24 maio 2006

Guiné 63/4 - DCCLXXXVIII: Os crimes da Pide, dos comandos e dos camaradas (Pepito)

Post nº 788 (DCCLXXXVIII)

Texto do Pepito, da AD-Acção para o Desenvolvimento (Bissau):

Caro João [Tunes]:

Subscrevo o teu texto, sem retirar uma única vírgula.

Mais: o Alpoim Calvão pavoneia-se hoje aqui pela Guiné impune. Provavelmente com o beneplácito amigo de quem comungava com ele o desejo de ver Cabral ser morto. Nem coragem tem de assumir que um dos principais objectivos do Mar Verde era assassinar Cabral. Por isso mesmo bombarderam a casa dele. Não estava lá ele mas a mulher, que hoje carrega com ela sequelas físicas dessa tentativa de assassinato.

Era miúdo ainda e recordo-me de frequentemente ouvir o meu pai entrar em casa, aqui em Bissau, e dizer à minha mãe:
- A Pide matou mais um. - Normalmente um amigo ou pessoa conhecida. Tinham nessa altura o hábito de atirar as pessoas pelos poços de água adentro.

Era miúdo ainda e recordo-me do meu pai [Artur Augusto Silva] (1), que era advogado e ter defendido dezenas de pessoas acusadas de serem do PAIGC, relatar à minha mãe as atrocidades que a Pide cometia sobre os presos para os fazer confessar. Mal ele sabia que lhe iria acontecer o mesmo, poucos anos depois na prisão de Caxias.

Era já jovem, de regresso a Bissau depois da independência, e ficar siderado com os relatos que ouvia de monstruosidades cometidas por certos comandos africanos durante a luta, em que não ficavam nas tabancas testemunhas para um dia contarem.

Já mais adulto, confesso que fiquei apavorado por ver certos camaradas [do PAIGC] fazer a outros camaradas as coisas que julgava serem um exclusivo de infra-humanos e acabarem por saírem por cima, como heróis.

abraços
pepito

_________

Nota de L.G.

(1)Vd. post de 20 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)

Sem comentários: