06 janeiro 2006

Guiné 63/74 - CDXVI: Curriculum vitae de um atirador de artilharia (Carlos Marques dos Santos)

O Carlos Marques dos Santos, em 2005. Vive em Coimbra, é professor de educação física (reformado).

© Carlos Marques dos Santos (2005)


Curriculum Vitae (abreviado) :

Assentou praça em Mafra (EPI) em Setembro de 1966. Especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas.

Iniciou a formação da Companhia (CART 2339) no RAL 3, Évora, em 28 de Agosto de 1967.

É natural de Coimbra, da Freguesia de Santo António dos Olivais; estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro em Coimbra; foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e Vice-Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra.

Diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, nome alterado depois do 25 de Abril de 74, fazendo parte da Comissão de Gestão). Efectivou na Esc. Sec. de Avelar Brotero, onde integrou como Vice-Presidente o Conselho Directivo.

Foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos. É actualmente aposentado e reside na Rua Gago Coutinho, 17 A-6.ºA – 3030-326 Coimbra (...).

Guiné > Mansambo > 1968 > O Fur Mil Atirador de Artilharia Marques dos Santos junto a um dos abrigos do aquartelamento

© Carlos Marques dos Santos (2005)


Na Guiné onde chegou a bordo do navio Ana Mafalda (parecia uma traineira!) (1), em 21 de Janeiro 1968, esteve em Fá Mandinga e Mansambo, onde foi rendido pela CCAÇ 2404.

Regressou a casa, em Dezembro de 1969, no navio Uíge, a 13 desse mês, dois anos após a partida para a Guiné.

Realizou treino operacional com a CART1746 (Xime) , entrando em intervenção no Sector L1 (2) até 22 de Novembro de 1969 .

Em 25 de Fevereiro de 1968, participa pela 1.ª vez numa operação de grande envergadura (Op Grão Mongol), com as CART 1646 e 2338, pelkotões de milícia e Pel Caç Nat. Esta acção foi elogiada pelo BART 1904 (Bambadinca) (1).


Guiné > CART 2339 (1968/69) > Brazão

© Carlos Marques dos Santos (2005)



Em Fevereiro de 1968 inicia-se a construção, de raiz, do futuro aquartelamento sede de Mansambo, com a construção e ocupação programada para operacionais e serviços. O meu Grupo de Combate (o 3º) só em Julho de 1968 se deslocou definitivamente de Fá para este aquartelamento fortificado.

Foi inaugurado oficialmente em 21 de Janeiro de 1969, com a presença de diversas entidades e grande festa. A nova iluminação - até aí era com bazookas [garrfas de cerveja de 0,6 l] e mechas embebidas em óleo – foi inaugurada com "fogo de artifício” – balas tracejantes a serem disparadas de G-3.

O projecto era do BENG [Batalhão de Engenharia] 447.
Mansambo ( a Cart2339)foi atacado em 28 de Junho de 1968, pela primeira de muitas vezes.

Guiné > Mansambo > 1968/69 >

Esquema dos vários abrigos do aquartelamento fortificado, projecto do BENG 447, construído pela CART 2239 ao longo de 1968 e inaugurado oficialmente em 21 de Janeiro de 1969. Baptismo de fogo: 28 de Junho de 1968.

© Carlos Marques dos Santos (2005)



Nota importante:

Em 3 e 4 de Fevereiro de 1968 estivemos envolvidos no cordão de tropas que, à volta de Bafatá, fez segurança ao Presidente da República, Américo Tomaz. Laranjas apanhadas das árvores e bolachas foi a nossa comida, em dia e meio.

Samba Silate, Demba Taco, Taibatá, Galo Corubal, Salicuta, Dando, Nova Lamego, Che-Che, Canjadude, Enxalé, Mato Cão, Geba, Cantacunda (onde os turras levaram 11 dos nossos – Abril de 1968), Sarabanda, Sincha Setu, Camamudo, Sare Gana (4), Banjara, Sambulacunda, Bantajã, Finete, Satecuta, Xitole, Burontoni, Poidão, Ganguiró, Bissaque, Moricanhe, Mussa Iero, Belel, Sinchã Camisa, Sambulacunda, etc., etc., etc.,: pelo menos um terço do Leste da Guiné (hoje Bissau) foi feita a pé. Sem água, sem comida, com abelhas e formigas, com mortos, feridos e desaparecidos.

É a Guerra. É tempo de haver Paz. Só quem lá esteve é que percebe.

Coimbra, 5 de Janeiro de 2006.

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Notas de L.G.


(1) Vd pots de A. Mareques Lopes > 27 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967)

(2) Vd. post de 28 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VIII: O sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1);

e post de 3 de maio de 2005 > Guiné 69/71 - XI: O Sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (2)

(3) Julgo ter sido este Batalhão que construiu o aquartelamento de Bambadinca, tendo sido rendido pelo BCAÇ 2852 (1968/70). O BART 1904 tem feito encontros anuais de convívio do seu pessoal: vd. página da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, ponto de encontro

(4) Vd meu post de 30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXI: Sare Ganá, a última tabanca de Joladu
(2) Vd. post de A. Marques Lopes, de 28 de Maio de 1969 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968)

1 comentário:

furriel miliciano eng. Domingos Sousa disse...

embora fosse o Batalhão 1904 instalado em Bambadinca em 1968 fui eu e o meu pessoal de Engenharia quem construiu o novo aquartelamento, que com tristeza, 0 vejo destruído, tive para isso a prestimosa ajuda do furriel Lopes que me emprestava a viatura para transporte de materiais e do então capitão de artilharia,Mario Pinto Simões

Domingos Sousa Furriel Miliciano de Engenharia, saudades de tudo e de todos