"Meada? Meada é esta de se morrer desfeito em diarreias coléricas num alpendre qualquer sob o olhar de jovens médecins sans frontières ou de médicos do mundo ou de simples cooperantes que por ali andam tentando minimizar essas mortes sofridas até ao desfazer das entranhas"... Ou que Alá nos proteja neste dia final do Ramadã!
© Paulo Salgado (2005)
Camaradas e Amigos:
... Luís, sempre tu a (re)fazeres as coisas!... (Gostaria de começar outro capítulo, mas nem sei como fazer…)
1. Uma espécie de alquimia transbordante de poções mágicas que inebriam os tomadores de drogas.
Um mar de imaginações transformadas em caracteres bíticos que transmudam a forma ancestral da escrita como instrumento de manibus escribendi que os nossos pais e avós cuidadosa e aplicadamente tratavam nas belas cartas ou nas doces quadras ou sextetos esotéricos.
Uma torrente prenhe de conquistas espaciais e temporais, longínquas ou próximas, cinzentas ou coloridas, apaixonadas ou neutras: de rios vertendo-se nos mares, de montanhas erguendo-se aos céus, de planuras infindáveis, de árvores tradicionais (ou simplesmente árvores), de flores de mil cores, de animais, de aldeias, de monumentos, de homens pretos e brancos e amarelos num só amplexo, de crianças correndo!
Um sistema dotado de mil perplexidades e de contrastes e de sentimentos contraditórios, de amor e ódio, de riqueza e de penúria, de prazer e de sorrisos, e de doença e de morte!
Uma montra de figuras variadas, multímodas, díspares, históricas e a-históricas.
Eis um computador.
Feito de botões, de milhares de bytes (é isto?) em esquemas e sistemas, de ferramentas, de aplicativos, de software; mas construído: lá onde moram poemas simples, estórias simples, mensagens simples, fotos simples, amigos simples que quiseram ler essas coisas simples – lá onde tudo se registou, meus Caros; talvez tenha sido, essa pequena máquina, reformatada em vilipêndio violento, por mãos que anseiam uns míseros francos desta parte da África. Como em todo o lado, de resto.
É assim, meus caros – paga-se caro um ligeiro descuido!
És tu, meu caro Luís, tu, um fazedor crítico bondoso de poéticos blogues, tu, um receptor e retransmissor de ansiosas e ansiadas notícias, és tu que farás o favor de me enviar as partes de um capítulo inacabado (porque uma parte desse capítulo não chegou – a maldita Internet nesses malfadados dias também não funcionava…) para que seja retomado o fio de uma meada.
2. Meada? Meada é esta coisa que não se compreende nos homens que brincam com os outros homens.
Meada? Meada é esta de haver guerras em tantas partes do mundo, onde as crianças lançam sorrisos contra os canos das espingardas e onde as mulheres gritam por um pouco de pão para darem leite aos filhos e onde os velhos se escondem, quem sabe, por detrás da última cachimbada.
Meada? Meada é esta má sorte, este desnorte de seres que só querem uns míseros patacos para o arroz e peixe.
Meada? Meada é esta de se morrer desfeito em diarreias coléricas num alpendre qualquer sob o olhar de jovens médecins sans frontières ou de médicos do mundo ou de simples cooperantes que por ali andam tentando minimizar essas mortes sofridas até ao desfazer das entranhas.
3. Mas. Das entranhas mais profundas nasce a beleza de alma de jovens e velhos, de brancos e pretos, que, diariamente, sofrem o cheiro que vem das latrinas misturado com a creolina e a lixívia, e que, horas a fio, apoiam, lavam, desinfectam, buscam soluções em frascos de soros – num cansaço visível provocado por semanas desconsoladas.
Que os Deuses nos ajudem. Que Alá nos proteja neste dia final do Ramadã!
Mantenhas pa tudus
Paulo Salgado. aos 4 dias de Novembro de 2005.
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