09 maio 2006

Guiné 63/74 - DCCXXV: Amigos para sempre (Tony Levezinho, CCAÇ 12)
















António Eugénio da Silva Levezinho, Tony para os amigos, o melhor de todos nós... Em 1969, ei-lo furriel miliciano da CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12... Hoje, no seu retiro algarvio, Martinhal, Sagres, Vila do Bispo ... onde ao lado da sua querida Isabel continua, sempre de porta aberta, afável e disponível para os amigos.
É um gentleman, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970... Antigo quadro da Petrogal aonde chegou a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros), o Tony era(ainda é) um perito na arte do impor-export do petróleo e seus derivados... Graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o fiel amigo à mesa, em Bambadinca. O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, regularmente, através do navio-tanque da Sacor...
Não gosta de falar dele, cultiva o low profile, mas ao fim de muitas insistências lá foi ao baú das suas recordações desencantar estes mimos que nos enviou.... Uma nota modesta com um
"Olá, Luís" e a seguinte justificação: "Como prometido aqui seguem as seguintes digitalizações:
As quatro páginas da ementa da última refeição, na viagem de regresso, a bordo do Uíge, e outras tantas fotos mais de interesse pessoal do que documental mas, mesmo assim... aí vão.
Um grande abraço. Tony"...



N/M Uíge > 17 Março de 1971 : Dia da partida de Bissau para Lisboa. Regressávamos da guerra, com a morte na alma e mazelas no corpo, num navio da marinha mercante da Companhia Colonial de Navegação (uma empresa, fundada em Angola em 1922, para assegurar os transportes marítimos das colónias portuguesas com a Metrópole, sendo o paqueteVera Cruz o seu navio mais emblemático, e que não teve tempo de fazer o branqueamento do seu nome, já que o termo colonial não era politicamente correcto no início dos anos 70...).

Como se tudo continuasse como dantes e a vida corresse normalmente, "contra os ventos da história" (como então se dizia), nessa viagem de regresso à pátria servia-se a bordo, na classe turística (reservada aos sargentos) uma sopa de creme de marisco, seguido de um prato de peixe (Pescada à baiana) e um de carne (Lombo Estufado à Boulanger)... sem esquecer a sobremesa: a bela fruta da época, o bom café colonial, o inevitável cigarro a acompanhar um uísque velho, antes de mais uma noitada de lerpa ou de king... Obrigado ao Humberto Reis e à sua já famosa "memória de elefante" por me lembrar que o 17 de Março de 1971 foi o primeiro dia do resto das nossas vidas... (LG)

© António Levezinho (2006)

A caminho da Guiné > A bordo do Niassa > Maio de 1969: Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969). Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira, furriéis milicianos Branquinho, Levezinho, Reis, Fernandes, Henriques e Almeida (este último já falecido).

© Luís Graça (2005)



N/M Uíge > Março de 1971 > Nomes e moradas que ficaram escritos numa folha de papel (nas costas da ementa de um jantar a bordo) no alvoroço do regresso... Alguns de nós nunca mais se voltaram a encontrar: foi o caso do Luciano, desaparecido em condições trágicas (ao que me contaram) ... O Branquinho voltou para a Évora, o Fernandes para o Barreiro e para a CUF.... Voltei a encontrá-lo apenas uma vez, há uns anos atrás... tal como o José Manuel Rosado Piça, o grande Piça, para os amigos!.... Mesmo assim, ficámos amigos... para sempre ! (LG)

© António Levezinho (2006)


Guiné > Zona Leste > Contuboel> CCAÇ 12 > Junho de 1969 > Furriéis Levezinho e Henriques, no bem-bom da instrução de especialidade dada aos nharros da futura CCAÇ 12 (na altura CCAÇ 2590)... Havia tempo para tudo, até para brincadeiras estúpidas ou tão inocentes como esta simulação de um catana a exercer o seu mister no delicado pescoço de um tuga... (LG)

© António Levezinho (2006)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1970 > Furriéis Levezinho e Henriques, à beira da estrada, descando por uns momentos, já com ar de velhinhos, próximos do final da comissão... O quico (balanta ?) do furriel Henriques era manifestamente um sinal de que o RDM já não se aplicava no teatro de operações da Guiné... Acho que foi aqui que começámos a perder a guerra... com a nossa progressiva cafrealização... Mas o pior de todos, o exemplo mais subversivo, era o do Jorge Cabral, régulo tuga de Fá Mandinga...(LG)

© António Levezinho (2006)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1970 > Furriéis Levezinho e Henriques, à civil, com ar domingueiro... Por detrás, as excelentes instalações do hotel de Bambadinca que faziam inveja a muitos dos nossos camaradas de passagem pela sede do Sector L1... O Henriques sempre o conheci de livro debaixo do braço, razão porque tinha um ombro mais alto do que outro...(LG)

© António Levezinho (2006)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Novembro de 1969 > Furriéis Henriques, Reis e Levezinho, no bar de sargentos, comemorando mais um feliz aniversário do Tony: creio que o 22º, a 24 de Novembro de 1969... Se não foi nesse dia (já que os dois últimos passaram a noite a fazer segurança a uma máquina da engenharia atolada na estrada Xime-Bambadicna), terá sido no dia seguinte... No teatro da morte, todos os pretextos eram bons para saudar à vida... E tamb´+em saudámos ao casamemto do Tony, a meio da comissão, aproveitando o merecido mês de férias na Metrópole... Creio que a Isabel nessa altura tinha 17 anos... Nunca a deixámos ser viúva, tomando bem conta do seu Tony...

O furriel Henriques garante que esta foto é de 1969, já que está de óculos; no aniversário seguinte, a 24 de Novembro de 1970, dois dias depois da invasão de Conacri por Alpoim Galvão e os seus rapazes, ele já não usava óculos: tinha-os perdidado definitivamente, por efeito do cone de fogo de uma bazuka, da sequência de uma emboscada, sofrida durante a Op Boga Destemida, em 9 de Fevereiro de 1970... (2)(LG).


© Humberto Reis (2006)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1971 > Furriéis Levezinho e Fernandes, em convalescença... Ao Tony já não sei o que é que aconteceu... Ao Fernandes, o braço ao peito tem uma explicação: a explosão de uma mina anticarro à saída de Nhabijões, no dia 13 de Janeiro de 1970 (um dia fatídico o nosso soldado condutor auto, Soares, que teve morte imediata; mas também para o Fernandes, que ficou ferido; para o Alf Mil Moreira, que foi gravemente ferido; e para outros camaradas, incluindo o furriéis Marques e Henriques e, que cairam, com o seu grupo de combate, numa segunda mina; por caso o dia, embora 13, não foi sexta-feira, mas sim quarta-feira) (2) (3) (LG)

© António Levezinho (2006)

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)

(2) Vd. post de 23 Setembro 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

(3) Vd post de 24 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática

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