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17 fevereiro 2006
Guiné 63/74 - DL: Ganhámos na tusa pequena, perdemos na tusa maior (João Tunes)
Texto do João Tunes
Caros tertulianos e estimados camaradas,
Concordo. Claro que não deve haver tabus. Isso não, um bom tabu vale menos que um mau cartoon, dizendo assim e a aproveitar a oportunidade em que o Maomé não nos estará a ouvir, entretido que ele deve estar com os preparativos da tomada de posse pelo Hamas do governo da Palestina. E se não deve haver tabus para narrar o nosso erotismo guerreiro, também ele, tabu, não é chamado para quando cada qual deve dar a sua opinião, seja ela igual, diferente ou mais que sim ou que não. E eu uso pouco a abstenção e menos ainda o voto em branco.
Todas as nossas históricas eróticas são giras (o que fodemos, malta!, só se perderam as punhetas com a imaginação a vaguear na metrópole pu nas putas clarinhas de Bissau!) e devem ser contadas. Um gajo, para mais jovem, não fornica com uma G3, menos ainda com uma basuka e nem pensar com um obus 14, pois claro, para mais era proibido enrabar o comandante mesmo que ele merecesse e um gajo quando quente pede coisa quente, não vai enfiar o pirilau num sorvete de baunilha e morango que, para mais, no mato não havia, e chocolate quente, isso era um fartote.
Acho pois muito bem e que se dê o máximo de fogo à peça (*). Mas, se me permitem, tenho para mim que todo o nosso historial folclórico-erótico, se bem deitado cá para fora, devendo-o ser, também demonstra uma coisa - foi mas foi o tanas termos estado lá a defender Portugal do Minho a Timor. A nossa braguilha, ou a memória da nossa braguilha (e da braguilha de cada um, só o próprio e o padre a quem nos confessamos sabem bem), faz esse mito em cacos. Só não fodemos o que não se pôs a jeito. Ou a psico não permitia. E, sejamos francos, fodemos na Guiné como não fodíamos em Lisboa, no Porto, no Minho, em Trás-os-Montes ou no Alentejo. Olhávamos uma bajuda da Guiné com o mesmo sentido de rapina de posse sexual que para a filha da nossa vizinha metropolitana do rés-do-chão ou para a nossa própria namorada? Ora! E até julgo, honra nos seja feita, que fodemos bajudas e ex-bajudas, fodendo bem, mas com mais decência que o limite da indecência que nos era permitida como exército ocupante e ao serviço de um colonialismo serôdio.
É que o Eros não nos deve matar a inteligência a lidar com o Ethos. Acho que devemos isso, pelo menos, para com as actuais bajudas de uma Guiné livre e independente. Para mais, elas, as bajudas, muitas foram as comidas mas, ao cabo e ao resto, lixaram-nos bem, comeram-nos depois por junto em Guileje e no resto, sendo certo que após tantas batalhas ganhas entre as mamas e as pernas delas, mais outras mais com fogacho de metralha, acabámos por perder a guerra (a outra, a maior, a colonial). Ou seja, tanta pila tesa tivemos e não tivemos pilas para os Strellas quando eles começaram a assobiar no céu da Guiné, transformando-o em área libertada.
Resumindo: ganhámos na tusa pequena, perdemos na tusa maior.
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(*) - Em 7 de Abril de 2004, escrevi e publiquei assim (1):
"Voltei a atravessar a parada, agora em sentido contrário e rumo à messe de oficias, para cumprir as ordens superiores. Tinha que jogar king e, a essa hora, o Tenente Coronel já devia estar impaciente pela demora do parceiro à força. Já era noite e as únicas luzes eram os holofotes de vigia e as luzes nas casamatas e nas messes de oficiais e de sargentos."
"No percurso, os pensamentos divagavam algures, misturando Lisboa, a casa, a família, os amigos, a puta da Guiné e o baile perdido. Depois, os pensamentos focalizaram-se nas lindas e personalizadas bajudas manjacas. Paciência, amanhã, é outro dia, disse, cá para mim. Até que, como oficial, não podia abusar e, muito menos, atingir o finalmente. Nem queria, pois tinha vindo para a Guiné casado de fresco. Mas que era muito bom sentir o roçar dos mamilos rijos das bajudas atravessar a camisa e aquecer o peito, calor que depois subia para a cara e descia para a virilha, isso era um facto. Ou uma evidência. Muito melhor que emborcar uma garrafa de uísque ou jogar um king com o cagarolas do Romeira. E quanto não valia, depois do baile, ficar com a memória mais apetecida para enfiar na cama, adormecer e esperar o sonho, o sonho desejado, em que as lembranças eróticas dos mamilos das bajudas cediam espaço à lembrança dos mamilos da mulher. Só isso e não era pouco. Não dava para mais. Mas, não faltava muito para gozar férias de um mês em Lisboa. Porque o descabaçamento das bajudas era obra para furriéis que as recolhiam já maduras dos braços dos oficiais. Depois, as ex-bajudas descabaçadas passavam a mulheres grandes e a ganhar dinheiro na lavagem de roupa para as tropas. E era então, só então, que chegava a hora do festim para cabos e soldados. Percebia-se a cadeia de funções no jogo do sexo porque eram muito raros os furriéis, os cabos e os soldados que tinham dinheiro para passarem férias no continente. E quase todos os oficiais faziam duas vezes férias durante a comissão, porque o podiam fazer e, assim, podiam aliviar atrasos acumulados de relações sexuais junto das mulheres, amigas disponíveis, companheiras de ocasião ou prostitutas brancas. Como em tudo na tropa, também, no tocante a sexo (melhor dizendo, à expressão da supremacia sexual da potência colonial), a cadeia de posse, os ritos hierárquicos e as condições sociais, tinham os seus preceitos e equilíbrios."
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As melhores saudações camaradas de cumprimentos a todos os estimados tertulianos. E não esqueçam de ter um óptimo fim-de-semana.
João Tunes
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Nota de L.G.:
(1) João Tunes > Bota Acima > 7 de Abril de 2004 > Jogo de Cartas > Texto delicioso, de antologia, onde o alferes miliciano de transmisssões Tunes relata ou evoca : (i) as noites, chatas p'ra burro, em que era obrigado a jogar king com o seu comandante, o tenente-coronel Romeira; (ii) as bravatas sexuais dos tugas; e (iii) a porrada que apanhou por recusar bater num cabo de transmissões sob o seu comando, porrada essa que o levou do Pelundo até ao Catió.
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