05 abril 2006

Guiné 63/74 - DCLXXI: Do Porto a Bissau (1): o jipe está de saída (Albano Costa)

Post nº 671 (DCLXXI)

O A. Marques Lopes, de costas...

O A. Marques Lopes e o Xico Allen ...

O Xico Allen a verificar os últimos pormenores...

1. Texto e fotos de Albano Costa (que desta vez não vai, fica cá de castigo, mas manda o filho, o Hugo):

Caro Luís Graça:

Estas são as primeiras fotos e carregar o jipe... Isto é o que dá mais dores de cabeça, é o acomodar a mercadoria... Olha, era tanta que teve de ficar cá alguma mas um dia vai lá chegar... As fotos ilustram um pouco da azáfama dos elementos da equipa (entre eles, os nossos tertulianos A. Marques Lopes e Xico Allen) a preparar o jipe.

Depois mando a foto da partida... Um abraço, até logo, Albano

2. Em homenagem aos nossos valentes camaradas, que partem dentro de umas escassas horas para a Guiné-Bissau, aqui fica uma conhecida letra, belíssima, do Fausto, inspirada na Peregrinação do nosso tuga Fernão Mendes Pinto (c. 1510-1583), e que faz parte do seu álbum musical Por Este Rio Acima (1982), uma obra-prima da música popular portuguesa... L.G.

O barco vai de saída

O barco vai de saída
Adeus ao cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
Por servir de criado essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

Gingão de roda batida
corsário sem cruzado
ao som do baile mandado
em terra de pimenta e maravilha
com sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-íris
desvaira se os vires
desvairas magias

Já tenho a vela enfunada
marrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronha
vou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegria
só vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,
são noites, são dias

Vou no espantoso trono das águas
vou no tremendo assopro dos ventos
vou por cima dos meus pensamentos
arrepia
arrepia
e arrepia sim senhor
que vida boa era a de Lisboa

O mar das águas ardendo
o delírio do céu
a fúria do barlavento
arreia a vela e vai marujo ao leme
vira o barco e cai marujo ao mar
vira o barco na curva da morte
e olha a minha sorte
e olha o meu azar

e depois do barco virado
grandes urros e gritos
na salvação dos aflitos
estala, mata, agarra, ai quem me ajuda
reza, implora, escapa, ai que pagode
rezam tremem heróis e eunucos
são mouros são turcos
são mouros acode!

Aquilo é uma tempestade medonha
aquilo vai p'ra lá do que é eterno
aquilo era o retrato do inferno
vai ao fundo
vai ao fundo
e vai ao fundo sim senhor
que vida boa era a de Lisboa

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