonte que se avista da tua janela, só que não está ao alcance da tua bolsa (... eu acho que isto tipo de bocas miserabilistas já não se usam: basta folhear a imprensda cor de rosa!)
6. É com a merda dos grandes, que os pequenos se afogam; mas também é fazendo merda, que a gente aprende... a nadar! (... não conheço nenhuma escola em Lisboa que nos ensine a nadar na merda!)
7. Em todas as coisas da vida a prática leva à perfeição; a única excepção é a roleta russa (...confesso, nunca experimentei!)
8. Experimenta viver cada dia como se fosse o último da tua vida: verás que um dia destes acertas mesmo! (.. muito útil!)
9. Mais vale uma mosca no teu prato da sopa do que um míssil de cruzeiro na tua cozinha (provérbio árabe) (... este provérbio é muito tendencioso!)
10. Minha amiga colorida: pior do que nunca encontrares o homem certo é viveres toda a vida com o gajo errado (... a alternativa é o convento?)
11. Na minha lápide funerária quero que escrevam: "Por favor, não perturbar; estou numa cura de sono... eterno" (...não sei onde está a piada!)
12. O melhor do trabalho em equipe: se perdermos, é a culpa é do nosso treinador (... se não tivesse essa vantagem, não perderíamos tempo a falar de líderes e liderança!)
13. O paradoxo: tentar falhar e conseguir (... não sei se já alguém conseguiu!)
14. O pior da democracia é não tolerar a ditadura mas brincar com o populismo (... brinca-se muito com o fogo!)
15. O que diz o instrutor palestiniano aos seus aprendizes de homem-bomba: "Por Alá, prestem a máxima atenção que eu só posso exemplificar uma vez" (... esta piada é terrorista!)
16. Podes ser idiota (artista) e fazer uma obra de arte; mas tens de ser um génio (capitalista) para a pôr no mercado e vendê-la (... ah!, as relações da arte com o dinheiro! Mas afinal a arte não é uma mercadoria como tudo o mais ?)
17. Quando chegares a um beco sem saída e não te restar mais nenhum opção, pára e consulta o manual sobre as saídas de emergência (... sorry, mas não tenho esse manual!).
18. Roubar ideias a uma autor é plágio; roubar as ideias de muita gente, é investigação científica (... o que é roubar ?)
19. Se procuras uma mão disposta a ajudar-te, fala com o teu braço (o esquerdo ou o direito, tanto faz) (... é capaz de haver diferenças entre o esquerdo e o direito, ou não? Não percebo nada de anatomia e fisiologia...)
03 dezembro 2003
Portugas que merecem os nossos assobios - II: Os responsáveis da irresponsabilidade
Há uma derrocada de um prédio (centenário). Morrem duas pessoas (uma mulher idosa e um jovem de 18 anos). Ao lado está-se a construir um outro. Tudo indica que a causa imediata da derrocada seja a falta de escoramento do prédio que agora ruiu.
As pessoas, incrédulas mas conformadas, perguntam: Mas não há um plano de segurança, como manda a lei ? Se calhar existe, mas o mais provável é ter sido tirado a papel químico, como tantos outros. E então, onde estão os responsáveis, o dono da obra, o engenheiro, o técnico de segurança, a autarquia que licenciou a obra e mais os não-sei-quantos organismos que deviam fiscalizar os trabalhos ?
Na terra dos portugas, na hora da desgraça, ninguém é responsável, somos todos responsáveis irresponsáveis. É a hora de alijar a carga, assobiar e cuspir para o lado...
O que não devia acontecer, infelizmente aconteceu. Desta vez em Olhão. Parece que Olhão bisou. Pelos vistos, é uma cidade accident-prone.
Infelizmente este não é um caso virgem nem local. Repete-se por esse país fora. Desta vez teve honras mediáticas. As desgraças têm sempre honras mediáticas, à falta de melhores notícias.
Face a mais este triste exemplo do triunfo da patobravocracia (e da burocracia patológica) no país dos portugas, o blogador manda as mais veementes assobiadelas para os responsáveis por mais esta... irresponsabilidade. Acrescenta-lhe um adjectivo, já gasto e inútil: criminosa. Irresponsabilidade criminosa.
As pessoas, incrédulas mas conformadas, perguntam: Mas não há um plano de segurança, como manda a lei ? Se calhar existe, mas o mais provável é ter sido tirado a papel químico, como tantos outros. E então, onde estão os responsáveis, o dono da obra, o engenheiro, o técnico de segurança, a autarquia que licenciou a obra e mais os não-sei-quantos organismos que deviam fiscalizar os trabalhos ?
Na terra dos portugas, na hora da desgraça, ninguém é responsável, somos todos responsáveis irresponsáveis. É a hora de alijar a carga, assobiar e cuspir para o lado...
O que não devia acontecer, infelizmente aconteceu. Desta vez em Olhão. Parece que Olhão bisou. Pelos vistos, é uma cidade accident-prone.
Infelizmente este não é um caso virgem nem local. Repete-se por esse país fora. Desta vez teve honras mediáticas. As desgraças têm sempre honras mediáticas, à falta de melhores notícias.
Face a mais este triste exemplo do triunfo da patobravocracia (e da burocracia patológica) no país dos portugas, o blogador manda as mais veementes assobiadelas para os responsáveis por mais esta... irresponsabilidade. Acrescenta-lhe um adjectivo, já gasto e inútil: criminosa. Irresponsabilidade criminosa.
Portugas que merecem os nossos assobios - II: Os responsáveis da irresponsabilidade
Há uma derrocada de um prédio (centenário). Morrem duas pessoas (uma mulher idosa e um jovem de 18 anos). Ao lado está-se a construir um outro. Tudo indica que a causa imediata da derrocada seja a falta de escoramento do prédio que agora ruiu.
As pessoas, incrédulas mas conformadas, perguntam: Mas não há um plano de segurança, como manda a lei ? Se calhar existe, mas o mais provável é ter sido tirado a papel químico, como tantos outros. E então, onde estão os responsáveis, o dono da obra, o engenheiro, o técnico de segurança, a autarquia que licenciou a obra e mais os não-sei-quantos organismos que deviam fiscalizar os trabalhos ?
Na terra dos portugas, na hora da desgraça, ninguém é responsável, somos todos responsáveis irresponsáveis. É a hora de alijar a carga, assobiar e cuspir para o lado...
O que não devia acontecer, infelizmente aconteceu. Desta vez em Olhão. Parece que Olhão bisou. Pelos vistos, é uma cidade accident-prone.
Infelizmente este não é um caso virgem nem local. Repete-se por esse país fora. Desta vez teve honras mediáticas. As desgraças têm sempre honras mediáticas, à falta de melhores notícias.
Face a mais este triste exemplo do triunfo da patobravocracia (e da burocracia patológica) no país dos portugas, o blogador manda as mais veementes assobiadelas para os responsáveis por mais esta... irresponsabilidade. Acrescenta-lhe um adjectivo, já gasto e inútil: criminosa. Irresponsabilidade criminosa.
As pessoas, incrédulas mas conformadas, perguntam: Mas não há um plano de segurança, como manda a lei ? Se calhar existe, mas o mais provável é ter sido tirado a papel químico, como tantos outros. E então, onde estão os responsáveis, o dono da obra, o engenheiro, o técnico de segurança, a autarquia que licenciou a obra e mais os não-sei-quantos organismos que deviam fiscalizar os trabalhos ?
Na terra dos portugas, na hora da desgraça, ninguém é responsável, somos todos responsáveis irresponsáveis. É a hora de alijar a carga, assobiar e cuspir para o lado...
O que não devia acontecer, infelizmente aconteceu. Desta vez em Olhão. Parece que Olhão bisou. Pelos vistos, é uma cidade accident-prone.
Infelizmente este não é um caso virgem nem local. Repete-se por esse país fora. Desta vez teve honras mediáticas. As desgraças têm sempre honras mediáticas, à falta de melhores notícias.
Face a mais este triste exemplo do triunfo da patobravocracia (e da burocracia patológica) no país dos portugas, o blogador manda as mais veementes assobiadelas para os responsáveis por mais esta... irresponsabilidade. Acrescenta-lhe um adjectivo, já gasto e inútil: criminosa. Irresponsabilidade criminosa.
01 dezembro 2003
O tripaliu(m) que mata a gente - I: Trabalho e prazer
Dizem os brazucas que "a meia idade é quando o trabalho dá menos prazer e o prazer mais trabalho"... Os portugas são muito mais radicais: sempre os ouvi dizer "Serviço é serviço, conhaque é conhaque"... É estranho porque o conhaque é francês... Na belle époque tudo o que tinha a ver com prazer, era franciú, vinha de França ou falava francês.
Dir-me-ão que a piada (brazuca) é de mau gosto e está gasta... Em todo o caso, ela serve para abrir, sem pompa nem circunstância, esta blogaria sobre o tripaliu(m) que mata a gente.
Como teletrabalhador (nocturno e diurno) exerço aqui o meu pleno direito de fazer o meu minuto de humor... no trabalho (ou na blogosfera, tanto faz). Esta figura não é jurídica: tudo o que não vem no Código de Trabalho, a partir de agora, tem de ser (re)equacionado... O break no trabalho não vem no Código, pelo que se pode questionar a sua legitimidade. Embora faça bem às costas e à saúde mental. Mas adiante.
Etimologicamente falando, a palavra Trabalho vem do latim Tripaliu(m), originalmente um instrumento composto de Tres Pales (três paus) que servia justamente para Tripaliare: neste caso, servia ao carrasco romano para trabalhar, literalmente torturar alguém (por ex., um escravo) usando para o efeito o Tripaliu(m) ... Claro que o carrasco era outro escravo, já que o cidadão romano não trabalhva com as mãos... "'Tá quieto, que trabalhar faz calos", dizia o cidadão.
É fantástico como no nosso (des)humor do dia a dia a gente ainda usa expressões que remetem para este sentido original, etimológico, do palavrão que nos coube em sorte... Veja-se de resto algumas dos nossos ditados ditos populares:
(i) "Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu" (a repulsa cristã e senhorial pelo trabalho manual... e o seu sucedâneo burguês e positivista: "Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha", "Se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes";
(ii) Em suma, cibertrabalhadores, o trabalho não dignifica: "Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"; "Mão de mestre não suja ferramenta"; "Mais vale um bom mandador do que um bom trabalhador"...
(iii) Em contrapartida, diz-se: "Trabalhar que nem um mouro" (referência aos mouros que foram escravizados pelos cristãos depois da Reconquista da península ibérica);
(iv) ou "Trabalhar que nem um galego" (referência aos aguadeiros de Lisboa no Séc. XIX, que eram justamente oriundos da Galiza);
(v) ou ainda "Trabalho é bom pró preto" (dizia-se em Portugal, no tempo do império colonial; e continua a dizer-se hoje, não por racismo mas por um qualquer lapsus linguae);
(vi) bem como "Trabalho se fez para burro e português" (no Rio de Janeiro, referindo-se à leva de emigrantes pobres que chegavam ao Brasil na 1ª metade do Séc. XX)
Pensem nisto e na sua eventual relação (ou falta dela) ... com a saúde no trabalho!
Post Scriptum - Já agora qual será a razão por que se diz: "Mal por mal antes cadeia do que hospital?"
Dir-me-ão que a piada (brazuca) é de mau gosto e está gasta... Em todo o caso, ela serve para abrir, sem pompa nem circunstância, esta blogaria sobre o tripaliu(m) que mata a gente.
Como teletrabalhador (nocturno e diurno) exerço aqui o meu pleno direito de fazer o meu minuto de humor... no trabalho (ou na blogosfera, tanto faz). Esta figura não é jurídica: tudo o que não vem no Código de Trabalho, a partir de agora, tem de ser (re)equacionado... O break no trabalho não vem no Código, pelo que se pode questionar a sua legitimidade. Embora faça bem às costas e à saúde mental. Mas adiante.
Etimologicamente falando, a palavra Trabalho vem do latim Tripaliu(m), originalmente um instrumento composto de Tres Pales (três paus) que servia justamente para Tripaliare: neste caso, servia ao carrasco romano para trabalhar, literalmente torturar alguém (por ex., um escravo) usando para o efeito o Tripaliu(m) ... Claro que o carrasco era outro escravo, já que o cidadão romano não trabalhva com as mãos... "'Tá quieto, que trabalhar faz calos", dizia o cidadão.
É fantástico como no nosso (des)humor do dia a dia a gente ainda usa expressões que remetem para este sentido original, etimológico, do palavrão que nos coube em sorte... Veja-se de resto algumas dos nossos ditados ditos populares:
(i) "Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu" (a repulsa cristã e senhorial pelo trabalho manual... e o seu sucedâneo burguês e positivista: "Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha", "Se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes";
(ii) Em suma, cibertrabalhadores, o trabalho não dignifica: "Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"; "Mão de mestre não suja ferramenta"; "Mais vale um bom mandador do que um bom trabalhador"...
(iii) Em contrapartida, diz-se: "Trabalhar que nem um mouro" (referência aos mouros que foram escravizados pelos cristãos depois da Reconquista da península ibérica);
(iv) ou "Trabalhar que nem um galego" (referência aos aguadeiros de Lisboa no Séc. XIX, que eram justamente oriundos da Galiza);
(v) ou ainda "Trabalho é bom pró preto" (dizia-se em Portugal, no tempo do império colonial; e continua a dizer-se hoje, não por racismo mas por um qualquer lapsus linguae);
(vi) bem como "Trabalho se fez para burro e português" (no Rio de Janeiro, referindo-se à leva de emigrantes pobres que chegavam ao Brasil na 1ª metade do Séc. XX)
Pensem nisto e na sua eventual relação (ou falta dela) ... com a saúde no trabalho!
Post Scriptum - Já agora qual será a razão por que se diz: "Mal por mal antes cadeia do que hospital?"
O tripaliu(m) que mata a gente - I: Trabalho e prazer
Dizem os brazucas que "a meia idade é quando o trabalho dá menos prazer e o prazer mais trabalho"... Os portugas são muito mais radicais: sempre os ouvi dizer "Serviço é serviço, conhaque é conhaque"... É estranho porque o conhaque é francês... Na belle époque tudo o que tinha a ver com prazer, era franciú, vinha de França ou falava francês.
Dir-me-ão que a piada (brazuca) é de mau gosto e está gasta... Em todo o caso, ela serve para abrir, sem pompa nem circunstância, esta blogaria sobre o tripaliu(m) que mata a gente.
Como teletrabalhador (nocturno e diurno) exerço aqui o meu pleno direito de fazer o meu minuto de humor... no trabalho (ou na blogosfera, tanto faz). Esta figura não é jurídica: tudo o que não vem no Código de Trabalho, a partir de agora, tem de ser (re)equacionado... O break no trabalho não vem no Código, pelo que se pode questionar a sua legitimidade. Embora faça bem às costas e à saúde mental. Mas adiante.
Etimologicamente falando, a palavra Trabalho vem do latim Tripaliu(m), originalmente um instrumento composto de Tres Pales (três paus) que servia justamente para Tripaliare: neste caso, servia ao carrasco romano para trabalhar, literalmente torturar alguém (por ex., um escravo) usando para o efeito o Tripaliu(m) ... Claro que o carrasco era outro escravo, já que o cidadão romano não trabalhva com as mãos... "'Tá quieto, que trabalhar faz calos", dizia o cidadão.
É fantástico como no nosso (des)humor do dia a dia a gente ainda usa expressões que remetem para este sentido original, etimológico, do palavrão que nos coube em sorte... Veja-se de resto algumas dos nossos ditados ditos populares:
(i) "Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu" (a repulsa cristã e senhorial pelo trabalho manual... e o seu sucedâneo burguês e positivista: "Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha", "Se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes";
(ii) Em suma, cibertrabalhadores, o trabalho não dignifica: "Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"; "Mão de mestre não suja ferramenta"; "Mais vale um bom mandador do que um bom trabalhador"...
(iii) Em contrapartida, diz-se: "Trabalhar que nem um mouro" (referência aos mouros que foram escravizados pelos cristãos depois da Reconquista da península ibérica);
(iv) ou "Trabalhar que nem um galego" (referência aos aguadeiros de Lisboa no Séc. XIX, que eram justamente oriundos da Galiza);
(v) ou ainda "Trabalho é bom pró preto" (dizia-se em Portugal, no tempo do império colonial; e continua a dizer-se hoje, não por racismo mas por um qualquer lapsus linguae);
(vi) bem como "Trabalho se fez para burro e português" (no Rio de Janeiro, referindo-se à leva de emigrantes pobres que chegavam ao Brasil na 1ª metade do Séc. XX)
Pensem nisto e na sua eventual relação (ou falta dela) ... com a saúde no trabalho!
Post Scriptum - Já agora qual será a razão por que se diz: "Mal por mal antes cadeia do que hospital?"
Dir-me-ão que a piada (brazuca) é de mau gosto e está gasta... Em todo o caso, ela serve para abrir, sem pompa nem circunstância, esta blogaria sobre o tripaliu(m) que mata a gente.
Como teletrabalhador (nocturno e diurno) exerço aqui o meu pleno direito de fazer o meu minuto de humor... no trabalho (ou na blogosfera, tanto faz). Esta figura não é jurídica: tudo o que não vem no Código de Trabalho, a partir de agora, tem de ser (re)equacionado... O break no trabalho não vem no Código, pelo que se pode questionar a sua legitimidade. Embora faça bem às costas e à saúde mental. Mas adiante.
Etimologicamente falando, a palavra Trabalho vem do latim Tripaliu(m), originalmente um instrumento composto de Tres Pales (três paus) que servia justamente para Tripaliare: neste caso, servia ao carrasco romano para trabalhar, literalmente torturar alguém (por ex., um escravo) usando para o efeito o Tripaliu(m) ... Claro que o carrasco era outro escravo, já que o cidadão romano não trabalhva com as mãos... "'Tá quieto, que trabalhar faz calos", dizia o cidadão.
É fantástico como no nosso (des)humor do dia a dia a gente ainda usa expressões que remetem para este sentido original, etimológico, do palavrão que nos coube em sorte... Veja-se de resto algumas dos nossos ditados ditos populares:
(i) "Para gozar eu; para trabalhar um irmão que Deus me deu" (a repulsa cristã e senhorial pelo trabalho manual... e o seu sucedâneo burguês e positivista: "Deus ajuda a quem trabalha, que é o capital que menos falha", "Se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes";
(ii) Em suma, cibertrabalhadores, o trabalho não dignifica: "Só trabalha quem não sabe fazer mais nada"; "Mão de mestre não suja ferramenta"; "Mais vale um bom mandador do que um bom trabalhador"...
(iii) Em contrapartida, diz-se: "Trabalhar que nem um mouro" (referência aos mouros que foram escravizados pelos cristãos depois da Reconquista da península ibérica);
(iv) ou "Trabalhar que nem um galego" (referência aos aguadeiros de Lisboa no Séc. XIX, que eram justamente oriundos da Galiza);
(v) ou ainda "Trabalho é bom pró preto" (dizia-se em Portugal, no tempo do império colonial; e continua a dizer-se hoje, não por racismo mas por um qualquer lapsus linguae);
(vi) bem como "Trabalho se fez para burro e português" (no Rio de Janeiro, referindo-se à leva de emigrantes pobres que chegavam ao Brasil na 1ª metade do Séc. XX)
Pensem nisto e na sua eventual relação (ou falta dela) ... com a saúde no trabalho!
Post Scriptum - Já agora qual será a razão por que se diz: "Mal por mal antes cadeia do que hospital?"
Saúde & Segurança do Trabalho - XIII: O IDICT sem o braço armado da Inspecção do Trabalho
Pergunta o Paulo Dinis, o grande animador da Ergolist:
Então o Decreto-Lei n.º 266/2002 não abria já as portas para a constituição de uma agência nacional em substituição do IDICT ? O próprio acordo sobre condições de trabalho, higiene e segurança no trabalho e combate à sinistralidade, de 2001, também não sugeria, de certa forma, que fossem diferenciadas a área de supervisão das relações colectivas de trabalho e a área técnica da SH&ST ?
Resposta de O Blogador:
O Paulo é um homem atento, como convém, à produção, em grande série, do Diário da República (abreviadamente, DR). Confesso que não é o meu diário preferido: não tem, por exemplo, um livro de estilo como o Público. Além disso, parece um pasquim, daqueles onde se escreve mal e porcamente a língua da gente.
Embora mau leitor do DR e sobretudo distraído, quer-me parecer que o Decreto-Lei n.º 266/2002, de 26 de Novembro, se limita a estabelecer a orgânica da nova Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
O novo inquilino da Praça de Londres fez o que todos os novos inquilinos do poder gostam de fazer: mudar a mobília, os sofás, e as cortinas; trocar as fechaduras; substituir a farda do porteiro; reformular o organograma... Em suma, a nova/velha Direcção-Geral, para além das competências anteriormente detidas pela Direcção-Geral do Emprego e Formação Profissional (DGEFP) e pela Direcção-Geral das Condições de Trabalho (DGCT), passou igualmente a deter competências na área das relações profissionais, anteriormente cometidas ao Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT).
No preâmbulo daquele diploma legal não descortino nenhuma "porta aberta" à criação de uma eventual agência nacional de segurança e saúde no trabalho, embora dessa possibilidade se fale à boca cheia nos "mentideros" dos seminários congressos e demais encontros onde a gente se vai (des)encontrando, em honra e homenagem à Santa Segurança, Higiene & Saúde no Trabalho. O acordo de 2001, por sua vez, já previa a saída, do IDICT, dos famosos especialistas em gestão de conflitos sócio-laborais cuja história está por fazer.
Temos que recuar a 1991 e ao acordo específico sobre SH&ST, assinado pelo Governo e parceiros sociais com assento no então Conselho Permanente de Concertação Social, hoje integrado no Conselho Económico e Social.
Para os mais novos e os menos atentos, é útil recordar que um dos pontos do acordo era justamente a criação de um Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho, de gestão tripartida (Governo e parceiros sociais).
Convenhamos que a ideia em si era boa: pretendia-se prevenir o risco anunciado de governamentalização do Instituto. Com a criação do IDICT, em 1993, a letra e a forma do acordo foram inegavelmente traídos. O IDICT passou a deter três áreas de competências: (i) inspecção do trabalho; (ii) investigação & desenvolvimento na área das condições de trabalho; e (iii) gestão das relações colectivas de trabalho...
Os vários presidentes do IDICT que eu fui conhecendo pessoalmente a partir de então sempre se mostraram hostis à ideia da saída da Inspecção Geral do Trabalho (abreviadamente, IGT). Para eles, o IDICT sem o "abraço armado" (sic) da IGT nunca teria força nem credibilidade dentro e fora das empresas... Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Então o Decreto-Lei n.º 266/2002 não abria já as portas para a constituição de uma agência nacional em substituição do IDICT ? O próprio acordo sobre condições de trabalho, higiene e segurança no trabalho e combate à sinistralidade, de 2001, também não sugeria, de certa forma, que fossem diferenciadas a área de supervisão das relações colectivas de trabalho e a área técnica da SH&ST ?
Resposta de O Blogador:
O Paulo é um homem atento, como convém, à produção, em grande série, do Diário da República (abreviadamente, DR). Confesso que não é o meu diário preferido: não tem, por exemplo, um livro de estilo como o Público. Além disso, parece um pasquim, daqueles onde se escreve mal e porcamente a língua da gente.
Embora mau leitor do DR e sobretudo distraído, quer-me parecer que o Decreto-Lei n.º 266/2002, de 26 de Novembro, se limita a estabelecer a orgânica da nova Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
O novo inquilino da Praça de Londres fez o que todos os novos inquilinos do poder gostam de fazer: mudar a mobília, os sofás, e as cortinas; trocar as fechaduras; substituir a farda do porteiro; reformular o organograma... Em suma, a nova/velha Direcção-Geral, para além das competências anteriormente detidas pela Direcção-Geral do Emprego e Formação Profissional (DGEFP) e pela Direcção-Geral das Condições de Trabalho (DGCT), passou igualmente a deter competências na área das relações profissionais, anteriormente cometidas ao Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT).
No preâmbulo daquele diploma legal não descortino nenhuma "porta aberta" à criação de uma eventual agência nacional de segurança e saúde no trabalho, embora dessa possibilidade se fale à boca cheia nos "mentideros" dos seminários congressos e demais encontros onde a gente se vai (des)encontrando, em honra e homenagem à Santa Segurança, Higiene & Saúde no Trabalho. O acordo de 2001, por sua vez, já previa a saída, do IDICT, dos famosos especialistas em gestão de conflitos sócio-laborais cuja história está por fazer.
Temos que recuar a 1991 e ao acordo específico sobre SH&ST, assinado pelo Governo e parceiros sociais com assento no então Conselho Permanente de Concertação Social, hoje integrado no Conselho Económico e Social.
Para os mais novos e os menos atentos, é útil recordar que um dos pontos do acordo era justamente a criação de um Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho, de gestão tripartida (Governo e parceiros sociais).
Convenhamos que a ideia em si era boa: pretendia-se prevenir o risco anunciado de governamentalização do Instituto. Com a criação do IDICT, em 1993, a letra e a forma do acordo foram inegavelmente traídos. O IDICT passou a deter três áreas de competências: (i) inspecção do trabalho; (ii) investigação & desenvolvimento na área das condições de trabalho; e (iii) gestão das relações colectivas de trabalho...
Os vários presidentes do IDICT que eu fui conhecendo pessoalmente a partir de então sempre se mostraram hostis à ideia da saída da Inspecção Geral do Trabalho (abreviadamente, IGT). Para eles, o IDICT sem o "abraço armado" (sic) da IGT nunca teria força nem credibilidade dentro e fora das empresas... Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Saúde & Segurança do Trabalho - XIII: O IDICT sem o braço armado da Inspecção do Trabalho
Pergunta o Paulo Dinis, o grande animador da Ergolist:
Então o Decreto-Lei n.º 266/2002 não abria já as portas para a constituição de uma agência nacional em substituição do IDICT ? O próprio acordo sobre condições de trabalho, higiene e segurança no trabalho e combate à sinistralidade, de 2001, também não sugeria, de certa forma, que fossem diferenciadas a área de supervisão das relações colectivas de trabalho e a área técnica da SH&ST ?
Resposta de O Blogador:
O Paulo é um homem atento, como convém, à produção, em grande série, do Diário da República (abreviadamente, DR). Confesso que não é o meu diário preferido: não tem, por exemplo, um livro de estilo como o Público. Além disso, parece um pasquim, daqueles onde se escreve mal e porcamente a língua da gente.
Embora mau leitor do DR e sobretudo distraído, quer-me parecer que o Decreto-Lei n.º 266/2002, de 26 de Novembro, se limita a estabelecer a orgânica da nova Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
O novo inquilino da Praça de Londres fez o que todos os novos inquilinos do poder gostam de fazer: mudar a mobília, os sofás, e as cortinas; trocar as fechaduras; substituir a farda do porteiro; reformular o organograma... Em suma, a nova/velha Direcção-Geral, para além das competências anteriormente detidas pela Direcção-Geral do Emprego e Formação Profissional (DGEFP) e pela Direcção-Geral das Condições de Trabalho (DGCT), passou igualmente a deter competências na área das relações profissionais, anteriormente cometidas ao Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT).
No preâmbulo daquele diploma legal não descortino nenhuma "porta aberta" à criação de uma eventual agência nacional de segurança e saúde no trabalho, embora dessa possibilidade se fale à boca cheia nos "mentideros" dos seminários congressos e demais encontros onde a gente se vai (des)encontrando, em honra e homenagem à Santa Segurança, Higiene & Saúde no Trabalho. O acordo de 2001, por sua vez, já previa a saída, do IDICT, dos famosos especialistas em gestão de conflitos sócio-laborais cuja história está por fazer.
Temos que recuar a 1991 e ao acordo específico sobre SH&ST, assinado pelo Governo e parceiros sociais com assento no então Conselho Permanente de Concertação Social, hoje integrado no Conselho Económico e Social.
Para os mais novos e os menos atentos, é útil recordar que um dos pontos do acordo era justamente a criação de um Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho, de gestão tripartida (Governo e parceiros sociais).
Convenhamos que a ideia em si era boa: pretendia-se prevenir o risco anunciado de governamentalização do Instituto. Com a criação do IDICT, em 1993, a letra e a forma do acordo foram inegavelmente traídos. O IDICT passou a deter três áreas de competências: (i) inspecção do trabalho; (ii) investigação & desenvolvimento na área das condições de trabalho; e (iii) gestão das relações colectivas de trabalho...
Os vários presidentes do IDICT que eu fui conhecendo pessoalmente a partir de então sempre se mostraram hostis à ideia da saída da Inspecção Geral do Trabalho (abreviadamente, IGT). Para eles, o IDICT sem o "abraço armado" (sic) da IGT nunca teria força nem credibilidade dentro e fora das empresas... Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Então o Decreto-Lei n.º 266/2002 não abria já as portas para a constituição de uma agência nacional em substituição do IDICT ? O próprio acordo sobre condições de trabalho, higiene e segurança no trabalho e combate à sinistralidade, de 2001, também não sugeria, de certa forma, que fossem diferenciadas a área de supervisão das relações colectivas de trabalho e a área técnica da SH&ST ?
Resposta de O Blogador:
O Paulo é um homem atento, como convém, à produção, em grande série, do Diário da República (abreviadamente, DR). Confesso que não é o meu diário preferido: não tem, por exemplo, um livro de estilo como o Público. Além disso, parece um pasquim, daqueles onde se escreve mal e porcamente a língua da gente.
Embora mau leitor do DR e sobretudo distraído, quer-me parecer que o Decreto-Lei n.º 266/2002, de 26 de Novembro, se limita a estabelecer a orgânica da nova Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
O novo inquilino da Praça de Londres fez o que todos os novos inquilinos do poder gostam de fazer: mudar a mobília, os sofás, e as cortinas; trocar as fechaduras; substituir a farda do porteiro; reformular o organograma... Em suma, a nova/velha Direcção-Geral, para além das competências anteriormente detidas pela Direcção-Geral do Emprego e Formação Profissional (DGEFP) e pela Direcção-Geral das Condições de Trabalho (DGCT), passou igualmente a deter competências na área das relações profissionais, anteriormente cometidas ao Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT).
No preâmbulo daquele diploma legal não descortino nenhuma "porta aberta" à criação de uma eventual agência nacional de segurança e saúde no trabalho, embora dessa possibilidade se fale à boca cheia nos "mentideros" dos seminários congressos e demais encontros onde a gente se vai (des)encontrando, em honra e homenagem à Santa Segurança, Higiene & Saúde no Trabalho. O acordo de 2001, por sua vez, já previa a saída, do IDICT, dos famosos especialistas em gestão de conflitos sócio-laborais cuja história está por fazer.
Temos que recuar a 1991 e ao acordo específico sobre SH&ST, assinado pelo Governo e parceiros sociais com assento no então Conselho Permanente de Concertação Social, hoje integrado no Conselho Económico e Social.
Para os mais novos e os menos atentos, é útil recordar que um dos pontos do acordo era justamente a criação de um Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho, de gestão tripartida (Governo e parceiros sociais).
Convenhamos que a ideia em si era boa: pretendia-se prevenir o risco anunciado de governamentalização do Instituto. Com a criação do IDICT, em 1993, a letra e a forma do acordo foram inegavelmente traídos. O IDICT passou a deter três áreas de competências: (i) inspecção do trabalho; (ii) investigação & desenvolvimento na área das condições de trabalho; e (iii) gestão das relações colectivas de trabalho...
Os vários presidentes do IDICT que eu fui conhecendo pessoalmente a partir de então sempre se mostraram hostis à ideia da saída da Inspecção Geral do Trabalho (abreviadamente, IGT). Para eles, o IDICT sem o "abraço armado" (sic) da IGT nunca teria força nem credibilidade dentro e fora das empresas... Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
27 novembro 2003
(Ex)citações de cada dia - XI: Nunca desistas de um sonho
"Nunca desistas de um sonho. Se não houver na pastelaria da tua rua, dá uma volta ao quarteirão e procura-o na mais próxima. Como diz o poeta António Gedeão, é o Sonho que comanda a Vida".
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PS - 50% dos créditos são devidos à Paula C. Isentos de IVA.
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PS - 50% dos créditos são devidos à Paula C. Isentos de IVA.
(Ex)citações de cada dia - XI: Nunca desistas de um sonho
"Nunca desistas de um sonho. Se não houver na pastelaria da tua rua, dá uma volta ao quarteirão e procura-o na mais próxima. Como diz o poeta António Gedeão, é o Sonho que comanda a Vida".
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PS - 50% dos créditos são devidos à Paula C. Isentos de IVA.
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PS - 50% dos créditos são devidos à Paula C. Isentos de IVA.
Saúde & Segurança do Trabalho - XII: Dinheiro e deontologia
F. Gaspar: “Cerca de 45 anos a visitar empresas em Portugal (...) permitem-me dizer-lhe que esse conflito de interesses [ empregador / profissionais de SH&ST], é muito real. Tudo tem início no acto da contratação do médico do trabalho ou, agora mais recentemente, com a escolha da empresa que possa prestar serviços nessa área, tal como prevê a lei. Quem não assiste ao quotidiano das empresas não pode imaginar o que se passa. Como os contos são largos e, nalguns casos, muito ‘cabeludos’, talvez haja um dia a oportunidade de trocarmos impressões sobre esta matéria e eu contar-lhe algumas histórias reais. Fica aqui, nas entrelinhas, aquilo que me apetecia dizer dos jogos de força entre a deontologia e o dinheiro... Pelo menos, para que os menos avisados e os debutantes nesta profissão consigam navegar neste rio caudaloso de interesses” (Ergolist. 26.11.2003).
C. Gamelas: “Se o Técnico Superior [ de Segurança e Higiene do Trabalho ] pretende executar a sua actividade de acordo com a sua deontologia profissional, o mais certo é ficar sempre no desemprego (Ergolist. 26.11.2003)
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O país precisa (e as nossas empresas merecem) que os nossos profissionais na área da SH&ST (médicos e enfermeiros do trabalho, especialistas e técnicos de segurança e higiene do trabalho, ergonomistas, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais ocupacionais, educadores e promotores de saúde...) sejam os melhores do mundo. Isto é: que sejam cientifica e tecnicamente bem preparados, mas também dotados das competências humanas, relacionais e sociais que são inerentes ao seu campo de competência profissional e que fazem parte do conceito de autonomia técnica.
Não posso, por isso, concordar com a afirmação de que um técnico superior de segurança e higiene do trabalho eticamente responsável (logo, competente) fique automaticamente excluído do mercado de trabalho... Admito que pelo seu grau de exigência e de rigor poderá não querer trabalhar a qualquer preço e em qualquer sítio...
Todas as profissões têm (ou devem ter) um código de ética e deontologia. É esperado, no mínimo, que a sua conduta seja pautada por valores. No caso dos profissionais de SH&ST esses valores são exigentes e até têm moldura jurídica.
O técnico superior de segurança e higiene do trabalho não pode, obviamente, substituir-se ao empregador e aos seus representantes. E muito menos decidir por ele. Deve, em todo o caso, pôr à sua disposição todas as possíveis soluções para um dado problema com implicações na saúde e segurança dos seus trabalhadores. Deve avaliar as consequências de cada uma dessas soluções, incluindo os custos e os benefícios em temos económicos e sociais.
Decidir é escolher uma de entre várias alternativas. O papel dos gestores é tomar decisões e resolver problemas. O técnico superior de segurança e higiene do trabalhador não faz parte do line (hierarquia), faz parte do staff (serviços funcionais). Não é um decisor, a menos que lhe deleguem funções executivas...
Os gestores também devem pautar o seu comportamento por valores éticos. E hoje há uma coisa que se chama "responsabilidade social" das empresas e que começa a ser valorizada pelos accionistas, pelos clientes, pela opinião pública... E pelos próprios gestores e empregadores, porque também pode e deve "dar dividendos".
Estamos todos de acordo quanto à urgência de as associações profissionais dos profissionais de SH&ST tomarem posição clara e inequívoca sobre as questões de ética e deontologia no exercício da sua actividade. Refiro-me em especial ao médico do trabalho, ao enfermeiro do trabalho, ao técnico de segurança e higiene do trabalho e ao técnico superior de segurança e higiene do trabalho.
De qualquer modo, considero que podemos e devemos continuar a discutir, neste e noutros espaços, as questão de ética e deontologia das profissões na área da SH&ST. Infelizmente, estas questões são sempre as menos prioritárias e as mais incómodas.
Espero bem que estas questões estejam a ser extensa e profundamente abordadas, por quem de direito, nos cursos de pós-graduação para técnicos superiores de segurança e higiene do trabalho... Mas devo dizer que tenho sérias dúvidas quanto a isso...
Não basta, de resto, o que diz a lei, é preciso que os novos profissionais sejam capazes, no terreno, de adoptar comportamentos ética e deontologicamente correctos, o que está longe de ser sinónimo de demagogia, irrealismo ou fundamentalismo...
C. Gamelas: “Se o Técnico Superior [ de Segurança e Higiene do Trabalho ] pretende executar a sua actividade de acordo com a sua deontologia profissional, o mais certo é ficar sempre no desemprego (Ergolist. 26.11.2003)
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O país precisa (e as nossas empresas merecem) que os nossos profissionais na área da SH&ST (médicos e enfermeiros do trabalho, especialistas e técnicos de segurança e higiene do trabalho, ergonomistas, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais ocupacionais, educadores e promotores de saúde...) sejam os melhores do mundo. Isto é: que sejam cientifica e tecnicamente bem preparados, mas também dotados das competências humanas, relacionais e sociais que são inerentes ao seu campo de competência profissional e que fazem parte do conceito de autonomia técnica.
Não posso, por isso, concordar com a afirmação de que um técnico superior de segurança e higiene do trabalho eticamente responsável (logo, competente) fique automaticamente excluído do mercado de trabalho... Admito que pelo seu grau de exigência e de rigor poderá não querer trabalhar a qualquer preço e em qualquer sítio...
Todas as profissões têm (ou devem ter) um código de ética e deontologia. É esperado, no mínimo, que a sua conduta seja pautada por valores. No caso dos profissionais de SH&ST esses valores são exigentes e até têm moldura jurídica.
O técnico superior de segurança e higiene do trabalho não pode, obviamente, substituir-se ao empregador e aos seus representantes. E muito menos decidir por ele. Deve, em todo o caso, pôr à sua disposição todas as possíveis soluções para um dado problema com implicações na saúde e segurança dos seus trabalhadores. Deve avaliar as consequências de cada uma dessas soluções, incluindo os custos e os benefícios em temos económicos e sociais.
Decidir é escolher uma de entre várias alternativas. O papel dos gestores é tomar decisões e resolver problemas. O técnico superior de segurança e higiene do trabalhador não faz parte do line (hierarquia), faz parte do staff (serviços funcionais). Não é um decisor, a menos que lhe deleguem funções executivas...
Os gestores também devem pautar o seu comportamento por valores éticos. E hoje há uma coisa que se chama "responsabilidade social" das empresas e que começa a ser valorizada pelos accionistas, pelos clientes, pela opinião pública... E pelos próprios gestores e empregadores, porque também pode e deve "dar dividendos".
Estamos todos de acordo quanto à urgência de as associações profissionais dos profissionais de SH&ST tomarem posição clara e inequívoca sobre as questões de ética e deontologia no exercício da sua actividade. Refiro-me em especial ao médico do trabalho, ao enfermeiro do trabalho, ao técnico de segurança e higiene do trabalho e ao técnico superior de segurança e higiene do trabalho.
De qualquer modo, considero que podemos e devemos continuar a discutir, neste e noutros espaços, as questão de ética e deontologia das profissões na área da SH&ST. Infelizmente, estas questões são sempre as menos prioritárias e as mais incómodas.
Espero bem que estas questões estejam a ser extensa e profundamente abordadas, por quem de direito, nos cursos de pós-graduação para técnicos superiores de segurança e higiene do trabalho... Mas devo dizer que tenho sérias dúvidas quanto a isso...
Não basta, de resto, o que diz a lei, é preciso que os novos profissionais sejam capazes, no terreno, de adoptar comportamentos ética e deontologicamente correctos, o que está longe de ser sinónimo de demagogia, irrealismo ou fundamentalismo...
Saúde & Segurança do Trabalho - XII: Dinheiro e deontologia
F. Gaspar: “Cerca de 45 anos a visitar empresas em Portugal (...) permitem-me dizer-lhe que esse conflito de interesses [ empregador / profissionais de SH&ST], é muito real. Tudo tem início no acto da contratação do médico do trabalho ou, agora mais recentemente, com a escolha da empresa que possa prestar serviços nessa área, tal como prevê a lei. Quem não assiste ao quotidiano das empresas não pode imaginar o que se passa. Como os contos são largos e, nalguns casos, muito ‘cabeludos’, talvez haja um dia a oportunidade de trocarmos impressões sobre esta matéria e eu contar-lhe algumas histórias reais. Fica aqui, nas entrelinhas, aquilo que me apetecia dizer dos jogos de força entre a deontologia e o dinheiro... Pelo menos, para que os menos avisados e os debutantes nesta profissão consigam navegar neste rio caudaloso de interesses” (Ergolist. 26.11.2003).
C. Gamelas: “Se o Técnico Superior [ de Segurança e Higiene do Trabalho ] pretende executar a sua actividade de acordo com a sua deontologia profissional, o mais certo é ficar sempre no desemprego (Ergolist. 26.11.2003)
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O país precisa (e as nossas empresas merecem) que os nossos profissionais na área da SH&ST (médicos e enfermeiros do trabalho, especialistas e técnicos de segurança e higiene do trabalho, ergonomistas, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais ocupacionais, educadores e promotores de saúde...) sejam os melhores do mundo. Isto é: que sejam cientifica e tecnicamente bem preparados, mas também dotados das competências humanas, relacionais e sociais que são inerentes ao seu campo de competência profissional e que fazem parte do conceito de autonomia técnica.
Não posso, por isso, concordar com a afirmação de que um técnico superior de segurança e higiene do trabalho eticamente responsável (logo, competente) fique automaticamente excluído do mercado de trabalho... Admito que pelo seu grau de exigência e de rigor poderá não querer trabalhar a qualquer preço e em qualquer sítio...
Todas as profissões têm (ou devem ter) um código de ética e deontologia. É esperado, no mínimo, que a sua conduta seja pautada por valores. No caso dos profissionais de SH&ST esses valores são exigentes e até têm moldura jurídica.
O técnico superior de segurança e higiene do trabalho não pode, obviamente, substituir-se ao empregador e aos seus representantes. E muito menos decidir por ele. Deve, em todo o caso, pôr à sua disposição todas as possíveis soluções para um dado problema com implicações na saúde e segurança dos seus trabalhadores. Deve avaliar as consequências de cada uma dessas soluções, incluindo os custos e os benefícios em temos económicos e sociais.
Decidir é escolher uma de entre várias alternativas. O papel dos gestores é tomar decisões e resolver problemas. O técnico superior de segurança e higiene do trabalhador não faz parte do line (hierarquia), faz parte do staff (serviços funcionais). Não é um decisor, a menos que lhe deleguem funções executivas...
Os gestores também devem pautar o seu comportamento por valores éticos. E hoje há uma coisa que se chama "responsabilidade social" das empresas e que começa a ser valorizada pelos accionistas, pelos clientes, pela opinião pública... E pelos próprios gestores e empregadores, porque também pode e deve "dar dividendos".
Estamos todos de acordo quanto à urgência de as associações profissionais dos profissionais de SH&ST tomarem posição clara e inequívoca sobre as questões de ética e deontologia no exercício da sua actividade. Refiro-me em especial ao médico do trabalho, ao enfermeiro do trabalho, ao técnico de segurança e higiene do trabalho e ao técnico superior de segurança e higiene do trabalho.
De qualquer modo, considero que podemos e devemos continuar a discutir, neste e noutros espaços, as questão de ética e deontologia das profissões na área da SH&ST. Infelizmente, estas questões são sempre as menos prioritárias e as mais incómodas.
Espero bem que estas questões estejam a ser extensa e profundamente abordadas, por quem de direito, nos cursos de pós-graduação para técnicos superiores de segurança e higiene do trabalho... Mas devo dizer que tenho sérias dúvidas quanto a isso...
Não basta, de resto, o que diz a lei, é preciso que os novos profissionais sejam capazes, no terreno, de adoptar comportamentos ética e deontologicamente correctos, o que está longe de ser sinónimo de demagogia, irrealismo ou fundamentalismo...
C. Gamelas: “Se o Técnico Superior [ de Segurança e Higiene do Trabalho ] pretende executar a sua actividade de acordo com a sua deontologia profissional, o mais certo é ficar sempre no desemprego (Ergolist. 26.11.2003)
_________
O país precisa (e as nossas empresas merecem) que os nossos profissionais na área da SH&ST (médicos e enfermeiros do trabalho, especialistas e técnicos de segurança e higiene do trabalho, ergonomistas, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais ocupacionais, educadores e promotores de saúde...) sejam os melhores do mundo. Isto é: que sejam cientifica e tecnicamente bem preparados, mas também dotados das competências humanas, relacionais e sociais que são inerentes ao seu campo de competência profissional e que fazem parte do conceito de autonomia técnica.
Não posso, por isso, concordar com a afirmação de que um técnico superior de segurança e higiene do trabalho eticamente responsável (logo, competente) fique automaticamente excluído do mercado de trabalho... Admito que pelo seu grau de exigência e de rigor poderá não querer trabalhar a qualquer preço e em qualquer sítio...
Todas as profissões têm (ou devem ter) um código de ética e deontologia. É esperado, no mínimo, que a sua conduta seja pautada por valores. No caso dos profissionais de SH&ST esses valores são exigentes e até têm moldura jurídica.
O técnico superior de segurança e higiene do trabalho não pode, obviamente, substituir-se ao empregador e aos seus representantes. E muito menos decidir por ele. Deve, em todo o caso, pôr à sua disposição todas as possíveis soluções para um dado problema com implicações na saúde e segurança dos seus trabalhadores. Deve avaliar as consequências de cada uma dessas soluções, incluindo os custos e os benefícios em temos económicos e sociais.
Decidir é escolher uma de entre várias alternativas. O papel dos gestores é tomar decisões e resolver problemas. O técnico superior de segurança e higiene do trabalhador não faz parte do line (hierarquia), faz parte do staff (serviços funcionais). Não é um decisor, a menos que lhe deleguem funções executivas...
Os gestores também devem pautar o seu comportamento por valores éticos. E hoje há uma coisa que se chama "responsabilidade social" das empresas e que começa a ser valorizada pelos accionistas, pelos clientes, pela opinião pública... E pelos próprios gestores e empregadores, porque também pode e deve "dar dividendos".
Estamos todos de acordo quanto à urgência de as associações profissionais dos profissionais de SH&ST tomarem posição clara e inequívoca sobre as questões de ética e deontologia no exercício da sua actividade. Refiro-me em especial ao médico do trabalho, ao enfermeiro do trabalho, ao técnico de segurança e higiene do trabalho e ao técnico superior de segurança e higiene do trabalho.
De qualquer modo, considero que podemos e devemos continuar a discutir, neste e noutros espaços, as questão de ética e deontologia das profissões na área da SH&ST. Infelizmente, estas questões são sempre as menos prioritárias e as mais incómodas.
Espero bem que estas questões estejam a ser extensa e profundamente abordadas, por quem de direito, nos cursos de pós-graduação para técnicos superiores de segurança e higiene do trabalho... Mas devo dizer que tenho sérias dúvidas quanto a isso...
Não basta, de resto, o que diz a lei, é preciso que os novos profissionais sejam capazes, no terreno, de adoptar comportamentos ética e deontologicamente correctos, o que está longe de ser sinónimo de demagogia, irrealismo ou fundamentalismo...
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