Guiné- Bissau > Guileje > 2005 > Restos da estrutura (pilares de cimento armado) que sustentava a rede de arame farpado do antigo aquartelamento. Mais de trinta anos depois, a natureza volta a impor o seu domínio sobre os homens e as suas máquinas de guerra.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Notícias dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense fundada e dirigida pelo Pepito (Carlos Schwarz):
Começaram os preparativos para a recuperação do Quartel de Guileje > 4 de Dezembro de 2005 > Reportagem
O Projecto Guiledje (respeitando a grafia usada pelos nossos amigos) (1) vai ser uma das prioridades da AD para 2006.
Parece haver um grande entusiasmo à volta desta iniciativa por parte dos quadros desta ONG guineense, mas também das "comunidades locais envolvidas, em especial as de Guiledje, Medjo e Iemberém, assim como do nosso parceiro europeu, o Instituto Marquês de Valle Flôr".
Foto nº 1 - O topógrafo faz o levantamento dos últimos pontos da quadrícula.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Contando com a colaboração de várias tabancas dos arredores, começou por se proceder à limpeza e demarcação da área do antigo quartel, "tendo-se identificado os diversos vestígios que facilitarão a localização das antigas infraestruturas militares".
O levantamento e elaboração da planta topográfica do quartel e arredores (cerca de 6 ha) deverão estar concluídos no final da primeira quinzena de Dezembro de 2005. Nelas ficarão registadas "as fundações das antigas instalações, os abrigos subterrâneos, os marcos, as trincheiras, a linha de pilares de arame farpado e as árvores mais imponentes que vão ser preservadas".
Foto nº 2 - O bom humor do nosso amigo Pepito não faltou na reportagem fotográfica que ele fez para nós.
Legenda: "Para que qualquer projecto tenha sucesso, exige-se o sacrifício de um animal para escorraçar os maus espíritos".
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
É aguardada a chegada a Bissau, em 13 de Janeiro de 2006, do arquitecto responsável pela recuperação paisagista do local. Ele vai trabalhar com a equipa local na reconversão do quartel, incluindo "a instalação das palhotas para os ecoturistas, o centro de formação e aprendizagem rural, a sede do parque transfronteiriço, o centro de documentação histórico e as restantes infraestruturas de apoio organizativo".
Foto nº 3 - A presença dos chefes tradicionais locais é bem vinda e, mais do que isso, é "a garantia de que estão connosco e com o projecto".
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Ainda este mês pensa-se poder fazer um furo de água de grande profundidade, de 40 a 60 metros, que irá permitir abastecer o quartel e as tabancas limítrofes.
O repórter fotográfico free-lancer Paulo Barata esteve na Guiné-Bissau no passado mês de Novembro, "onde produziu uma centena de fotos de excelente qualidade que irá servir para editar 9 cartões postais de Cantanhez e criar um cartaz de promoção ecoturística da zona".
Foto nº 4- A leitura da Corão e o juramento de fidelidade dos presentes é "garantia da união de todos na implementação do projecto".
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Ainda segundo a nossa fonte, "em Portugal, o Capitão José Neto [membro da nossa tertúlia] disponibilizou cerca de 150 fotos de Guiledje dos anos 1967-68 que irão ser em breve digitalizadas com a colaboração do Filipe Santos" (que organizou o sítio da AD na NET e que pertence à Escola Superior de Educação de Leiria, um dos parceiros portugueses da AD - Acção para o Desenvolvimento).
Foto nº 5 - As escavações feitas têm trazido à superfície restos de armamento, carros, jericãs, etc.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Está igualmente avançada "a elaboração do Atlas Florístico de Cantanhez, preparado pelo especialista belga Professor François Malaisse [do Jardim Nacional Botânico da Bélgica], o qual será editado em Abril de 2006".
A AD anda agora à procura de "um especialista que faça o levantamento da fauna selvagem desta zona".
Foto nº 6 - "O pessoal estava mesmo com fome depois de terem feito mais de 4 horas de trabalho voluntário de limpeza e escavações no interior do antigo quartel".
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Foto nº 7 - Estas placas servem para se marcar a localização de cada uma das infraestruturas que existia antigamente.
A este propósito veja-se uma planta do aquartelamento, por nós publicada, de 1966, e da autoria do então Capitão Nuno Rubim, hoje coronel e talvez o maior especialista português em história da artilharia.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Recorde-se que Guileje fica(va) entre Mejo, a noroeste, na estrada que da(va) a Bedanda; Gadamel fica(va) a sul, ou sudeste, mesmo na fronteira. A localidade e o aquartelamento de Guileje eram cortados pela estrada que ligava a Mejo (à esquerda) e a Gadamael (à direita).
Foto nº 8 - Estes são antigos combatentes do Exército Português em Guileje, e que viviam no quartel. Presume-se que fossem milícias. O seu conhecimento do terreno permitiu mais facilmente a localização de cada um dos edifícios do quartel.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Por Guileje passaram diversas unidades, as duas últimas terão sido a CCAC 3477 (1970/71) e a CCAV 8350 (1972/73), esta uma unidade constituída essencialmente por soldados açorianos, incluindo gente da Ilha do Pico, segundo informações do Pepito.
Estima-se que vivessem na tabanca de Guileje cerca de 600 africanos, entre civis e militares, na altura em que o aquartelamento foi abandonado, em 22 de Maio de 1973, pelas NT (CCAV 8350, 1972/73), depois de um cerco de 5 dias pela guerrilha do PAIGC.
Foto nº 9 - "A reza final é um momento de grande união e de engajamento nas actividades que iremos fazer ao longo destes 4 anos", comenta o nosso repórter fotográfico, o Eng. Carlos Schwarz, mais conhecido na sua terra como Pepito.
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
E, por fim, uma referência simpática ao nosso Blogue e à nossa tertúlia: "De salientar que, também em Portugal, um grupo de antigos militares que fez a guerra na Guiné-Bissau e que se juntaram numa tertúlia, tomaram a iniciativa de criar a ONG (Organização Nova Guiledje), destinada a contribuir e dar apoio a esta iniciativa".
Este recado é para o Humberto Reis, que é o pai da criança... Na realidade, a ideia da ONG - Organização Nova Guiledje não passa disso mesmo, uma ideia bonita que terá de se reproduzir em ideias concretas e efectivas no domínio da cooperação e da solidariedade.
Foto nº 10 - O futuro do projecto de Guileje também pode passar pela inteligência e generosidade de muitos outros actores e figurantes que não aparecem nesta sequência fotográfica, incluindo os militares portugueses que por lá passaram... Pelo menos uma dúzia de companhias, perfazendo mais de 1500 homens...
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)
Ainda recentemente perguntei ao Pepito se tinha contactos com os ex-militares açorianos. A resposta dele foi não, embora ele saiba que nos Açores e em particular na Ilha do Pico vivem alguns dos que lá estiveram, provavelmente integrados no grupo dos "gringos açorianos" (sic), a CCAÇ 3477 (1971/72). Mas a CCAV 8352 (que só lá esteve seis meses, entre Dez 1971 e Mai 1973) , também era constituída por pessoal açoriano (2).
Na mesma data (21 de Novembro último), o Pepito mandou-me, em anexo, "um quadro que um amigo meu português, António Estácio, me ajudou a fazer, listando todas as companhias que passaram por Guiledje, onde estão os nomes de algumas pessoas que nos têm disponibilizado documentos (fotografias, memórias e informações)"... É uma lista ainda "muito limitada, a necessitar de identificar mais pessoas interessadas em colaborar e a precisar algumas das datas em dúvida".
Aqui fica a lista das unidades militares que estiverem aquarteladas em Guileje (1964-1973):
Unidade / Período de tempo / Pessoa de Contacto
CCAÇ 676 / De Set 1964 a (?) / Ninguém
CCAÇ 726 / De Out 1964 a (?) / Teco
CCAÇ 1424 /De Jul a Nov 1966 / Ninguém (2)
CCAÇ 1477 / De Dez 1966 a Jun 1967 / Ninguém (2)
CART 1613 / De Jun 1967 a Mai 1968 / José Neto (2)
CCAÇ 2316 / De Mai 1968 a Jul 1969 / Ninguém
CART 2410 / De Jul 1969 a Mar 1970 / Ninguém
CCAÇ 2617 (Magriços) / De Mar 1970 a Fev 1971 / Abílio (2)
CCAÇ 3325 / De Fev a Dez 1971 / Parracho
CCAÇ 3477 (Gringos de Guiledje) / De Dez 1971 a Dez 1972 / Ninguém
CCAV 8350/72 (Gringos Açorianos ) / De Dez 1972 a Mai 1973) / Ninguém (2)
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(1) Vd. post de 6 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXL: O melhor que Portugal nos deixou foi a língua (Pepito)
(2) Vd. post de 5 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXIX: José Neto, outro senhor de Guileje (CART 1613, 1967/68) . O nome completo do Abílio, da CCAÇ 2617 (Magriços): Abílio Alberto Pimentel da Assunção.
O Capitão (hoje, coronel) Nuno Rubim deve ter pertencido a uma das Companhias que esteve em Guileje no ano de 1966: a CCAÇ 1424 ou a CCAÇ 1477.
Por fim, da CCAV 8350, temos notícia do ex-furriel miliciano, ranger, Casimiro Carvalho (que pertenceu à Guarda Nacional Republicana / Brigada de Trânsito, estando hoje reformado). Encontramos no sítio da Associação de Operações Especiais (AOE) uma mensagem e o contacto dele, no livro de visitas, com data de 4 de Setembro de 2004:
"É a primeira vez que escrevo aqui. Fui do 2º Curso de Sargentos de 72. Fui para a Guiné integrado na CCAV 8350, infelizmente célebre por ter estado no maldito Inferno Guileje-Gadamael Porto.
"Para quem me conhece sou o da BT/GNR (aposentado), para os restantes sou mais um orgulhoso RANGER que aqui deixa a sua marca indelével. Parabéns pelo site, parabéns aos carolas que dão o seu tempo... e não só, em prol desta família tão grande que dá pelo nome de RANGERS (...). José Carvalho
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