1. Amigos e camaradas:
Morreu o Carlos Fabião, nesta última noite. Foram o Zé Teixeira e o José Martins que me fizeram chegar a triste notícia, que eu ainda não tinha ouvido na comunicação social.
Nunca o conheci pessoalmente mas ele foi nosso camarada de Guiné, e isso é que importa. Era uma figura pública. Julgo que foi um grande militar e um grande português. A nossa caserna está mais pobre. Curvo-me à sua memória.
Publicarei os vossos depoimentos. L.G.
Carlos Fabião (1930-2006)
Ingressou na Escola do Exército em 1950. No dia 25 de Abril de 1974 era tenente-coronel e prestava serviço no D.R.M. de Braga, para onde tinha sido transferido na sequência da denúncia de um golpe de Estado, que fez no IAEM - Instituto de Altos Estudos Miliatres, sito em Pedrouços, em 17 de Dezembro de 73. Foi membro activo do Movimento dos Capitães.
Foi nomeado governador da Guiné, cargo que exerceu até 15 de Outubro de 1974. Na sequência dos acontecimentos do 28 de Setembro foi nomeado para a Junta de Salvação Nacional (e por inerência para o Conselho de Estado). Em fins de 1974 passou a integrar a estrutura informal do Conselho dos Vinte e a partir de 14 de Março de 75 o Conselho da Revolução, sempre por inerência das funções que desempenhou. Passou à Reserva em Dezembro de 1993, no posto de tenente-coronel.
Fonte: Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril > Biografias > Carlos Fabião
Sobre o Carlos Fabião, escreve o coronel Fernando Policarpo no seu livro sobre as Guerras de África: Guiné (1963/-1974) (Matosinhos: QuidNovi. 2006. 58-59. Academia Portuguesa de História: Batalhas da História de Portugal, 21) o seguinte:
"Terá sido Carlos Fabião um dos miliares portugueses que melhor conheceu a Guiné, tantos foram os anos que lá permaneceu, antes e depois da guerra. Conta que quando foi para Bissau, em 1955, ainda conheceu antigos guerreiros das 'Campanhas de Pacificação' do início do século.
"Nascido em 1930, Carlos Fabião viveu seis anos de paz na Guiné. Mas viveu também os tempos da guerra, já que, depois de 27 meses a combater em Angola, voltou ao território por duas vezes (1965-1967 e 1971-1973).
"Serviu sob o comando de dois generais bem distintos na manobra militar, Arnaldo Schultz e António Spínola, incumbindo-o este último de chefiar as milícias, uma força nativa constituída por elementos responsáveis pela defesa das suas próprias povoações" (...).
"Militar de grande confiança do General Spínola", denunciou em Dezembro de 1973 um alegado planoo de Kaúlza de Arriaga para desencadear um golpe de Estado da extrema-direita, numa altura em que o MFA desenvolvia os seus próprios planos para derrubar o governo de Marcelo Caetano.
Voltou à Guiné, depois do 25 de Abril, para assumir, em Maio de 1974, os poderes de governador-geral. Umas semanas antes, Spínola tinha-o incumbido de ir a Paris, para um encontro com Leopoldo Senghor. Este insistiu na necessidade de Portugal reconhecer, pura e simplesmente, o novo Estado da República da Guiné-Bissau, conselho que Spínola obviamente não aceitou. O velho general atribiu-lhe então a missão de disciplinar o MFA na Guiné e impor um plano de autodeterminação com a necessária consulta às populações locais. "Missão impossível". Fabião rende-se à vontade do MFA, negoceia a paz com o PAIGC e gere no terreno a transição...
Como já foi acima referido, depois do 28 de Setembro de 1974, integra a Junta de Salvação Nacional e, em Março de 1975, o Conselho da Revolução. Passa à reserva em Dezembro de 1993.
2. Do Zé Teixeira (2 de Abril de 2006, 12h53)
Caro Luís:
Saúde, paz e felicidade!
Como deves calcular o teu/nosso blogue continua a ser para mim um ponto de encontro diário. São contínuos momentos de reflexão e revivência dum tempo que marcou profundamente a juventude da época e consequentemente a minha Pátria até aos tempos que correm e continuará a ser uma marca perene.
Aprecio imenso os camaradas que continuam a vir a lume com as suas histórias e reflexões. É a nossa história em construção. A ti o devemos, deve ser dito e sentido por todos os bloguistas e leitores. Há muitos leitores que não se atrevem a escrever. Daqui os desafio a pôr em comum o que viveram e o que sabem e o que sentem. Só assim a verdadeira história da guerra da Guiné será construída.
Por mim, ainda há estórias de caserna e outras para contar, mas creio que devo dar espaço aos periquitos para se imporem. Todos, e somos muitos, serão poucos para tão grande história.
Hoje resolvi reentrar no Blogue para me curvar perante um homem que tive o prazer de conhecer lá na Guiné e que acaba de partir para o acampamento eterno. As notícias de hoje dão como falecido o Tenente Coronel Carlos Fabião, o nosso Major. Tive o prazer de ser comandado por ele em Buba.
Homem de poucas palavras, muito observador e de uma rectidão extrema e sobretudo muito humano. Nos contactos que tive com ele, que não foram muitos - um simples enfermeiro tinha de se render à sua insignificância! - encontrei um homem preocupado com os seus homens, em todos os aspectos (segurança, saúde, alimentação). Bom estratega. Um grande militar. A minha singela homenagem.
Zé Teixeira
3. Do José Martins (2 de Abril de 2006, 13h08)
Esta noite no Hospital Militar de Belém morreu o Coronel Carlos Fabião, nossso camarada combatente da Guiné.
Cada vez mais há necessidade dos vivos contarem a história, para não corrermos o risco se serem outros, menos informados, a fazê-lo.
R.I.P.
Martins
4. Do Carlos Vinhal (2 de Abril de 2006, 21h38)
Caro Luis
Por uma questão de justiça informo-te que ouvi no Rádio Clube Português, da parte da manhã, a notícia da morte do Coronel Carlos Fabião, precisamente quando estava a consultar o 1º. volume de A Guerra de África, páginas 371 (onde está uma sua fotografia) a 373. Consultava este livro para tirar elementos sobre a guerra da Guiné, a fim de falar sobre os 3 majores mortos em Abril de 1970 e enviar-te um texto, como o fiz.
Às 13 horas, julgo que na RTP1, a notícia foi dada novamente.
Um abraço fraterno de
Carlos Vinhal
5. Do Virgínio Briote (2 de Abril de 2006, 22h47)
Viva Luís,
O Cor Carlos Fabião estava doente há uns tempos e sabia-se que era uma daquelas coisas que raramente perdoam. Conheci-o na Guiné (o que não é para admirar uma vez que ele cumpriu lá, salvo erro, 3 comissões), era ele capitão. Numa das saídas do meu grupo para os lados de Tite, ainda nos finais de 65, ele comandou os dois grupos de combate que nos foram apoiar e recolher.
Recordo-me de ver um sujeito sob o forte, com uma varinha na mão, ar calmo. Via-se que lidava muito bem com o pessoal dele. Sentia-se que o rodeava uma aura mística, tinha carisma. E tu sabes o valor que isso tem nos soldados, o poder de os fazer acreditar que estavam protegidos. E tive oportunidade de constatar pesoalmente que os soldados tinham motivos, ele merecia que acreditassem nele.
Durante a minha comissão ainda tive o gosto de o rever mais duas vezes. E depois com o 25 de Abril, o Carlos Fabião tornou-se conhecido de quase toda a gente que viveu aqueles tempos, odiado por uns, amado por outros. Do que conheci dele, penso que a história não o tratou muito bem. Aqueles ventos chamuscavam os que andavam longe dos acontecimentos, quanto mais os que estavam no centro da fogueira.
Um bem-hajas por o teres recordado.
Um abraço para a tertúlia que tão bons momentos me tem dado.
vb
6. Do João Carvalho (3 de Abril de 2006, 23.30h)
Olá Luis e camaradas
Não tive a felicidade de conhecer pessoalmente o nosso ex camarada Carlos Fabião.
Pelo pouco que fui ouvindo sobre ele, penso que era uma pessoa íntegra.
A minha pequena contribuição para que não seja esquecido mais um nosso camarada está e em: Wikipédia > Biografias > Carlos Fabião .
A todos os camaradas que saibam mais promenores da sua biografia agradeço, caso tenham tempo e paciência para isso, que acrecentem mais informação.
Um grande abraço
João Carvalho
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