Camaradas e Amigos!
Desculpai-me todos! Ainda não comecei o segundo capítulo das estórias que desejo narrar - o primeiro diria respeito à chegada de quatro cooperantes na área da Saúde, e estadia de um ano, pelo menos(já deviamos ter juízo na cabeça para andar nestas andanças, pois já passámos ou estamos a passar os 60!).
Nem é hoje que vou começar... porque...
Sinto-me triste, muito triste. A morte do Suleiman Seidi, meu irmão, meu amigo, comandante de milícia, lá no Olossato (1), aconteceu. Foi um pedaço de mim que me fugiu.
Da última vez que o vi, em Abril, foi ao virar a esquina de um alpendre do Hospital Simão Mendes: vinha acompanhado de um dos filhos, muito abatido. Esteve internado. Fiz o que pude (terei feito?) mas melhorou muito e até tirámos uma foto (foi a última...).
Lá no caminho de Bissancage (quem conhece este trilho, quem se lembra dele, bem poucos certamente), empurrou-me para o chão quando vislumbrou, bem perto, o IN (seis elementos que dispararam tiros de rajada sobre a nossa fila de pirilau). Salvou-me a vida. De outra vez: na marcha pela mata, parou, porque roçou com um dos pés uma mina anti-pessoal em pleno mato. Poderia ser eu a pisá-la, pois vinha a seguir. Salvou-me.
Foram o seu carinho, a sua amizade, o seu zelo, e, agora, o seu contentamento brilhando nos olhos envelhecidos,por me rever, que me marcaram. Chorei porque perdi um irmão, acreditai.
Ainda ouço o martelar das suas palavras - já perdido de saúde e ainda pensando como antigamente:
- Alferes Salgado, leva-me para Portugal! - Como se eu fosse a sua tábua de salvação!
Que Alá te dê um bom descanso, meu Irmão!
Luís Graça, mais uma vez, desculpa. Põe lá esta mensagem, se achares bem.
Paulo Salgado
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(1) O Olossato fica entre Bissorã e Farim, na região do Óio.
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