28 maio 2006

Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!

Texto do Armindo Batata (ex- Alf Mil, Pel Caç Nat 51, Guileje e Cufar, 1969/70)

De início foi um grande esforço para esquecer o mais rapidamente possível.

Agora é a sensação das memórias que se vão esbatendo.

Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia.

Estive em Guileje (de Janeiro de 1969 a Janeiro de 1970) e em Cufar (de Janeiro de 1970 a Dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51.

Pretendo integrar a Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74) mas não encontrei local para inscrever os dados. Estou também vivamente interessado em participar no Projecto Guileje.

Umas dicas sobre como o fazer seriam benvindas.

Abraço. Armindo Batata.


Comentário de L.G.:

Camarada Batata:

1. Todos nós estivémos décadas a tentar esquecer. Esquecer a Guiné (1)... por uma noite, por alguns dias, semanas, meses, anos. Em vão. A Guiné marcou-nos indelevelmente. Para o bem e para o mal. A Guiné é a nossa maldição. Como a fanateca que faz a excisão do clitóris às meninas antes de chegarem ao estatuto de bajudas e poderem casar com um homem grande. Por isso, camarada, lá terias que aparecer na nossa caserna, um dia destes. Tão fatal como o destino. E, é claro, és recebido de braços abertos.

2. Já aqui alguém (o Zé Neto) tinha evocado o teu Pel Caç Nat 51, ainda antes de tu chegares à Guiné (2). Quem seguramente vai gostar de ouvir as tuas estórias, os teus depoimentos é o Pepito. Tu podes (e vais) ser-lhe útil. Em paga, ele vai receber-te, com honras de régulo, no ecoturismo do Guileje/Cantanhez (3).

3. Regras ? O mínimo, o q.b. Vê a nossa página sobre a tertúlia dos amigos e camaradas da Guiné... Toda a correspondência passa por mim. Mandas duas fotos (uma dos teus verdes vinte anos e outra de agora, mais pesadote). Conta-nos, no mínimo, uma estória. OIu as estórias que quiseres. Se tivres fotos do teu Pel Caç Nat 51, melhor. Vou citar algumas das nossas (poucas) regras:~

Amigos (que é o caso do José Carlos, do Leopoldo Amado, do Pepito ou de outros guinéus que apareçam) e camaradas (que dormimos no mesmo chão, que fomos mordidos pelos mesmos mosquitos, que comemos as mesmas rações, que vertemos sangue, suor e lágrimas nos mesmos rios, lalas, bolanhas, matas, buracos e tabancas, que apanhámos a mesma porrada, que defendemos a mesma bandeira)...

A termos uma bandeira, será sempre a nossa, a da nossa Pátria que cada de um nós amava e ama, à sua maneira. O nosso comportamento, agora como… tertulianos, deve apenas pautar-se por critérios éticos ou valores tais como:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros;

(iii) consagração do nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné > Blogue-fora-nada) como ágora ou como praça pública para manifestação (aberta, franca, leal, serena) dos nossas eventuais críticas e divergências de pontos de vista (se houver roupa suja, discute-se primeiro na caserna...);

(iv) socialização da informação e do conhecimento sobre a história da guerra: guerra colonial, guerra de libertação, guerra do ultramar (como queiram, é ao gosto do freguês...);

(v) carinho e amizade pelo povo da Guiné (que ganhou a guerra mas não ainda a paz);

(vi) respeito pelo inimigo de ontem (que, sempre o disse pela boca do seu líder histórico, nunca lutou contra o povo português, mas contra um regime político);

(vii) não-intromissão na vida política interna da República da Guiné-Bissau, salvaguardado sempre o direito de opinião de cada um de nós, como cidadãos (portugueses, europeus, globais...);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos…

O que nos une é muito mais do que aquilo que nos separa: e, assim sendo, lá vamos blogando... (sor)rindo, cantando e chorando!

Luís Graça & Camaradas

__________

Notas de L.G.

(1) vd. Blogue-Fora-Nada... e Vão Dois: post de 8 de Dezembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (22): Esquecer a Guiné

(2) Vd. post de 8 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLIX: Do PEL CAÇ NAT 51 aos demónios étnicos que atormentam o povo da Guiné (Zé Neto)

(3) Vd. post de 6 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXI: Projecto Guileje (1): o triunfo da vida sobre a morte

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