21 janeiro 2006

Guiné 63/74 - CDLXVIII: O crioulo de caserna (Mário Dias)


Guiné > S/d > Documento das NT, de contrapropaganda, em português e em crioulo de caserna, dirigido aos guerrilheiros do PAIGC e à população sob o seu controlo: "Bó presenta na otoridade: Tabanca está contente, tabanca tem bianda, tabanca tem doutor. No mato só mofineza,no mato só fome, no mato só muri"

© José Teixeira (2006)




Guiné > S/d > Documento das NT, de contrapropaganda, em crioulo de caserna, convidando os guerrilheiros do PAIGC à deserção: "Bó presenta na otoridade. Tropa i amigo. Tropa na trata bo dereto" [Apresenta-te às autoridades. A tropa é amiga. A tropa vai tratar-te bem].

© José Teixeira (2006)

Caro Luis

Acabo de ver no blogue a minha intervenção sobre o crioulo, ilustrada com a reprodução de um dos muitos panfletos de acção psicológica que a tropa ia disseminando pela Guiné (1).

A tradução para crioulo da mensagem que prendiam fazer chegar, atesta precisamente o que referi sobre o tal crioulo de caserna (2). Não sei quem terá sido o tradutor. Está uma desgraça, não só por muitos termos estarem mal traduzidos (por exemplo bibe significa beber) como não tem em conta a construção das frases que devem estar de acordo com a forma de pensar dos guineenses e não serem traduzidas à letra. Certamente que os guerrrilheiros se devem ter rido:

GUENTE DI MATO
BÓ BÁ PRESENTA NA TROPA
SÓ GUENTE BRUTO QUI NA BIBE NA MATO
GUENTE QUE TEM BOM CABEÇA Ê NA SINTA NA TABANCA
NA MATO SÓ FOMI, SÓ DOENÇA, SÓ MORTE
NA TABANCA TUDO ESTÁ CONTENTE,
Ê TEM BIANDA Ê TEM DOUTOR
NÔ PRESENTA NA OTORIDADE

Se me tivesse sido pedido para escrever em crioulo, não só as palavras como, sobretudo, a ideia que se pretendia transmitir, te-lo-ia feito assim:

GENTI DI MATO
BÓ PRESENTA NA TROPA
GENTI BRUTO QUI TA SINTA NA MATO
QUEM QUI GIRO* Ê TA SINTA NA TABANCA
NA MATO TEM FOMI, TEM DOENÇA, TEM MORTU
TABANCA MÁS SÁBI
TEM BIANDA Ê TEM DÓTOR
NÓ BAI PANTI NA OTORIDADE

(*) giro = inteligente

Antes de terminar, apenas uma mensagem para o José Neto: Panghiau, iá´me pétchau ?

Eu também estive em Macau de 1980 a 1984. Quatro maravilhosos anos.
A história do Domingos Ramos segue no início da semana.

Um abraço
Mário Dias

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXIV: As dificuldades e os encantos do crioulo (Mário Dias)

(2) Vd. também post de A. Marque Lopes, de 14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLI: Mininus di Nha Tera (poema de Nelson Medina, em kriol)

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