blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
06 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCXXX: Ex-comandos africanos, 'órfãos de Pátria', reportagem na RTP 1 (José Martins)
Órfãos de Pátria é o título do primeiro trabalho a ser exibido no
Em Reportagem, na RTP 1. Na peça realizada pelo jornalista António Mateus, é
retratado o abandono dos comandos de origem africana que, durante a Guerra Colonial, combateram integrados no Exército Português em pleno território da Guiné-Bissau.
Abandonados pelo Estado Português no decurso da transição para a independência, todos os oficiais acabaram por ser fuzilados. Só as patentes mais baixas escaparam. No entanto, são, ainda hoje, alvo de discriminação, vivendo em situação de pobreza extrema e sem qualquer reconhecimento do País que defenderam.
António Mateus explica a escolha do nome: "Eles sentem-se portugueses, o que agrava a noção de abandono pelo Estado português."
O texto acima é parte da noticia do Correio da Manhã a anunciar um novo
programa a ir para o ar no próximo dia 9 de Maio a seguir ao telejornal.
Chegou-me através do site Moçambique - Guerra Colonial
Um abraço e bom fim de semana
José Martins
Guiné 63/74 - DCCXXX: Ex-comandos africanos, 'órfãos de Pátria', reportagem na RTP 1 (José Martins)
Órfãos de Pátria é o título do primeiro trabalho a ser exibido no
Em Reportagem, na RTP 1. Na peça realizada pelo jornalista António Mateus, é
retratado o abandono dos comandos de origem africana que, durante a Guerra Colonial, combateram integrados no Exército Português em pleno território da Guiné-Bissau.
Abandonados pelo Estado Português no decurso da transição para a independência, todos os oficiais acabaram por ser fuzilados. Só as patentes mais baixas escaparam. No entanto, são, ainda hoje, alvo de discriminação, vivendo em situação de pobreza extrema e sem qualquer reconhecimento do País que defenderam.
António Mateus explica a escolha do nome: "Eles sentem-se portugueses, o que agrava a noção de abandono pelo Estado português."
O texto acima é parte da noticia do Correio da Manhã a anunciar um novo
programa a ir para o ar no próximo dia 9 de Maio a seguir ao telejornal.
Chegou-me através do site Moçambique - Guerra Colonial
Um abraço e bom fim de semana
José Martins
Guiné 63/74 - DCCXXIX: Parabéns, camaradas (Tomás Oliveira, ex-fuzileiro)
Mensagem de Tomás Oliveira, com data de hoje:
Parabéns por este magnífico blogue, onde a guerra colonial é tratada na primeira pessoa, com a dignidade que merece.
Sou visitante habitual do blogue (faz parte dos meus favoritos), ávido acompanhante dos textos sobre a epopeia que foi a guerra colonial, especialmente o conflito na Guiné.
Soberbo o trabalho tanto deste blogue, como das páginas que lhe estão ligadas.
Bem haja, sr. Luís Graça.
Um admirador dos vossos textos, ex-fuzileiro, de sempre apaixonado pela nossa história e por todos os assuntos militares.
Tomás Oliveira
Guiné 63/74 - DCCXXIX: Parabéns, camaradas (Tomás Oliveira, ex-fuzileiro)
Mensagem de Tomás Oliveira, com data de hoje:
Parabéns por este magnífico blogue, onde a guerra colonial é tratada na primeira pessoa, com a dignidade que merece.
Sou visitante habitual do blogue (faz parte dos meus favoritos), ávido acompanhante dos textos sobre a epopeia que foi a guerra colonial, especialmente o conflito na Guiné.
Soberbo o trabalho tanto deste blogue, como das páginas que lhe estão ligadas.
Bem haja, sr. Luís Graça.
Um admirador dos vossos textos, ex-fuzileiro, de sempre apaixonado pela nossa história e por todos os assuntos militares.
Tomás Oliveira
05 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 14-15 (1).
BISSAU
Chegámos a Bissau nos primeiro dias de Agosto [de 1968]. Depois de uma noite mal dormida, e cheios de picadas de mosquito, lá fomos para os adidos em Brá.
Os dois Batalhões [BCAÇ 2851 e 2852]formaram na grande parada e o então Brigadeiro Spínola passou revista às tropas e fez a sua saudação.
Spínola tinha chegado há pouco tempo à Guiné e esta foi a primeira cerimónia deste género que realizou. Acabadas as cortesias, ouve-se o toque a Oficiais e vamos para um briefing. Reunimo-nos numa sala pequena. Nós, os chegados, fomo-nos sentando em várias filas de cadeiras. À nossa frente estava uma pequena mesa aonde se sentou ao centro o Brig Spínola, Governador e Comandante Chefe da Província, à sua direita o Brig Nascimento, 2º Comandante Militar, e à sua esquerda, o Comandante Militar Brig Novais Gonçalves, que já estava no fim da sua Comissão.
Não me recordo do teor do discurso proferido por Spínola, mas deve ter sido no sentido de apelar ao nosso patriotismo e responsabilidade na condução dos homens que tínhamos à nossa guarda.
Após o discurso veio cumprimentar-nos, um a um. Quando chegou a minha vez, eu estava altamente perfilado, pois nunca tinha cumprimentado alguém com tantas estrelas nos ombros. Duas eram de Brigadeiro e as outras quatro de Comandante Chefe, em ambos os ombros.
Ele põe-se em frente de mim, cumprimenta-me e eu também e, à queima-roupa diz-me:
- Você tem sorte.
Eu, sem saber bem o que me esperava, digo muito timidamente:
- Porquê, meu Comandante?
- Porque quando começar a ouvir os tiros, já está mais perto do chão.
Também tinha humor. A meu lado estava o Alferes Felício, que é uma viga, e que a meu lado ainda parece maior. O nosso Comandante Chefe diz-lhe o inverso:
- Você que se cuide.
Realmente, aquele homem com a sua voz rouca e arrastada, de luvas, com monóculo e o pingalim, impressionava qualquer um. A imagem de bravura que transmitia correspondia à sua maneira de ser. Nele tudo era verdadeiro e genuíno.
_________
Nota de L.G.
(1) Vd post anteriores
12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (2): Aspirante em Elvas, Tancos e Abrantes
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge
Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 14-15 (1).
BISSAU
Chegámos a Bissau nos primeiro dias de Agosto [de 1968]. Depois de uma noite mal dormida, e cheios de picadas de mosquito, lá fomos para os adidos em Brá.
Os dois Batalhões [BCAÇ 2851 e 2852]formaram na grande parada e o então Brigadeiro Spínola passou revista às tropas e fez a sua saudação.
Spínola tinha chegado há pouco tempo à Guiné e esta foi a primeira cerimónia deste género que realizou. Acabadas as cortesias, ouve-se o toque a Oficiais e vamos para um briefing. Reunimo-nos numa sala pequena. Nós, os chegados, fomo-nos sentando em várias filas de cadeiras. À nossa frente estava uma pequena mesa aonde se sentou ao centro o Brig Spínola, Governador e Comandante Chefe da Província, à sua direita o Brig Nascimento, 2º Comandante Militar, e à sua esquerda, o Comandante Militar Brig Novais Gonçalves, que já estava no fim da sua Comissão.
Não me recordo do teor do discurso proferido por Spínola, mas deve ter sido no sentido de apelar ao nosso patriotismo e responsabilidade na condução dos homens que tínhamos à nossa guarda.
Após o discurso veio cumprimentar-nos, um a um. Quando chegou a minha vez, eu estava altamente perfilado, pois nunca tinha cumprimentado alguém com tantas estrelas nos ombros. Duas eram de Brigadeiro e as outras quatro de Comandante Chefe, em ambos os ombros.
Ele põe-se em frente de mim, cumprimenta-me e eu também e, à queima-roupa diz-me:
- Você tem sorte.
Eu, sem saber bem o que me esperava, digo muito timidamente:
- Porquê, meu Comandante?
- Porque quando começar a ouvir os tiros, já está mais perto do chão.
Também tinha humor. A meu lado estava o Alferes Felício, que é uma viga, e que a meu lado ainda parece maior. O nosso Comandante Chefe diz-lhe o inverso:
- Você que se cuide.
Realmente, aquele homem com a sua voz rouca e arrastada, de luvas, com monóculo e o pingalim, impressionava qualquer um. A imagem de bravura que transmitia correspondia à sua maneira de ser. Nele tudo era verdadeiro e genuíno.
_________
Nota de L.G.
(1) Vd post anteriores
12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (2): Aspirante em Elvas, Tancos e Abrantes
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge
Guiné 63/74 - DCCXXVII: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Bafatá (Manuel Mata)
1. Excertos do texto do João Tunes, de 2 de Maio de 2006: Da hora dos aventureiros:
"Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história (...).
"22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.
"Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970 tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha. Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício.
"Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros" (...).
2. Texto do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71)
Caro Luís Graça,
Quanto ao apelo do Camarada João Tunes - Onde estavas a 22 de Novembro de 1970? (1) -,envio a minha modesta participação.
Um Abraço
Manuel Mata
Bafatá > ESQ REC FOX 2640.
22 De Novembro de 1970
A vida no Esqadrão decorria com toda a normalidade que era habitual, no dia-a-dia da unidade em Bafatá, não fossem as notícias que ouvi, cerca das 6 horas da manhã na rádio de Conacri, onde anunciavam com alguma ansiedade a invasão da República da Guiné e apelava aos Boinas Verdes para virem em seu auxilio, pois estavam a ser invadidos por tropas colonialistas Portuguesas.
Fiquei estupefacto e comecei a falar com a rapaziada do Esquadrão, mas todos iam ficando pensativos sem nada se conseguir relacionar. Perguntou-se ao Manuel, um ex- turra a trabalhar na padaria do Esquadrão, como padeiro, se tinha conhecimento de alguma coisa. Resposta negativa, como era óbvio. Mas para nós, ele sabia e sabia fazer muito bem o seu jogo entre as partes envolvidas, o mesmo se passou com os restantes trabalhadores guineenses do Esquadrão o Braima e o Samba.
Já isso não se verificou com o Teófilo e o seu amigo, sobrevivente do desterro e residente em Bafatá (2), que comentaram:
- Pura intromissão, na vida de um país vizinho, só de um Governo Fascista e Colonialista como o Português, tem que ser derrubado!.
As notícias continuaram na rádio, ficamos a saber da entrega de um dos grupos, da libertação dos nossos prisioneiros, da destruição da pista de aviação, de muitos mortos, mas nada de muito concreto. Como era fácil adivinhar, foi um momento de muita alegria ao saber-se que haviam libertado os nossos prisioneiros.
Como nada mais se sabia, pedi a familiares e amigos na metrópole que estivessem atentos às notícias e que me enviassem a prestigiada revista da altura, a Vida Mundial. Semanas mais tarde lá chegou, com uma reportagem da entrevista, na televisão, com um dos prisioneiros, mas nada de grande luz sobre a situação da invasão à República da Guiné-Conacri.
Ansiei ao longo dos anos pela verdade, como certamente todos nós, finalmente, o livro de António Luís Marinho "Operação Mar Verde", nos veio clarificar toda a preparação maquiavélica da Operação.
A escolta Piche – Buruntuma
Esta escolta efectuada pelo 3º Pelotão do Esq Rec Fox 2640, destacado em Piche [na região de Gabu], dias antes do 22 de Novembro, teve como objectivo levar militares africanos e alguns civis desconhecidos na área, embora se tenha falado em homens da 1ª Companhia de Comandos Africanos. Teriam seguido para Conacri, hipótese levantada e comentada pelos homens do 3º Pelotão depois do conhecimento da invasão.
A destruição da revista "Vida Mundial"
Um dos meus passatempos, na Guiné, era ler, ouvir e gravar música subversiva para os amigos que me pediam, principalmente, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros, que me chegavam da Metrópole, por intermédio de um estudante universitário de Coimbra, irmão do 1º Cabo Antunes (já falecido).
O comandante lá foi informado deste meu hobby. Então para me manter ocupado, andou durante algumas semanas, todos os dias, cerca das 10 horas da manhã a visitar, a arrecadação de material de guerra e aquartelamento. Entrava mudo e saía calado, deitava o material das prateleiras para o chão. Eu voltava a colocar o material nos devidos lugares, e assim foram decorrendo os dias. Já com alguma preocupação, falei com o 2º Comandante, prometeu ir ver o que se passava, disse-me depois:
- Termina com as gravações senão vais parar a Piche!
Claro, continuei mas fora de horas... Terminada a comissão, com receio que algo pudesse acontecer, visto estar já referenciado, pedi a um amigo insuspeito que me trouxesse todo o material subversivo, onde tinha as gravações, livros, incluindo a Vida Mundial.
Este amigo, o 1º Cabo Machuqueira, como não fui na semana seguinte, da passagem à disponibilidade, levantar o referido equipamento, e com medo da PIDE/DGS, queimou todo o material, que lhe confiei.
Manuel Mata
_________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...) "Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.
"Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.
"Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6) ."(...).
(2) Vd post de 26 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLIV: Bafatá: o Café do Teófilo, o desterrado
(...) "Contou-me que tinha sido desterrado para a Guiné no inicío dos anos trinta, num grupo de 40 elementos dos quais restavam três à data, estando ele e um outro em Bafatá de quem não me recordo o nome - sei que tinha uma taberna na Tabanca entre a casa dele e o Hospital (pessoa com que, de resto, privei algumas vezes, para ouvir os programas em Português da BBC de Londres).
"Sei que o Sr. Teófilo tinha vindo à Metrópole apenas duas vezes, tinha uma estima profunda pelos Guineenses, pois foi esse povo maravilhoso que o tratou de inúmeras doenças, e só assim conseguiu sobreviver" (...).
Guiné 63/74 - DCCXXVII: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Bafatá (Manuel Mata)
1. Excertos do texto do João Tunes, de 2 de Maio de 2006: Da hora dos aventureiros:
"Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história (...).
"22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.
"Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970 tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha. Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício.
"Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros" (...).
2. Texto do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71)
Caro Luís Graça,
Quanto ao apelo do Camarada João Tunes - Onde estavas a 22 de Novembro de 1970? (1) -,envio a minha modesta participação.
Um Abraço
Manuel Mata
Bafatá > ESQ REC FOX 2640.
22 De Novembro de 1970
A vida no Esqadrão decorria com toda a normalidade que era habitual, no dia-a-dia da unidade em Bafatá, não fossem as notícias que ouvi, cerca das 6 horas da manhã na rádio de Conacri, onde anunciavam com alguma ansiedade a invasão da República da Guiné e apelava aos Boinas Verdes para virem em seu auxilio, pois estavam a ser invadidos por tropas colonialistas Portuguesas.
Fiquei estupefacto e comecei a falar com a rapaziada do Esquadrão, mas todos iam ficando pensativos sem nada se conseguir relacionar. Perguntou-se ao Manuel, um ex- turra a trabalhar na padaria do Esquadrão, como padeiro, se tinha conhecimento de alguma coisa. Resposta negativa, como era óbvio. Mas para nós, ele sabia e sabia fazer muito bem o seu jogo entre as partes envolvidas, o mesmo se passou com os restantes trabalhadores guineenses do Esquadrão o Braima e o Samba.
Já isso não se verificou com o Teófilo e o seu amigo, sobrevivente do desterro e residente em Bafatá (2), que comentaram:
- Pura intromissão, na vida de um país vizinho, só de um Governo Fascista e Colonialista como o Português, tem que ser derrubado!.
As notícias continuaram na rádio, ficamos a saber da entrega de um dos grupos, da libertação dos nossos prisioneiros, da destruição da pista de aviação, de muitos mortos, mas nada de muito concreto. Como era fácil adivinhar, foi um momento de muita alegria ao saber-se que haviam libertado os nossos prisioneiros.
Como nada mais se sabia, pedi a familiares e amigos na metrópole que estivessem atentos às notícias e que me enviassem a prestigiada revista da altura, a Vida Mundial. Semanas mais tarde lá chegou, com uma reportagem da entrevista, na televisão, com um dos prisioneiros, mas nada de grande luz sobre a situação da invasão à República da Guiné-Conacri.
Ansiei ao longo dos anos pela verdade, como certamente todos nós, finalmente, o livro de António Luís Marinho "Operação Mar Verde", nos veio clarificar toda a preparação maquiavélica da Operação.
A escolta Piche – Buruntuma
Esta escolta efectuada pelo 3º Pelotão do Esq Rec Fox 2640, destacado em Piche [na região de Gabu], dias antes do 22 de Novembro, teve como objectivo levar militares africanos e alguns civis desconhecidos na área, embora se tenha falado em homens da 1ª Companhia de Comandos Africanos. Teriam seguido para Conacri, hipótese levantada e comentada pelos homens do 3º Pelotão depois do conhecimento da invasão.
A destruição da revista "Vida Mundial"
Um dos meus passatempos, na Guiné, era ler, ouvir e gravar música subversiva para os amigos que me pediam, principalmente, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros, que me chegavam da Metrópole, por intermédio de um estudante universitário de Coimbra, irmão do 1º Cabo Antunes (já falecido).
O comandante lá foi informado deste meu hobby. Então para me manter ocupado, andou durante algumas semanas, todos os dias, cerca das 10 horas da manhã a visitar, a arrecadação de material de guerra e aquartelamento. Entrava mudo e saía calado, deitava o material das prateleiras para o chão. Eu voltava a colocar o material nos devidos lugares, e assim foram decorrendo os dias. Já com alguma preocupação, falei com o 2º Comandante, prometeu ir ver o que se passava, disse-me depois:
- Termina com as gravações senão vais parar a Piche!
Claro, continuei mas fora de horas... Terminada a comissão, com receio que algo pudesse acontecer, visto estar já referenciado, pedi a um amigo insuspeito que me trouxesse todo o material subversivo, onde tinha as gravações, livros, incluindo a Vida Mundial.
Este amigo, o 1º Cabo Machuqueira, como não fui na semana seguinte, da passagem à disponibilidade, levantar o referido equipamento, e com medo da PIDE/DGS, queimou todo o material, que lhe confiei.
Manuel Mata
_________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...) "Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.
"Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.
"Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6) ."(...).
(2) Vd post de 26 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLIV: Bafatá: o Café do Teófilo, o desterrado
(...) "Contou-me que tinha sido desterrado para a Guiné no inicío dos anos trinta, num grupo de 40 elementos dos quais restavam três à data, estando ele e um outro em Bafatá de quem não me recordo o nome - sei que tinha uma taberna na Tabanca entre a casa dele e o Hospital (pessoa com que, de resto, privei algumas vezes, para ouvir os programas em Português da BBC de Londres).
"Sei que o Sr. Teófilo tinha vindo à Metrópole apenas duas vezes, tinha uma estima profunda pelos Guineenses, pois foi esse povo maravilhoso que o tratou de inúmeras doenças, e só assim conseguiu sobreviver" (...).
Guiné 63/74 - DCCXXXVI: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Mansabá (Carlos Vinhal)
Caro Luis e camaradas:
Confesso que já estava a ficar triste, e ainda me considero periquito no blogue, por aceder diariamente ao Blogueforanada e vê-lo imutável. Que o Luís nos faz falta, isso é inquestionável.
Correspondendo ao repto do nosso camarada João Tunes (1), sou a comunicar que em 22 de Novembro de 1970 estava em Mansabá a digerir, ainda, os efeitos de um violentíssimo ataque ao aquartelamento e povoação, acontecido 10 dias antes desta data.
Em 12 de Novembro de 1970 Mansabá foi flagelada por numeroso grupo IN que utilizou Canhão s/r, morteiro 82 e 60, LGF e armas automáticas. O ataque durou cerca de 45 minutos e deixou-nos exaustos e sem munições.
As NT sofreram 1 morto e 4 feridos. Na população houve 14 mortos e 45 feridos. O fogo IN atingiu o Bar dos Praças e a Enfermaria Militar que ardeu. As imediações dos quartos dos Oficiais, a Secretaria, o Bar dos Sargentos e a Casa dos geradores também foram premiadas com morteiradas quase certeiras. Quem lhes teria fornecido as coordenadas?
O General Spínola visitou-nos no dia seguinte, porque, dias antes, tinha sido reactivado o COP6 no nosso quartel, para coordenar toda a actividade operacional com vista à protecção dos trabalhos de construção da estrada Mansabá-Farim, a partir do Bironque para Norte. A conclusão desta estrada era de primordial importância para o controle daquela zona utilizada pelo IN, como corredor de passagem para o Morés.
Voltando ao 22 de Novembro de 1970, só quando vim de férias à Metrópole em Fevereiro de 1971, soube mais pormenores sobre a Operação Mar Verde, pois tinha sido libertado um militar aqui de Leça da Palmeira que estava prisioneiro e por isso não se falava de outra coisa.
Se a operação foi em parte um fracasso, teve pelo menos o lado positivo da libertação dos nossos camaradas aprisionados. Quem sabe como teria evoluído a guerra, se tudo tivesse decorrido como o estabelecido no plano inicial. As implicações políticas seriam desastrosas para Portugal, pois não se conseguiria enganar a comunidade internacional durante muito tempo. A Guiné Conacri poderia retaliar e nós, que lá estávamos, podiamos ser sacrificados ainda mais.
Saudações para todos
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
____________
Nota de L.G.
(1) Vd post nº 732, de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...) "Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas, Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?" (...)
Guiné 63/74 - DCCXXXVI: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Mansabá (Carlos Vinhal)
Caro Luis e camaradas:
Confesso que já estava a ficar triste, e ainda me considero periquito no blogue, por aceder diariamente ao Blogueforanada e vê-lo imutável. Que o Luís nos faz falta, isso é inquestionável.
Correspondendo ao repto do nosso camarada João Tunes (1), sou a comunicar que em 22 de Novembro de 1970 estava em Mansabá a digerir, ainda, os efeitos de um violentíssimo ataque ao aquartelamento e povoação, acontecido 10 dias antes desta data.
Em 12 de Novembro de 1970 Mansabá foi flagelada por numeroso grupo IN que utilizou Canhão s/r, morteiro 82 e 60, LGF e armas automáticas. O ataque durou cerca de 45 minutos e deixou-nos exaustos e sem munições.
As NT sofreram 1 morto e 4 feridos. Na população houve 14 mortos e 45 feridos. O fogo IN atingiu o Bar dos Praças e a Enfermaria Militar que ardeu. As imediações dos quartos dos Oficiais, a Secretaria, o Bar dos Sargentos e a Casa dos geradores também foram premiadas com morteiradas quase certeiras. Quem lhes teria fornecido as coordenadas?
O General Spínola visitou-nos no dia seguinte, porque, dias antes, tinha sido reactivado o COP6 no nosso quartel, para coordenar toda a actividade operacional com vista à protecção dos trabalhos de construção da estrada Mansabá-Farim, a partir do Bironque para Norte. A conclusão desta estrada era de primordial importância para o controle daquela zona utilizada pelo IN, como corredor de passagem para o Morés.
Voltando ao 22 de Novembro de 1970, só quando vim de férias à Metrópole em Fevereiro de 1971, soube mais pormenores sobre a Operação Mar Verde, pois tinha sido libertado um militar aqui de Leça da Palmeira que estava prisioneiro e por isso não se falava de outra coisa.
Se a operação foi em parte um fracasso, teve pelo menos o lado positivo da libertação dos nossos camaradas aprisionados. Quem sabe como teria evoluído a guerra, se tudo tivesse decorrido como o estabelecido no plano inicial. As implicações políticas seriam desastrosas para Portugal, pois não se conseguiria enganar a comunidade internacional durante muito tempo. A Guiné Conacri poderia retaliar e nós, que lá estávamos, podiamos ser sacrificados ainda mais.
Saudações para todos
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
____________
Nota de L.G.
(1) Vd post nº 732, de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...) "Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas, Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?" (...)
Guiné 63/74 - DCCXXXV: Sobre a Op Mar Verde e o Comandante Alpoím Galvão (Lema Santos)
Não será por acaso que se tem efectuado bastante pesquisa e recolha de documentação e relatos da operação Mar Verde. Mais se seguirão porque o tema encontra-se longe de estar esgotado e, eu próprio, conjuntamente com outro camarada estamos a elaborar um trabalho sobre LFG's que naturalmente aborda o assunto. Abaixo, apenas um considerando pessoal.
Um abraço,
Manuel Lema Santos
ONDE NÃO ESTAVA E O QUE AINDA NÃO ERA
Ao vosso repto opto por responder, desta vez, pela negativa dizendo “onde não estava e o que ainda não era”.
Já não estava na Guiné mas ainda não me sentia totalmente reequilibrado do ponto de vista de cidadania. Tinha consciência de que não tinha ainda vida pessoal e profissional estabilizadas.
Em 27 de Novembro de 1970 estaria, em princípio, no Estado Maior da Armada mas não consigo precisar onde estava nem o que fiz exactamente. Registos precisos nem pensar e, muito provavelmente teria sido um dia rotineiro. Nunca escrevi diário e até os de bordo da “Orion”, obrigatórios, desapareceram sem deixar rasto.
Vêm-me à memória aquelas lenga-lengas das aulas de história do 2º ciclo liceal do compêndio do professor Mattoso que assumiam, no meu futuro cultural, um aspecto definitivo de massa informe de pepino com um toque de nabo. Exactamente dois dos sabores que erradiquei dos meus hábitos alimentares como conquistas irreversíveis da adolescência.
E depois, tudo aquilo começava sempre da mesma maneira: causas políticas, sociais e económicas das guerras púnicas, da guerra dos 100 anos ou outra escaramuça qualquer.
Então, convenhamos que não me perfilei historiador, assumidamente.
Quem afirma ou pensa sê-lo antecipa sempre o encerramento de qualquer coisa, talvez um escrito sobre determinado acontecimento ou facto, com um ar definitivo, sem mais nada haver para escrever ou narrar.
Ora, para mim, a História é exactamente a antítese da atitude. Coerentemente defendo que a operação Mar Verde não esteja narrada e encerrada em capítulos estanques, contados e já com índice.
Ainda menos a História da Marinha que levou a cabo a operação Mar Verde e ainda muito menos a História da guerra na Guiné que foi, de princípio ao fim, um conjunto de pequenas operações Mar Verde, dia a dia, mês a mês, ano a ano, num grotesco e monstruoso crescendo de 13 anos, levadas a cabo pelos três ramos das Forças Armadas.
Mais uma vez, das LFG’s, lá estiveram a Orion, a Hidra, a Dragão e a Cassiopeia e, das LDG’s, a Bombarda e a Montante, além dos DFE’s.
Não venero heróis estereotipados e também não sou um especial admirador da personalidade do comandante Alpoim Calvão.
Conheci-o pessoal embora muito pontualmente, como comandante do DFE8 e, provavelmente conhecendo-me, não se lembrará de mim. Servi na Guiné sob o comando do oficial general (CDMG) que mais impulsionou lá os fuzileiros e, mais tarde, já depois de regressar, continuei como seu ajudante de ordens durante dois anos.
Estou em vantagem mas paro, olho, escuto e fundamentalmente calo, no respeito que alguma ignorância minha me impõe, mas também na dúvida que algum conhecimento adquirido me permite.
Entendo que, no momento certo, teve os apoios necessários para uma operação militar difícil, de elevado risco e de resultados previsivelmente duvidosos.
Julgo que, na génese de um qualquer herói, reside apenas uma pessoa comum que, em circunstâncias extremas, executa as missões necessárias para garantir a sua própria sobrevivência ou do grupo que integra.
Nesse sentido, apenas um ténue risco demarca a fronteira entre coragem e instinto de sobrevivência e, para bem de todos nós, felizmente que assim é.
Na perspectiva oposta, muitos e diria mesmo demasiados, não chegaram a dispor de oportunidade para demonstrar que também seriam capazes. Tombaram antes.
Resta-lhes na História o respeito, o silêncio e a homenagem dos que continuaram.
Muitas vezes com o assumido empenhamento, dignidade e sofrimento das Mães que perderam a sua razão ultima de vida: os Filhos.
Que título ou medalha para Elas?
Manuel Lema Santos
1º TEN RN 1965/1972
Guiné 1966/1968
Guiné 63/74 - DCCXXXV: Sobre a Op Mar Verde e o Comandante Alpoím Galvão (Lema Santos)
Não será por acaso que se tem efectuado bastante pesquisa e recolha de documentação e relatos da operação Mar Verde. Mais se seguirão porque o tema encontra-se longe de estar esgotado e, eu próprio, conjuntamente com outro camarada estamos a elaborar um trabalho sobre LFG's que naturalmente aborda o assunto. Abaixo, apenas um considerando pessoal.
Um abraço,
Manuel Lema Santos
ONDE NÃO ESTAVA E O QUE AINDA NÃO ERA
Ao vosso repto opto por responder, desta vez, pela negativa dizendo “onde não estava e o que ainda não era”.
Já não estava na Guiné mas ainda não me sentia totalmente reequilibrado do ponto de vista de cidadania. Tinha consciência de que não tinha ainda vida pessoal e profissional estabilizadas.
Em 27 de Novembro de 1970 estaria, em princípio, no Estado Maior da Armada mas não consigo precisar onde estava nem o que fiz exactamente. Registos precisos nem pensar e, muito provavelmente teria sido um dia rotineiro. Nunca escrevi diário e até os de bordo da “Orion”, obrigatórios, desapareceram sem deixar rasto.
Vêm-me à memória aquelas lenga-lengas das aulas de história do 2º ciclo liceal do compêndio do professor Mattoso que assumiam, no meu futuro cultural, um aspecto definitivo de massa informe de pepino com um toque de nabo. Exactamente dois dos sabores que erradiquei dos meus hábitos alimentares como conquistas irreversíveis da adolescência.
E depois, tudo aquilo começava sempre da mesma maneira: causas políticas, sociais e económicas das guerras púnicas, da guerra dos 100 anos ou outra escaramuça qualquer.
Então, convenhamos que não me perfilei historiador, assumidamente.
Quem afirma ou pensa sê-lo antecipa sempre o encerramento de qualquer coisa, talvez um escrito sobre determinado acontecimento ou facto, com um ar definitivo, sem mais nada haver para escrever ou narrar.
Ora, para mim, a História é exactamente a antítese da atitude. Coerentemente defendo que a operação Mar Verde não esteja narrada e encerrada em capítulos estanques, contados e já com índice.
Ainda menos a História da Marinha que levou a cabo a operação Mar Verde e ainda muito menos a História da guerra na Guiné que foi, de princípio ao fim, um conjunto de pequenas operações Mar Verde, dia a dia, mês a mês, ano a ano, num grotesco e monstruoso crescendo de 13 anos, levadas a cabo pelos três ramos das Forças Armadas.
Mais uma vez, das LFG’s, lá estiveram a Orion, a Hidra, a Dragão e a Cassiopeia e, das LDG’s, a Bombarda e a Montante, além dos DFE’s.
Não venero heróis estereotipados e também não sou um especial admirador da personalidade do comandante Alpoim Calvão.
Conheci-o pessoal embora muito pontualmente, como comandante do DFE8 e, provavelmente conhecendo-me, não se lembrará de mim. Servi na Guiné sob o comando do oficial general (CDMG) que mais impulsionou lá os fuzileiros e, mais tarde, já depois de regressar, continuei como seu ajudante de ordens durante dois anos.
Estou em vantagem mas paro, olho, escuto e fundamentalmente calo, no respeito que alguma ignorância minha me impõe, mas também na dúvida que algum conhecimento adquirido me permite.
Entendo que, no momento certo, teve os apoios necessários para uma operação militar difícil, de elevado risco e de resultados previsivelmente duvidosos.
Julgo que, na génese de um qualquer herói, reside apenas uma pessoa comum que, em circunstâncias extremas, executa as missões necessárias para garantir a sua própria sobrevivência ou do grupo que integra.
Nesse sentido, apenas um ténue risco demarca a fronteira entre coragem e instinto de sobrevivência e, para bem de todos nós, felizmente que assim é.
Na perspectiva oposta, muitos e diria mesmo demasiados, não chegaram a dispor de oportunidade para demonstrar que também seriam capazes. Tombaram antes.
Resta-lhes na História o respeito, o silêncio e a homenagem dos que continuaram.
Muitas vezes com o assumido empenhamento, dignidade e sofrimento das Mães que perderam a sua razão ultima de vida: os Filhos.
Que título ou medalha para Elas?
Manuel Lema Santos
1º TEN RN 1965/1972
Guiné 1966/1968
04 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Na guerra (não) se limpam armas (Carlos Vinhal)
Na guerra (não) se limpam armas
Dia 21 de Abril de 1971
Foi o dia em que integrados na Acção Urtiga XXVII saímos para patrulhamento e emboscadas, em Tungina, Buro e Colimansacunda. No dia anterior o meu amigo Cabo Ornelas (1), Apontador do morteiro 60, meteu-me uma cunha para eu pedir ao nosso Alferes Bento para que o dispensasse desta Operação, porque tinha necessidade urgente de ir a Bissau. Assim fiz e o Alf Bento anuiu. Ficou combinado que o habitual municiador, Soldado Silva, passaria a apontador e eu assumiria a função de municiador.
A força de intervenção na operação foi constituída pelos 3.º e 4.º Pelotões da CART 2732, reforçados com uma Secção do Pelotão de Milícias 253. O Comandante era o Alf Mil Bento.
Fomos progredindo conforme estava determinado e, numa emboscada por nós montada ao IN, na região da Bolanha de Iribato, interceptámos um numeroso grupo fortemente armado. Por puro azar, um dos valorosos milícias que nos acompanhavam, de seu nome Sul Bissau, pôs-se de pé, tendo sido detectado pelo IN e logo atingido gravemente por um RPG, precipitando uma intensa troca de fogo.
As NT reagiram, respondendo com fogo de armas ligeiras, dilagramas, metralhadora, bazooka e morteiro 60. Eu, inexperiente na arte de municiar, facilmente me adaptei às novas funções sem descurar contudo o comando do resto da Secção. Imodéstia à parte, até fui distinguido pelo meu comportamento debaixo de fogo no Relatório da Acção.
Causámos vários feridos confirmados e provavelmente 1 morto ao IN que fugiu em debandada, arrastando de qualquer maneira as suas vítimas. Do nosso lado houve a lamentar o ferimento grave do já referido soldado milícia.
Serenados os ânimos, pedimos evacuação urgente do Sul Bissau. Organizámos um perímetro de segurança para permitir a aterragem do heli e assim estivemos instalados até se concretizar a evacuação que demorou relativamente pouco tempo, porque o General Spínola andava por ali perto e disponibilizou um helicóptero da sua segurança para resolver a situação.
Mais tarde, quando o Alferes Bento deu ordem para a retirada, aconteceu uma situação caricata. Um dos soldados do 4.º Pelotão pediu mais um pouco de tempo porque, talvez preocupado com o asseio da sua G3, ali mesmo a tinha desmontado, procedendo à sua limpeza e manutenção. Uns riam-se incrédulos e outros diziam que se houvesse novo contacto não havia problema, porque ele defender-se-ia atirando uma a uma as peças da G3 e respectivas munições, tentando assim atingir o IN.
Claro que esperámos mais um pouco pelo diligente militar que naquele dia foi o alvo da chacota da rapaziada.
Carlos Vinhal
________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Na guerra (não) se limpam armas (Carlos Vinhal)
Na guerra (não) se limpam armas
Dia 21 de Abril de 1971
Foi o dia em que integrados na Acção Urtiga XXVII saímos para patrulhamento e emboscadas, em Tungina, Buro e Colimansacunda. No dia anterior o meu amigo Cabo Ornelas (1), Apontador do morteiro 60, meteu-me uma cunha para eu pedir ao nosso Alferes Bento para que o dispensasse desta Operação, porque tinha necessidade urgente de ir a Bissau. Assim fiz e o Alf Bento anuiu. Ficou combinado que o habitual municiador, Soldado Silva, passaria a apontador e eu assumiria a função de municiador.
A força de intervenção na operação foi constituída pelos 3.º e 4.º Pelotões da CART 2732, reforçados com uma Secção do Pelotão de Milícias 253. O Comandante era o Alf Mil Bento.
Fomos progredindo conforme estava determinado e, numa emboscada por nós montada ao IN, na região da Bolanha de Iribato, interceptámos um numeroso grupo fortemente armado. Por puro azar, um dos valorosos milícias que nos acompanhavam, de seu nome Sul Bissau, pôs-se de pé, tendo sido detectado pelo IN e logo atingido gravemente por um RPG, precipitando uma intensa troca de fogo.
As NT reagiram, respondendo com fogo de armas ligeiras, dilagramas, metralhadora, bazooka e morteiro 60. Eu, inexperiente na arte de municiar, facilmente me adaptei às novas funções sem descurar contudo o comando do resto da Secção. Imodéstia à parte, até fui distinguido pelo meu comportamento debaixo de fogo no Relatório da Acção.
Causámos vários feridos confirmados e provavelmente 1 morto ao IN que fugiu em debandada, arrastando de qualquer maneira as suas vítimas. Do nosso lado houve a lamentar o ferimento grave do já referido soldado milícia.
Serenados os ânimos, pedimos evacuação urgente do Sul Bissau. Organizámos um perímetro de segurança para permitir a aterragem do heli e assim estivemos instalados até se concretizar a evacuação que demorou relativamente pouco tempo, porque o General Spínola andava por ali perto e disponibilizou um helicóptero da sua segurança para resolver a situação.
Mais tarde, quando o Alferes Bento deu ordem para a retirada, aconteceu uma situação caricata. Um dos soldados do 4.º Pelotão pediu mais um pouco de tempo porque, talvez preocupado com o asseio da sua G3, ali mesmo a tinha desmontado, procedendo à sua limpeza e manutenção. Uns riam-se incrédulos e outros diziam que se houvesse novo contacto não havia problema, porque ele defender-se-ia atirando uma a uma as peças da G3 e respectivas munições, tentando assim atingir o IN.
Claro que esperámos mais um pouco pelo diligente militar que naquele dia foi o alvo da chacota da rapaziada.
Carlos Vinhal
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Nota de L.G.
(1) Vd post de 25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - DCCXXXIII: Pedro, o filho do Saagum
© Hugo Costa (2006)
Caro Luis Graça,
O meu nome é Pedro Saagum. O nome, penso que não lhe deve ser estranho, sou filho do seu camarada José Clímaco Saagum (1).
Ontem depois de ver as imagens das filmagens que o meu pai fez agora quando lá esteve, fiquei com muita curiosidade para ver o material que estava disponível aqui na Internet.
Fiquei muito agradado em ver o seu blog, pela quantidade de informação e imagens que vocês têm sobre a Guiné e do tempo em que lá estiveram a lutar pelo nosso país.
Não vou dizer que estive a recordar, porque não estive lá, mas pelo menos deu para visualizar imagens que desde muito novo ouvia falar ao meu pai.
Obrigado
O Filho do Camarada Saagum
Pedro Saagum
Jolufra, Lda
__________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 2 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)
Guiné 63/74 - DCCXXXIII: Pedro, o filho do Saagum
© Hugo Costa (2006)
Caro Luis Graça,
O meu nome é Pedro Saagum. O nome, penso que não lhe deve ser estranho, sou filho do seu camarada José Clímaco Saagum (1).
Ontem depois de ver as imagens das filmagens que o meu pai fez agora quando lá esteve, fiquei com muita curiosidade para ver o material que estava disponível aqui na Internet.
Fiquei muito agradado em ver o seu blog, pela quantidade de informação e imagens que vocês têm sobre a Guiné e do tempo em que lá estiveram a lutar pelo nosso país.
Não vou dizer que estive a recordar, porque não estive lá, mas pelo menos deu para visualizar imagens que desde muito novo ouvia falar ao meu pai.
Obrigado
O Filho do Camarada Saagum
Pedro Saagum
Jolufra, Lda
__________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 2 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)
Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
Texto de João Tunes:
Caro camarada Luís,
Que o sol do sul de Itália não te deu para a preguiça, nota-se à légua. Era de esperar - tu deves ter nascido frenético, multifacetado e prolixo. Assim te conserves. E se permites o egoísmo que julgo partilhado pelos restantes tertulianos, ainda bem por nosso benefício e do blogue que animas e nos anima, metendo-nos a memória em estado vivo. É que, se vieste de Nápoles e da Sicília sem vontade de abrir a janela para uma nesga de aragem de fresco e deitares-te como direito a persistente descanso, então estamos bem aviados e melhor encomendados - temos blogue para dar e durar, pois temos comandante sem sono nem repouso.
Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.
Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.
Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6).
Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas. Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?
Entretanto, transcrevo o meu depoimento:
Não poucas vezes, o desespero e a derrota anunciada levam à aventura empurrada pela audácia do tudo ou nada. Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história.
Ainda pior que essa falta de sentido, uma vontade estúpida de Portugal querer marcar com um mata e morre o posfácio da gesta colonial que lhe ficara no gosto, nos gastos e nos ganhos desde que as caravelas quinhentistas se fizeram ao mar. Não estava ali a fazer nada, excepto aguentar e poder voltar para junto de mulher e filha, procurar emprego e fazer vida. Metido em posição meramente defensiva, numa ilha-quartel em território controlado pelo PAIGC, levando no toutiço, dia sim e dia não, para que Nino Vieira gastasse as suas fartas munições de morteiros. Mas estava. Ali, em Catió. Perto da fronteira com a Guiné-Conacry.
22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.
Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970, tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo, amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha.
Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício. Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros. E assim, a hora de Spínola. Sobretudo de Calvão. Também de Marcelo, incapaz de governar um projecto ingovernável. Borrado com a Guiné, à rasca com Moçambique, não querendo perder Angola.
Só assim se entendendo que o mais louco e ambicioso dos aventureiros centuriões entre os militares portugueses, irmanado com a PIDE, tenha conseguido levar o governo português e as Forças Armadas à suprema aventura de querer ganhar a guerra na Guiné pela conquista de um país vizinho e independente. Como se a solução para o colonialismo português fosse transformar toda a África num continente neo-colonial, dando um pontapé na história.
Mataram que fartaram, destruíram bastante, trouxeram os prisioneiros militares portugueses de volta. Mas foram ao campo de aviação para estoirar a frota aérea guineense e os aviões não estavam lá, quiseram calar a emissora e não deram com ela, procuraram Amílcar Cabral para o assassinarem e este estava há dez dias no estrangeiro, o Presidente Sekou Touré que devia ser assassinado também não foi encontrado, um tenente e o seu pelotão (22 homens) desertou e entregou-se às autoridades guineenses e denunciou a operação, registaram-se várias baixas entre mortos e feridos.
A operação terminou numa fuga a toda a pressa, em debandada organizada, com medo da retaliação da aviação. No seguimento, um enorme basqueiro internacional que ainda isolou mais o governo português. Sekou Touré reforçou o mando e o apoio ao PAIGC. E o PAIGC intensificou o apoio internacional e o poderio das operações militares. Em balanço: um fiasco. O fiasco de uma aventura. A aventura do desespero. Na hora dos aventureiros. Na pior das horas, quando o governo governa através da loucura dos aventureiros sem escrúpulos.
Com a distância do tempo, a aventura da operação Mar Verde vai sendo melhor conhecida. E não deixa de ter relevo conhecer-se esse pedaço de história recente em que Portugal se meteu num enorme assado, de onde saiu humilhado, quando o seu governo decidiu invadir militarmente outro país soberano e independente.
Um livro recentemente editado do jornalista António Luís Marinho (1), pese embora a atracção panegírica de encantamento para com a figura de Alpoim Calvão, o maior aventureiro centurião do império, é bem elucidativo desta fase da nossa história recente, em que a loucura também fazia (mau) governo.
Um abraço para ti e outros tantos para todos os estimados camaradas tertulianos.
João Tunes
___________________
Nota do autor (JT):
(1) Operação Mar Verde - um documento para a história, António Luís Marinho, Editora Temas & Debates.
Comentário de L.G.
Reforço o repto lançado pelo nosso querido amigo e camarada João Tunes: digam-lá onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970, o que é que fizeram nesse dia e seguintes, o que é (não) sabiam da Operação Mar Verde, qual o vosso sentimento a relação a militares e camaradas como o Alpoim Galvão...
Quanto aos elogios à minha pessoa... no coments! Limito-me a agradecer a generosidade do João. A minha obrigação (assumida por mim) é manter vivo e actuante o nosso blogue... O que se tem vindo a conseguir, umas vezes pior, outras melhor...
Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
Texto de João Tunes:
Caro camarada Luís,
Que o sol do sul de Itália não te deu para a preguiça, nota-se à légua. Era de esperar - tu deves ter nascido frenético, multifacetado e prolixo. Assim te conserves. E se permites o egoísmo que julgo partilhado pelos restantes tertulianos, ainda bem por nosso benefício e do blogue que animas e nos anima, metendo-nos a memória em estado vivo. É que, se vieste de Nápoles e da Sicília sem vontade de abrir a janela para uma nesga de aragem de fresco e deitares-te como direito a persistente descanso, então estamos bem aviados e melhor encomendados - temos blogue para dar e durar, pois temos comandante sem sono nem repouso.
Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.
Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.
Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6).
Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas. Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?
Entretanto, transcrevo o meu depoimento:
Não poucas vezes, o desespero e a derrota anunciada levam à aventura empurrada pela audácia do tudo ou nada. Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história.
Ainda pior que essa falta de sentido, uma vontade estúpida de Portugal querer marcar com um mata e morre o posfácio da gesta colonial que lhe ficara no gosto, nos gastos e nos ganhos desde que as caravelas quinhentistas se fizeram ao mar. Não estava ali a fazer nada, excepto aguentar e poder voltar para junto de mulher e filha, procurar emprego e fazer vida. Metido em posição meramente defensiva, numa ilha-quartel em território controlado pelo PAIGC, levando no toutiço, dia sim e dia não, para que Nino Vieira gastasse as suas fartas munições de morteiros. Mas estava. Ali, em Catió. Perto da fronteira com a Guiné-Conacry.
22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.
Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970, tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo, amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha.
Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício. Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros. E assim, a hora de Spínola. Sobretudo de Calvão. Também de Marcelo, incapaz de governar um projecto ingovernável. Borrado com a Guiné, à rasca com Moçambique, não querendo perder Angola.
Só assim se entendendo que o mais louco e ambicioso dos aventureiros centuriões entre os militares portugueses, irmanado com a PIDE, tenha conseguido levar o governo português e as Forças Armadas à suprema aventura de querer ganhar a guerra na Guiné pela conquista de um país vizinho e independente. Como se a solução para o colonialismo português fosse transformar toda a África num continente neo-colonial, dando um pontapé na história.
Mataram que fartaram, destruíram bastante, trouxeram os prisioneiros militares portugueses de volta. Mas foram ao campo de aviação para estoirar a frota aérea guineense e os aviões não estavam lá, quiseram calar a emissora e não deram com ela, procuraram Amílcar Cabral para o assassinarem e este estava há dez dias no estrangeiro, o Presidente Sekou Touré que devia ser assassinado também não foi encontrado, um tenente e o seu pelotão (22 homens) desertou e entregou-se às autoridades guineenses e denunciou a operação, registaram-se várias baixas entre mortos e feridos.
A operação terminou numa fuga a toda a pressa, em debandada organizada, com medo da retaliação da aviação. No seguimento, um enorme basqueiro internacional que ainda isolou mais o governo português. Sekou Touré reforçou o mando e o apoio ao PAIGC. E o PAIGC intensificou o apoio internacional e o poderio das operações militares. Em balanço: um fiasco. O fiasco de uma aventura. A aventura do desespero. Na hora dos aventureiros. Na pior das horas, quando o governo governa através da loucura dos aventureiros sem escrúpulos.
Com a distância do tempo, a aventura da operação Mar Verde vai sendo melhor conhecida. E não deixa de ter relevo conhecer-se esse pedaço de história recente em que Portugal se meteu num enorme assado, de onde saiu humilhado, quando o seu governo decidiu invadir militarmente outro país soberano e independente.
Um livro recentemente editado do jornalista António Luís Marinho (1), pese embora a atracção panegírica de encantamento para com a figura de Alpoim Calvão, o maior aventureiro centurião do império, é bem elucidativo desta fase da nossa história recente, em que a loucura também fazia (mau) governo.
Um abraço para ti e outros tantos para todos os estimados camaradas tertulianos.
João Tunes
___________________
Nota do autor (JT):
(1) Operação Mar Verde - um documento para a história, António Luís Marinho, Editora Temas & Debates.
Comentário de L.G.
Reforço o repto lançado pelo nosso querido amigo e camarada João Tunes: digam-lá onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970, o que é que fizeram nesse dia e seguintes, o que é (não) sabiam da Operação Mar Verde, qual o vosso sentimento a relação a militares e camaradas como o Alpoim Galvão...
Quanto aos elogios à minha pessoa... no coments! Limito-me a agradecer a generosidade do João. A minha obrigação (assumida por mim) é manter vivo e actuante o nosso blogue... O que se tem vindo a conseguir, umas vezes pior, outras melhor...
Guiné 63/74 - DCCXXXI: A Marinha, as LDG e as LFG (Lema Santos)
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).
Texto do António Lema Santos (ex-1º tenente da Marinha em 1972, serviu como Imediato na NRP Orion, na Guiné, entre 1966 e 1968; hoje é empresário e reside em Massam):
Caros Humberto Reis e Luis Graça:
Desejo-vos um excelente regresso às actividades incluindo as blognotícias.
Por vezes com exagerada persistência a rondar a palavra obstinado, vulgo chato, tenho a preocupação de não alterar, pela narrativa simplificada, factos e acontecimentos que se encadeiam uns nos outros, documental e historicamente.
Como permaneci na Guiné e naveguei nos rios Cacine e Cumbijã um par de dias fora do habitual, atrevo-me a tentar esclarecer alguns pormenores que não me parecem suficientemente precisos:
(i) Enquanto Imediato da LFG Orion, conheci pessoal, profissionalmente e até familiarmente o 1º Tenente José António Cervaes Rodrigues, à época Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9, com quem mantive simpático e agradável relacionamento, quer profissional quer pessoalmente;
(ii) O relacionamento entre militares embarcados em unidades navais, em instalações em terra no INAB (Instalações Navais de Bissau), CDMG e Esquadrilha de Lanchas, alargava-se ao saudável convívio na vida civil e não só, também com militares de outros ramos das FA's [Forças Armadasa] e familiares de alguns que em Bissau permaneciam; assim foi e até usufrui, algumas vezes, da possibilidade de utilizar um Land Rover cedido pela CF9;
(iii) Naquela altura, as LFG's (Hidra, Lira, Orion, Cassiopeia e Sagitário) tal como as LDG's (Alfange e Montante), tinham comando autónomo, estavam atribuídos operacionalmente ao CDMG e incluiam na guarnição dois oficiais:
- comandante, em princípio um primeiro tenente dos QP's [Quadros Permanentes] da classe de Marinha, era nomeado pelo CEMA com publicação em OA; apenas conhecido um único caso de comando, durante algum tempo, por oficial da Reserva Naval - a Cassiopeia;
- imediato, em princípio um oficial da Reserva Naval, igualmente da classe de Marinha, nomeado em OA e que, por inerência do cargo, substituia sempre o comandante em caso de ausência ou impedimento daquele; alguns deles também foram oficiais dos QP's;
(iv) As LFP's (Bellatrix, Canopus e Deneb) apenas dispunham de um oficial, o comandante, nomeado da mesma forma pelo CEMA, da classe de Marinha e da Reserva Naval; alguns das LFP's também foram comandadas por oficiais dos QP's.
(v) Nenhuma unidade naval (navio) foi comandada por um oficial que não fosse da classe de Marinha e, apenas em caso de operações conjuntas, podiam várias unidades navais participantes ficar a depender, apenas operacionalmente e durante o tempo da operação, do comando de um oficial único nomeado pelo CDMG, também da classe de Marinha e, por norma, sempre mais antigo que qualquer dos oficiais participantes na operação;
(vi) Os comandos da Esquadrilha de Lanchas, de uma Companhia de Fuzileiros e de um Destacamentos de Fuzileiros dependia operacionalmente do CDMG, da mesma forma que as LFG's ou as LDP's e estavam sob o seu comando os elementos das respectivas unidades; especificamente, no caso da Esquadrilha de Lanchas, as LDM's e as LDP's e até outras embarcações;
(vii) As LFG's apenas participavam nos comboios para Bedanda com a responsabilidade da escolta e não incluídas nele, dado que, normalmente, até tinham a seu cargo a fiscalização de uma área Sul alargada que incluía o rio Grande Buba, Tombali, Cacine e os Bijagós mas essencialmente centrada no Cumbijã e Cacine;
(viii) As LFP's integravam-se igualmente na escolta desses comboios. Nunca chegavam exactamente à zona de Cufar, quedando-se pela foz do rio Macobum, ligeiramente a montante ou a jusante de Cadique; o comboio prosseguia com os batelões e as LDM´s com FZ's embarcados como forças de protecção;
(ix) Considerando o conjunto de todas as LFG's era uma zona em que, quase sistematicamente, havia sempre ataques;
(x) Por curiosidade apenas, a informação de que, no período de 10 a 20 de Fevereiro de 1968 o Cacine e o Cumbijã foram fiscalizados pela LFG Orion, rendida de seguida pela LFG Hidra, de 21 a 29 de Fevereiro do mesmo mês.
Mais um acrescento aos relatos.
Um abraço,
Manuel Lema Santos
Guiné 63/74 - DCCXXXI: A Marinha, as LDG e as LFG (Lema Santos)
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).
Texto do António Lema Santos (ex-1º tenente da Marinha em 1972, serviu como Imediato na NRP Orion, na Guiné, entre 1966 e 1968; hoje é empresário e reside em Massam):
Caros Humberto Reis e Luis Graça:
Desejo-vos um excelente regresso às actividades incluindo as blognotícias.
Por vezes com exagerada persistência a rondar a palavra obstinado, vulgo chato, tenho a preocupação de não alterar, pela narrativa simplificada, factos e acontecimentos que se encadeiam uns nos outros, documental e historicamente.
Como permaneci na Guiné e naveguei nos rios Cacine e Cumbijã um par de dias fora do habitual, atrevo-me a tentar esclarecer alguns pormenores que não me parecem suficientemente precisos:
(i) Enquanto Imediato da LFG Orion, conheci pessoal, profissionalmente e até familiarmente o 1º Tenente José António Cervaes Rodrigues, à época Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9, com quem mantive simpático e agradável relacionamento, quer profissional quer pessoalmente;
(ii) O relacionamento entre militares embarcados em unidades navais, em instalações em terra no INAB (Instalações Navais de Bissau), CDMG e Esquadrilha de Lanchas, alargava-se ao saudável convívio na vida civil e não só, também com militares de outros ramos das FA's [Forças Armadasa] e familiares de alguns que em Bissau permaneciam; assim foi e até usufrui, algumas vezes, da possibilidade de utilizar um Land Rover cedido pela CF9;
(iii) Naquela altura, as LFG's (Hidra, Lira, Orion, Cassiopeia e Sagitário) tal como as LDG's (Alfange e Montante), tinham comando autónomo, estavam atribuídos operacionalmente ao CDMG e incluiam na guarnição dois oficiais:
- comandante, em princípio um primeiro tenente dos QP's [Quadros Permanentes] da classe de Marinha, era nomeado pelo CEMA com publicação em OA; apenas conhecido um único caso de comando, durante algum tempo, por oficial da Reserva Naval - a Cassiopeia;
- imediato, em princípio um oficial da Reserva Naval, igualmente da classe de Marinha, nomeado em OA e que, por inerência do cargo, substituia sempre o comandante em caso de ausência ou impedimento daquele; alguns deles também foram oficiais dos QP's;
(iv) As LFP's (Bellatrix, Canopus e Deneb) apenas dispunham de um oficial, o comandante, nomeado da mesma forma pelo CEMA, da classe de Marinha e da Reserva Naval; alguns das LFP's também foram comandadas por oficiais dos QP's.
(v) Nenhuma unidade naval (navio) foi comandada por um oficial que não fosse da classe de Marinha e, apenas em caso de operações conjuntas, podiam várias unidades navais participantes ficar a depender, apenas operacionalmente e durante o tempo da operação, do comando de um oficial único nomeado pelo CDMG, também da classe de Marinha e, por norma, sempre mais antigo que qualquer dos oficiais participantes na operação;
(vi) Os comandos da Esquadrilha de Lanchas, de uma Companhia de Fuzileiros e de um Destacamentos de Fuzileiros dependia operacionalmente do CDMG, da mesma forma que as LFG's ou as LDP's e estavam sob o seu comando os elementos das respectivas unidades; especificamente, no caso da Esquadrilha de Lanchas, as LDM's e as LDP's e até outras embarcações;
(vii) As LFG's apenas participavam nos comboios para Bedanda com a responsabilidade da escolta e não incluídas nele, dado que, normalmente, até tinham a seu cargo a fiscalização de uma área Sul alargada que incluía o rio Grande Buba, Tombali, Cacine e os Bijagós mas essencialmente centrada no Cumbijã e Cacine;
(viii) As LFP's integravam-se igualmente na escolta desses comboios. Nunca chegavam exactamente à zona de Cufar, quedando-se pela foz do rio Macobum, ligeiramente a montante ou a jusante de Cadique; o comboio prosseguia com os batelões e as LDM´s com FZ's embarcados como forças de protecção;
(ix) Considerando o conjunto de todas as LFG's era uma zona em que, quase sistematicamente, havia sempre ataques;
(x) Por curiosidade apenas, a informação de que, no período de 10 a 20 de Fevereiro de 1968 o Cacine e o Cumbijã foram fiscalizados pela LFG Orion, rendida de seguida pela LFG Hidra, de 21 a 29 de Fevereiro do mesmo mês.
Mais um acrescento aos relatos.
Um abraço,
Manuel Lema Santos
03 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCXXX: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)
Amigo Luis:
Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...
Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...
O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968 (1).
Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.
Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver.
Júlio Benavente
_______________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 28 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968)
Texto de A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o ataque a Sare Ganá, 12 de Agosto de 1968, e a resposta das NT:
(...) "Às 01H00 atingiram Sare Ganá as forças de socorro de Bafatá e enviados pelo Comando de Batalhão. Estas forças eram constituídas a primeira por um pelotão do EREC 2350 e o PEL CAÇ NAT 64 a segunda por outro PEL REC do EREC 2350 e 2 secções da CCS/BCAV 1905.
"Uma vez que a situação estava praticamente normalizada, um pelotão do EREC 2350 e as 2 secções da CCS regressaram a Bafatá levando os feridos mais graves, tanto milícias como população, enquanto as outras forças se instalavam em Saré Ganá, montando segurança a tabanca"(...).
Guiné 63/74 - DCCXXX: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)
Amigo Luis:
Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...
Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...
O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968 (1).
Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.
Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver.
Júlio Benavente
_______________
Nota de L.G.
(1) Vd post de 28 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968)
Texto de A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o ataque a Sare Ganá, 12 de Agosto de 1968, e a resposta das NT:
(...) "Às 01H00 atingiram Sare Ganá as forças de socorro de Bafatá e enviados pelo Comando de Batalhão. Estas forças eram constituídas a primeira por um pelotão do EREC 2350 e o PEL CAÇ NAT 64 a segunda por outro PEL REC do EREC 2350 e 2 secções da CCS/BCAV 1905.
"Uma vez que a situação estava praticamente normalizada, um pelotão do EREC 2350 e as 2 secções da CCS regressaram a Bafatá levando os feridos mais graves, tanto milícias como população, enquanto as outras forças se instalavam em Saré Ganá, montando segurança a tabanca"(...).
Guiné 63/74 - DCCXXIX: Do Porto a Bissau (14): O regresso a casa
1. Eis a chegada do primeiro contingente vindo da Guiné, só faltam o Almeida e o Saagum que ficaram em Lisboa, os restante vieram para o Porto: são eles o Hugo, a Inês, o Manuel Costa - no meio estou, que os fui esperar ao aeroporto -, o Armindo, o Casimiro e o Aguiar:
2. Uma semana depois veio o resto da companhia: o Allen e o Marques Lopes, felizes e com vontade de lá voltar. Aqui rodeados por mim e pelo Hugo:
Créditos fotográficos:© Albano Costa / Hugo Costa (2006)
Guiné 63/74 - DCCXXIX: Do Porto a Bissau (14): O regresso a casa
1. Eis a chegada do primeiro contingente vindo da Guiné, só faltam o Almeida e o Saagum que ficaram em Lisboa, os restante vieram para o Porto: são eles o Hugo, a Inês, o Manuel Costa - no meio estou, que os fui esperar ao aeroporto -, o Armindo, o Casimiro e o Aguiar:
2. Uma semana depois veio o resto da companhia: o Allen e o Marques Lopes, felizes e com vontade de lá voltar. Aqui rodeados por mim e pelo Hugo:
Créditos fotográficos:© Albano Costa / Hugo Costa (2006)
Guuiné 63/74 - DCCXXVIII: Do Porto a Bissau (13): Notícias do Paulo Salgado
Caros Bloguistas:
Tenho algumas estórias para contar. Mas hoje quero apenas reflectir um pouco sobre a nossa ligeira participação na chegada dos viajantes - direi mesmo: grandes viajantes - a Bissau. Dos pormenores da sua estada, poucos factos retive, pois os valentes andaram por aí bebendo o que puderam por essa Guiné, a Guiné profunda que todos apreciamos, e mal tivemos tempo de conviver.
1. Não é justa qualquer insinuação (desculpa-me, Albano) sobre uma eventual precipitação do Allen - ele julgou que os preços seriam mais baixos. Acreditai que os preços em matéria de hotéis são altos. Tenho vindo aqui muitas vezes e para um hotel mínimo os preços são altos. A procura é elevada e, por isso, os preços sobem.
2. A moradia que conseguimos arrendar pertence à empresa SOMEC e só a amizade das pessoas permitiu que fosse disponibilizada, até porque apenas um funcionário ocupa uma das casas.
PS - Passámos, o fim-de-semana mais longo, na ilha de Canhabaque (ilha Roxa)[, no sul, na região de Tombali. Percorremos vários km pelo interior. Aqui travaram-se combates violentos, à beira mar, entre portugueses e guineenses (das ilhas). Foi uma mortandade. Em 1939! Lá está o obelisco ainda pouco danificado: "Pacificação de Canhabaque"! E o herói que comandou as NT.
Lá voltaremos.
Mantenhas para todos
Guuiné 63/74 - DCCXXVIII: Do Porto a Bissau (13): Notícias do Paulo Salgado
Caros Bloguistas:
Tenho algumas estórias para contar. Mas hoje quero apenas reflectir um pouco sobre a nossa ligeira participação na chegada dos viajantes - direi mesmo: grandes viajantes - a Bissau. Dos pormenores da sua estada, poucos factos retive, pois os valentes andaram por aí bebendo o que puderam por essa Guiné, a Guiné profunda que todos apreciamos, e mal tivemos tempo de conviver.
1. Não é justa qualquer insinuação (desculpa-me, Albano) sobre uma eventual precipitação do Allen - ele julgou que os preços seriam mais baixos. Acreditai que os preços em matéria de hotéis são altos. Tenho vindo aqui muitas vezes e para um hotel mínimo os preços são altos. A procura é elevada e, por isso, os preços sobem.
2. A moradia que conseguimos arrendar pertence à empresa SOMEC e só a amizade das pessoas permitiu que fosse disponibilizada, até porque apenas um funcionário ocupa uma das casas.
PS - Passámos, o fim-de-semana mais longo, na ilha de Canhabaque (ilha Roxa)[, no sul, na região de Tombali. Percorremos vários km pelo interior. Aqui travaram-se combates violentos, à beira mar, entre portugueses e guineenses (das ilhas). Foi uma mortandade. Em 1939! Lá está o obelisco ainda pouco danificado: "Pacificação de Canhabaque"! E o herói que comandou as NT.
Lá voltaremos.
Mantenhas para todos
Guiné 63/74 - DCCXXVII: Comboios no Rio Cumbijã (Humberto Reis)
Amigo Lema Santos, boa noite:
Desde esta tarde [de 28 de Abril de 2006], em que estivemos em amena cavaqueira cerca de 1 hora, relembrando a nossa passagem por aquelas míticas terras da Guiné-Bissau, nos passados anos 60, fiquei com curiosidade de ir rever uma estória dos célebres comboios fluviais a subir o Rio Cumbijã até Bedanda.
Achei (1).
Em 25 de Fevereiro de 1968, ainda lá estavas, desenrolou-se uma operação denominada Ciclone II, levada a efeito pelas companhias de pára-quedistas 121 e 122, exactamente para tentar anular as acções ofensivas que os combóios fluviais sofriam mensalmente, quando passavam em frente à mata de Cafine e Cafal Balanta (entre a curva à direita depois da foz do rio Cubade e a seguinte à esquerda).
Passo a citar o CMG José António Cervaens Rodrigues (em 68 exercia as funções de Chefe da Divisão de Logística Operacional do Comando da Defesa Marítima em acumulação com as de Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9 e também terminou a comissão em Maio de 68, um mês depois de ti) que efectuou 4 desses comboios, tendo sido atacado em 2 deles:Ç
"O comboio era normalmente constituído por 2 ou 3 lanchas de desembarque e outras tantas barcaças mercantes e comandado por um oficial da Armada, por rotação entre o Comandante da Esquadrilha de Lanchas e Comandantes e Imediatos das Companhias de Fuzileiros. Formava-se o comboio na confluência dos rios Cumbijã e Como, principiando a subida do rio Cumbijã no início da enchente da maré. Antes de prosseguir para Bedanda paravam brevemente em Cufar, ao fim de cerca de uma hora de percurso...".
O comandante do comboio nesse dia 25 de Fevereiro de 1968 era o 1º tenente Eugénio Cavalheiro.
Recordar é viver
Aquele abraço
Humberto Reis
_________
Nota de L.G. / H.R.:
(1) Fonte: O Portal da História > Batalhas de Portugal
Nuno Mira Vaz (2003) - Guiné, 1968 e 1973:
Soldados uma vez, sempre soldados!
Lisboa: Tribuna. 2003. (Batalhas de Portugal).
95 pags. € 22,00.
Resumo:
"A luta travada na Guiné entre Forças Armadas Portuguesas e os guerrilheiros do PAIGC, apesar de não registar muitas acções militares com expressão significativa, é geralmente recordada com a mais dura de quantas se travaram no antigo ultramar português.
"Neste contexto, o heliassalto em Cafal-Cafine e a demorada e complexa acção naval, terrestre e aérea montada para libertar Guidaje, fornecem, na diversidade da sua concepção, duas imagens expressivas da intensidade dos combates e dos sacrifícios exigidos aos soldados portugueses.
"Na Operação Ciclone II, em Fevereiro de 1968, um comboio fluvial de rotina serviu de isco ao lançamento de duas companhias de pára-quedistas sobre uma unidade do PAIGC instalada em abrigos preparados, tendo as tropas portuguesas iniciado um combate de aniquilamento do bigrupo inimigo.
"Em Maio e Junho de 1973, a Operação Ametista Real e todos os outros combates travados para romper o cerco montado a Guidaje ocorreram numa época em que se registavam severas limitações aos meios aéreos, sendo o desfecho da guerra cada vez mais incerto. Ao fim de um mês e meio de combates, as baixas das duas partes foram bastante severas e, sabe-se hoje, equiparadas".
Guiné 63/74 - DCCXXVII: Comboios no Rio Cumbijã (Humberto Reis)
Amigo Lema Santos, boa noite:
Desde esta tarde [de 28 de Abril de 2006], em que estivemos em amena cavaqueira cerca de 1 hora, relembrando a nossa passagem por aquelas míticas terras da Guiné-Bissau, nos passados anos 60, fiquei com curiosidade de ir rever uma estória dos célebres comboios fluviais a subir o Rio Cumbijã até Bedanda.
Achei (1).
Em 25 de Fevereiro de 1968, ainda lá estavas, desenrolou-se uma operação denominada Ciclone II, levada a efeito pelas companhias de pára-quedistas 121 e 122, exactamente para tentar anular as acções ofensivas que os combóios fluviais sofriam mensalmente, quando passavam em frente à mata de Cafine e Cafal Balanta (entre a curva à direita depois da foz do rio Cubade e a seguinte à esquerda).
Passo a citar o CMG José António Cervaens Rodrigues (em 68 exercia as funções de Chefe da Divisão de Logística Operacional do Comando da Defesa Marítima em acumulação com as de Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9 e também terminou a comissão em Maio de 68, um mês depois de ti) que efectuou 4 desses comboios, tendo sido atacado em 2 deles:Ç
"O comboio era normalmente constituído por 2 ou 3 lanchas de desembarque e outras tantas barcaças mercantes e comandado por um oficial da Armada, por rotação entre o Comandante da Esquadrilha de Lanchas e Comandantes e Imediatos das Companhias de Fuzileiros. Formava-se o comboio na confluência dos rios Cumbijã e Como, principiando a subida do rio Cumbijã no início da enchente da maré. Antes de prosseguir para Bedanda paravam brevemente em Cufar, ao fim de cerca de uma hora de percurso...".
O comandante do comboio nesse dia 25 de Fevereiro de 1968 era o 1º tenente Eugénio Cavalheiro.
Recordar é viver
Aquele abraço
Humberto Reis
_________
Nota de L.G. / H.R.:
(1) Fonte: O Portal da História > Batalhas de Portugal
Nuno Mira Vaz (2003) - Guiné, 1968 e 1973:
Soldados uma vez, sempre soldados!
Lisboa: Tribuna. 2003. (Batalhas de Portugal).
95 pags. € 22,00.
Resumo:
"A luta travada na Guiné entre Forças Armadas Portuguesas e os guerrilheiros do PAIGC, apesar de não registar muitas acções militares com expressão significativa, é geralmente recordada com a mais dura de quantas se travaram no antigo ultramar português.
"Neste contexto, o heliassalto em Cafal-Cafine e a demorada e complexa acção naval, terrestre e aérea montada para libertar Guidaje, fornecem, na diversidade da sua concepção, duas imagens expressivas da intensidade dos combates e dos sacrifícios exigidos aos soldados portugueses.
"Na Operação Ciclone II, em Fevereiro de 1968, um comboio fluvial de rotina serviu de isco ao lançamento de duas companhias de pára-quedistas sobre uma unidade do PAIGC instalada em abrigos preparados, tendo as tropas portuguesas iniciado um combate de aniquilamento do bigrupo inimigo.
"Em Maio e Junho de 1973, a Operação Ametista Real e todos os outros combates travados para romper o cerco montado a Guidaje ocorreram numa época em que se registavam severas limitações aos meios aéreos, sendo o desfecho da guerra cada vez mais incerto. Ao fim de um mês e meio de combates, as baixas das duas partes foram bastante severas e, sabe-se hoje, equiparadas".
02 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCXXVI: Boas vindas ao marinheiro Lema Santos (Hugo Moura Ferreira)
Caro Lema Santos:
Começo por reforçar os votos de Boas Vindas, mencionados no assunto desta mensagem, com desejos que muitas estórias da tua passagem pela nossa sempre amada Guiné.
Verifiquei por aquilo que apresentas no que o Luís inseriu já no Blogue Fora Nada (1), que nos trarás ao conhecimento certamente muitas das tuas experiências.
Pela minha parte serão lidas com toda a atenção e empenho.
Verifiquei com alguma satisfação que tu és do meu tempo (2) e tentei recordar-me do pessoal de Marinha que, com o sacrifício que quem ia metido numa lata a servir de alvo, para os lados do Cumbidjã, nos ia abastecer a Cufar (CCAÇ 1621), acostando, no cais de Cantone, e também a Bedanda (CCAÇ 6), quando, com o coração ao pé da boca, tinham que progredir rio acima tendo na outra margem o celebérrimo Cantanhez, que naquela altura era impenetrável.
Depois de tantos anos apenas me lembro de dois amigos da Marinha [cujos nomes não vou aqui mencionar, sendo um deles uma figura pública].
Penso, e tu o confirmarás ou não, que realmente nunca as LDM [Lanchas de Desembarque Médias] (3), que nos levavam abastecimentos a Bedanda, foram atacadas naquela zona. Aliás, como se acontecia com a LDP que diariamente levava a água de Catió para a nossa base no Cachil. Enquanto por lá andei não me recordo de ter ouvido alguma vez notícias de ataques a abastecimentos naquela zona.
Em Cacine, eu sei que eram habituais as saudações dos turras , mas depois de passarem essa zona havia algum respeito e pode dizer-se condescendência do IN, para com a nossa paparoca.
Ao afirmares que tens material gravado aquando das escoltas que efectuávamos nos abastecimentos ao aquartelamento de Bedanda, parece-me que a minha tese anterior está errada, mas tendo eu estado em Cufar e em Bedanda, entre Novembro de 1966 e Junho de 1968, não me lembro de ocorrências de maior, com as colunas de abastecimento, via naval, pelo que penso que as referidas gravações tenham sido obtidas no caminho para lá. E será possivel ouvi-las? Talvez até o Luís Graça esteja interessado em as inserir no Blogue.
Fala-nos dessas experiência pois acho que todos estamos ansiosos por as conhecer através de um marinheiro, e não, como tem acontecido, apenas de elementos da tropa fandanga.
Eu, pela minha parte, por estar incondicionalmente de acordo, estou a tentar que alguns elementos da FA, que conheço, colaborem, indo assim ao encontro do que afirmas quando dizes: como é possível escrever a estória da Guiné sem estar a ela associada a própria história da Marinha de Guerra, conjuntamente com a história dos outros dois ramos das Forças Armadas?
Tenho pena é que, mas acalento grande esperança, não haja nesta Tertúlia, a colaborar para o mesmo fim, elementos que na altura eram considerados inimigos mas que hoje se verifica serem grandes amigos e que apenas estavam a seguir as suas convicções, como afinal alguns dos tugas também o estariam.
Verificamos mesmo agora pelos escritos que são inseridos no Blogue que mesmo nos Portugueses havia as duas convicções, tal como no pessoal da Guiné. Mas isso é outra questão que um dia, sem mágoas, virá certamente a ser tratada por alguém com capacidade inequívoca para tal e que possa vir a estudar, de forma profunda, a História dessa época a que nós estamos agora a dar a nossa contribuição.
Um abraço e mais uma vez, benvindo ao grupo dos apanhadinhos pelo clima.
Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf (1966/1968)
CCAÇ 1621 e CCAÇ 6
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Notas de L.G.
(1) Vd post de 21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos
(2) Vd post de 22 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)
(3) Vd post de 7 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXVII: Antologia (23): Homenagem aos nossos marinheiros e às suas Lanchas de Desembarque