13 abril 2006

Guiné 63/74 - DCC: Estórias cabralianas (8): Fá Mandinga no Conde Redondo ou o meu Amigo Travesti

Post nº 700 (DCC)


Fá no Conde Redondo - O meu Amigo Travesti

Autor: Jorge Cabral (ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, destacado em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71; hoje, advogado e professor universitário).


Na década de 80, dava aulas nocturnas numa Escola na Duque de Loulé e costumava descer a Avenida para tomar o Metro. Eis que uma noite, me vejo perseguido por um Travesti que me grita:
- Meu Alferes! Meu Alferes! Alferes Cabral!

Tomado de terror homofóbico parei, negando conhecer a criatura, de longas pernas e fartíssimos seios.
- Estive consigo em Fá - diz-me ela/ele e começa a desfiar aventuras comuns nas quais eu aparecia retratado, como o mais louco e divertido comandante.

Fomos tomar um copo. Um camarada é sempre um camarada, pensei. A conversa durou horas. Ele perdeu clientes. Eu, a reputação. Muita gente me viu, principalmente alunos. Na aula seguinte senti a turma crítica, gozona, mesmo agressiva. Falei da guerra, da amizade. Ninguém acreditou.

Repeti os encontros com o meu Amigo-Travesti, tendo conhecido outra face da vida. Fiquei-lhe grato, mas um dia ele desapareceu. Mal sabia eu então que lhe ficara a dever muito mais do que alguma sabedoria. Livrara-me de uma sova. É que na altura, tinha uma amiga, cujo marido ciumento desconfiava que a mulher gostava demasiado das minhas estórias. Contratara até um detective, que espiando-me lhe apresentara um Relatório, com a seguinte conclusão:" Inofensivo, até frequenta Travestis”. Pude pois continuar a satisfazer a senhora… com as minhas estórias, é claro.

Obrigado, Camarada Travesti. É assim… Temos que ser uns para os outros…

Jorge Cabral

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