Guiné > Zona Leste > Mansambo > 1968: A construção de uma das oito casernas-abrigo, cada um das quais albergava duas secções
História da “feitoria” de Mansambo, com foral a partir de 21 de Abril de 1968 (Texto de Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano da CART 2339, 1968/69)
A ideia de “fortificar” as imediações da pequena tabanca de Mansambo (sob a chefia do Leonardo – um velho homem grande) terá sido iniciada ainda antes do General Spínola ter chegado à Guiné como Governador e Comandante Chefe.
De “pingalim”, de monóculo, de luvas, bem fardado e com uma postura de “cavalaria”, como mandavam as regras, era assim que aparecia, de surpresa no mato em visitas de informação ou operações, algumas já descritas noutras ocasiões aqui na tertúlia.
Em Fevereiro de 1968,depois de várias acções de controlo na zona, faz-se a primeira visita para saber da viabilidade de construir um “aquartelamento altamente fortificado” que sustivesse a força do IN (a partir das matas do Poidon e Burontoni) no célebre triângulo Xime-Bambadinca-Xitole.
Devo notar que, por notícias, havia gente nossa em piores dificuldades. Justiça seja feita.
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Em 21 de Abril de 1968 1 Gr Comb, neste caso o 4º da CART 2339, inicia a ocupação de Mansambo e a construção de casernas-abrigo e em sobreposição com 1 Gr Comb da Cart 1646.
Em Julho todo o pessoal operacional estava aí instalado, ainda com a Formação em Fá Mandinga.
Só em Novembro a Companhia se reuniu na totalidade.
Algumas notas: A 11 de Julho de 1968 o IN reteve um dos nossos elementos, na fonte, e na perseguição, em conjunto com as NT, o Cmdt do Pel Milícias 103 accionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. Deste nosso camarada só houve notícias depois do 25 de Abril de 1974.
Em 19 de Setembro de 1968, a CART 2339 sofre uma emboscada, vinda da copa das árvores, também na fonte, enquanto procedia ao abastecimento de água, que causou 11 feridos (5 graves) e um morto. Um dos feridos graves viria a falecer no Hospital Militar de Bissau (241) a 25 desse mês.
Em 30 de Setembro nova emboscada na fonte a Pelotão de Milícia e uma mulher da Tabanca.
Nota: Em 2 de Julho de 1968 o COCom-Chehefe visitou Fá, a 4 visitou Mansambo, tendo voltado a 20 de Setembro de 1968, depois da emboscada na fonte.
Depois desta nota introdutória, no sentido de percebermos o contexto que nos rodeava, seguiremos invocando a História da Companhia:
O projecto era do BENG 447, a mão de obra era o nosso pessoal, que, no terreno, construía um aquartelamento, com base nos materiais de construção que quase diariamente lhe era enviado em enormes colunas de reabastecimento.
Cada abrigo-caserna tinha capacidade para 2 secções. 15 dias depois de iniciada a obra o Cmdt da Companhia deslocou-se para Mansambo para supervisionar os trabalhos.
O Gr Comb da 1646 regressou ao Xitole e a partir daí a segurança era realizada pelo pessoal da Companhia que ainda estava sediado em Fá Mandinga.
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Cada Gr Comb ficou encarregado da constução de dois abrigos. A disposição dos abrigos (8) era em quadrado. Em simultâneo procedia-se à desmatação e capinagem das imediações.
Entretanto a Secretaria mudou-se para Bambadinca e só em Novembro se estabelece em Mansambo, com a adaptação de um abrigo e procede-se à construção de uma enfermaria, um depósito de géneros, uma cozinha e um poço que abasteceria os balneários e em geral o aquartelamento.
A iluminação exterior e interior, a gerador, foi inaugurada a 4 de Agosto de 1968.
Grande “ronco”: balas tracejantes, morteirada, etc., etc., etc.. Mais vistoso que fogo de artifício. Até aí eram as garrafas de cerveja (bazucas) com mechas que serviam de iluminação.
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Os abrigos, construídos em blocos de cimento, executados no local, tinham porta e umas “seteiras”, eram recobertos na sua fachada com terra, cerca de um metro e meio, bidões de gasóleo, inteiros ou abertos em chapas planas.
Os telhados, eram executados, com terra, bocados de baga-baga, cibes, chapas de bidões e mais cibes. Uma verdadeira fortaleza (???).
Já houve quem questionasse o limite da sua segurança. Nós fomos atacados muitas vezes e, ou por falta de pontaria do IN ou pela qualidade da instalação, não tivemos, nesse aspecto razão de queixa.
Texto e fotografia:
© Carlos Marques dos Santos (2005)
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