15 maio 2006

Guiné 63/74 - DCCLII: O abandono dos comandos africanos (Paulo Reis)

Texto do jornalista Paulo Reis:

Caro Professor Luís Graça:

Tenho 'passeado' longas horas, nas últimas semanas, pelo Blogue-fora-nada. Sou jornalista profissional (carteira nº 734) há 24 anos e trabalho em regime de freelancer, actualmente.

Tenho um contrato com uma editora para fazer um livro sobre o abandono dos comandos africanos da Guiné-Bissau. É uma história com que me cruzei, ainda estagiário, em 1982, quando encontrei o alferes Bailo Jau, já falecido e o soldado Demba Embaló com quem ainda mantenho contacto.

Estive na Guiné em 1998, por duas vezes, quando da guerra do Ansume Mané. Andei por Pirada, Bafatá, Bambadinca, Mansoa, Gabú, Bissau, etc, etc. Tendo, para além disso, nascido e vivido em Angola até 1976, calcula que sinto algo mais que mera curiosidade profissional, em relação a África.

Segui com atenção o programa da RTP1 ' Órfãos de Pátria', e acho que foi fraco - a montanha pariu um rato, como dizia um dos comentários que vi, no seu blogue. Houve, de facto um processo de decisão política, da parte portuguesa, que levou ao abandono desses homens. Mas houve também a aplicação, no terreno, dessa decisão - através, por exemplo, da passagem de licenças registadas a muitos deles, com ordens para se apresentarem no quartel no dia 1 de Janeiro de 1975, já a retirada portuguesa estaria concluída há muito.

Gostaria de poder trocar algumas impressões consigo e de saber se poderei contar com a sua ajuda, tanto em matéria de contactos como de informação e documentação de que disponha e que possa ser útil para clarificar esta página menos feliz da nossa História.

Com os meus melhores cumprimentos

Paulo Reis

Comentário de L.G.:

Meu caro Paulo: O que sabemos sobre a ascensão e queda dos comandos africanos tem sido divulgado através do nosso blogue. Estamos, eu e os restantes membros da tertúlia dos amigos e camaradas da Guiné, disponíveis para trocar impressões, informação e até documentação sobre este e outros tópicos.

De qualquer modo, bom sucesso (e boa sorte) para as suas pesquisas sobre este tema, que há muito caiu no esquecimento de portugueses e guineenses... Sem querer parecer cínico ou provocador, quem no continente africano (com tantos desastres humanitários, com tantas violações dos direitos humanos, com tantos genocídios nestes últimos cinquenta anos, que foram os anos das independências, como por exemplo a tragédia do Darfur ou a hecatombe da Sida) se vai interessar pela sorte de algumas centenas de homens que escolheram o cavalo errado, servindo a bandeira dos colonialistas, e foram tratados como mercenários e traidores pelos guerrilheiros do PAIGC que substituiram os tugas no poder, em Bissau ?

Infelizmente o que sabiam (de) mais já morreram ou foram mortos. Outros, os que podiam e deviam falar,vão provavelmente morrer na cama e até, alguns, ser tratados como heróis, com direito a lugar no panteão nacional da santa terrinha... Sempre foi assim ou tem sido: são os vencedores que escrevem a história. Nós, quando muito, podemos pôr um pauzinho na engrenagem, fazendo alguns perguntas incómodas, insalubres e perigosas... (LG)

1 comentário:

Paulo Reis disse...

Caro Luís Graça: Obrigado pela publicitação do meu pedido de ajuda no Blogue-fora-nada. Gostaria sobretudo de apelar aos leitores e participantes neste blogue que tenham informações sobre a evolução dos acontecimentos, na Guiné-Bissau, entre Abril de 1974 e a retirada das últimas tropas portuguesas.

Estou sobretudo interessado no processo de desmantelamento do Batalhão de Comandos Africanos, mas também gostaria de saber algo sobre outras unidades maioritariamente compostas por soldados locais. Todos os pormenores, por mais insignificantes que pareçam ser, são importantes para construir o 'retrato geral'

Gostaria de saber quais as unidades que se encontravam na Guiné, nessa época, e quais foram as últimas a retirar, bem como a forma como se processou essa retirada (datas, ordens do Comando-Geral, etc, etc). Também me seria útil saber nomes dos oficiais que integraram o gabinete de Carlos Fabião e a estrutura de Governo militar.

Um pedido mais específico: tenho a indicação de que Carlos Fabião tinha um ajudante de campo da Marinha, que participou, com ele, numa reunião no quartel dos Comandos Africanos, em Brá, onde esteve também um elemento ligado ao PAIGC, o cineasta guineense Flora Gomes. Gostaria de saber o nome deste ajudante de campo.

Todos os ex-combatentes da guerra da Guiné que se tenham cruzado com os comandos africanos têm, naturalmente, histórias e episódios que serão essenciais para descrever, com realismo, factualidade e precisão o que foi a guerra da Guiné. Apelo também a esses ex-combatentes para que me ajudem, com as suas informações, relatos e fotografias.

O objectivo da minha investigação é apurar responsabilidades pela decisão de desarmar e abandonar os comandos africanos (e outras unidades, como os fuzileirose as companhias de caçadores, etc) a dois níveis: ao nível político (o que foi feito em Portugal) e ao nível militar/operacional (o que foi feito na Guiné-Bissau). Toda a ajuda que me possam dar será bem-vinda.

Embora eu pretenda concentrar a investigação nos acontecimentos verificados entre Abril de 1974 e Janeiro de 1975, também tenciono abordar a história dos Comandos, desde a sua constituição, primeiras unidades e operações, especialmente na Guiné-Bissau. Mais uma área em que muitos testemunhos vossos me serão essenciais.

Agradecendo antecipadamente a vossa ajuda,

com os meus cumprimentos,

Paulo Reis
mail - pjcv_reis@yahoo.co.uk
telf móvel - 981 72 79 29