Texto do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CERT 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/70)
Amigo Albano:
Li a mensagem de saudação da minha entrada na tertúlia, mas não estou só para ir buscar memórias ao baú das recordações. Interessa-me mais o encadear dos factos ocorridos na guerra colonial.
Acontece que, ao ler um relato de uma operação realizada em conjunto com Paras - CCP122 e 123 (1), eu me tenha revisto no "outro lado". O que quero dizer? É simples.
A descrição que li, levou-me a perceber que "alguém" das NT esteve a empurrar o IN para o nosso lado, CART 2339, que tinha uma emboscada montada para esse efeito (Op Nada Consta)(2). As emboscadas servem para isso mesmo.
Eu estava lá, atento, atrás de um baga-baga, de arma na mão. Dois IN aparecem à minha frente, a 30 metros. O carregador da minha G-3 cai e não consegui disparar. Hoje penso: ainda bem.
A bazuca da minha secção é disparada, talvez para a linha de progressão da coluna do bigrupo que viria atrás. Informações posteriores dão conta que Mamadu Indjai, o comandante, tinha sido atingido.
Esta acção foi louvada pelos altos responsáveis. Mas, há que regressar a Mansambo e passar um pontão (rio Bissari), que era vital para atingir a sede da Companhia, sob pena de lá ficarmos todos.
No regresso, rápido, porque o tempo era escasso, tendo em vista uma retaliação do IN, leva-nos a descobrir um campo de minas - 10 antipessoais e uma anticarro(?). Esta era redonda como uma roda de um carro de mão. O relato de operações diz que é uma A/P reforçada. Seria ?
Tínhamos passado por cima delas no caminho de ida para a tal emboscada. No dia seguinte (21 de Agosto de 1969) fomos fazer o reconhecimento. Levantámos todas. Eu próprio levantei uma, com uma faca de mato que andava sempre comigo. Recebi 1.000$ por esse feito (que hoje digo, de grande irresponsabilidade).
Um carregador nativo, depois de levantada a mina A/C (?), transportava-a para a sede da Companhia, à cabeça, depois de ter sido desactivada a espoleta. Mas, havia outra (tal como na canção…) espoleta..... E mina estoirou.
Desapareceu parte do carregador nativo, houve feridos (um soldado do meu pelotão ficou totalmente surdo de um ouvido e, até hoje, ainda não foi ressarcido desse trauma, não psicológico, mas físico).
Em suma, vou continuar a ler e a relacionar factos que tenham a ver com a minha vida "vivida".
Um abraço do Marques dos Santos.
Coimbra
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Notas de L.G.
(1) Vd. post de 21 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIII: Os anjos da morte
(2)Vd post de 30 de Jukho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)
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