19 maio 2006

Guiné 63/74 - DCCLXXIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (8): A ida para o leste

Guiné > 1968 > O Rio Geba atravessa(va) várias regiões: na margem direita, para lá de Bissau, que é uma ilha, a região do Morés (Mansoa) e a a região Leste (Bafatá); na margem esquerda, a região de Quínara (Buba) e de novo a região leste, que começava a partir do Rio Corubal... De Mansoa a Bafatá não havia ligações terrestres, já que a estrada que ligava Bafatá a à capital, passando por Mansoa estava interdita... O único recurso, para as NT, era a via fluvial, como aconteceu com a CCAÇ 2405 (1968/69), transferida de Mansoa, cinco meses depois, em Dezembro de 1968 para o sub-sector de Galomaro (LG).

Foto do Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).




Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > O Alf Mil Raposo com dois milícias nativos.

© Paulo Raposo (2006)



VIII parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).


Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 25-26 (1).


Depois de cinco meses de Mansoa, em chão Balanta, fomos mandados para o leste, para o chão Fula.

O leste da Guiné era quase um planalto, a vegetação não era tão densa e o clima era menos húmido.

Como a estrada de Mansoa para Bafatá estava cortada por acção do inimigo, só podíamos lá chegar ou por avião ou pelo rio.

Foi posta à nossa disposição uma LDG, lancha de desembarque grande, e lá fomos rio acima. A hospitalidade do pessoal da Marinha deixava sempre muito a desejar. A lancha acostou ao Xime, e o resto do caminho fomos em coluna, para Bambadinca.

Sempre que se formava uma coluna neste itinerário, a companhia do Xime saía para fazer protecção lateral.

Chegámos a Bambadinca à noite, cheios de fome e de sono e lá dormimos já nem sei como. No dia seguinte mandaram-nos para um quartel próximo, Fá Mandinga, aonde descansámos enquanto aguardávamos novas ordens.

Deixo aqui uma história curiosa: Bambadinca ficava num ermo, de um dos lados descia para o rio Geba e na outra margem ficava uma grande bolanha.

Para protecção avançada, estava nessa bolanha um grupo de combate de tropa africana comandado pelo Alferes Beja Santos, que vinha connosco desde Mafra. Estavam instalados num aquartelamento de reduzidas dimensões (1). Tinham uns abrigos, mas dormiam em Tabancas, nome que era dado às casas construídas pelos nativos, que tinham telhado de colmo.

Numa bela noite, o nosso Beja Santos sofreu um ataque, em que o inimigo, para corrigir o tiro, fez fogo com munições tracejantes. Como resultado, o colmo incendiou-se e o pessoal perdeu todos os seus haveres com o fogo. No dia seguinte, aparecem na sede do Batalhão [2852] o nosso Beja Santos com alguns dos seus homens, todos em cuecas. Era assim que estavam quando tinha começado o ataque.

Como a guerra ainda não se tinha alastrado ao leste, era intenção do comando de Bafatá (3)reordenar a população e constituir núcleos de auto defesa. A ideia era brilhante, cativou a população, mas não alterou em nada o curso da guerra.

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Nota de L.G.

(1) Vd. o último post, de 11 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (7): A ida ao Morés: atenção, heli, aqui tropa à rasca

(2) Comandante do Pel Caç Nat 52, destacado em Missirá a norte, de Bambadinca, no regulado do Cuor.

(3) Sede do Agrupamento 2957 (sendo o comandante o Coronel Hélio Felgas). A região leste estavva dividada em cimnco sectores, sendo o sector L1 o de Bambadinca, abrangendo o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole.

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