09 maio 2006

Guiné 63/74 - DCCXXXVII: A guerra que ainda não acabou (José Martins)

Texto de opinião do José Martins (enviado já há alguns dias):

Caros camaradas!

Durante anos quisemos esquecer que fomos combatentes. Pura ingenuidade. Agora recordamos, cada vez mais, e cada vez mais dolorosa é a recordação.

Quando quizemos falar, não nos deixaram. Não era politicamente correcto. Não era uma atitude revolucionária.

Os governos passaram a ser constituidos por aqueles que nunca vestiram uma farda, mas usavam-na para as fotografias dos jornais ou em visitas a forças militares em manobras ou no estrangeiro. Pareciam soldadinhos de chumbo.

Depois vieram aqueles que: OU ERAM MUITO NOVOS, PARA TEREM IDO À GUERRA DO ULTRAMAR, OU MUITO VELHOS, PARA QUE OS PAIS LÁ TENHAM ESTADO.

Resta-nos esperar que o actual COMANDANTE SUPREMO DAS FORÇAS ARMADAS, o primeiro Presidente da Républica de Portugal que, como nós, tambem foi combatente à força, envide esforços no sentido de mudar as coisas.

Como mudar as coisas, entendo, atender às dificuldades daqueles que, com marcas visíveis no corpo e/ou invisíveis na alma, sejam devidamente ajudados.

Veja-se a situação em que se encontram camaradas nossos que têm a vida completamente destroçada, e o futuro sem FUTURO.

Para nós, infelizmente, a guerra ainda não acabou.

José Martins

Ex-Furriel Miliciano
CCAÇ 5
Guiné, 1968/70

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